EUA atacam Irã, e Rússia condena: há risco de 3ª Guerra Mundial?

O fim não está próximo. Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que o ataque dos Estados Unidos a instalações nucleares do Irã não deve deflagrar a Terceira Guerra mundial.

O que aconteceu

As superpotências militares não devem se engajar no conflito. Mas existe a possibilidade de o Oriente Médio ser envolvido na guerra e ter como consequência uma severa crise econômica mundial.

Mesmo com o Irã se reunindo com a Rússia, os países mais poderosos não têm interesse ou capacidade militar para iniciar um Terceira Guerra. A avaliação é de Kai Enno Lehmann, professor de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo).

O especialista divide os principais atores internacionais em dois grupos. China e Estados Unidos têm poderio militar para sustentar uma guerra em escala global, mas um conflito desta magnitude é contra seus interesses.

A Europa e a Rússia não possuem capacidade militar. Lehmann lembra que Moscou está envolvida em custosa guerra contra a Ucrânia. A Europa não tem armas em quantidade suficiente para tal empreitada.

Eu não vejo que haja interesse [na Terceira Guerra] por parte da China e por parte dos Estados Unidos. E nem há capacidade dos europeus e da Rússia em se envolver numa guerra mundial.

Kai Enno Lehmann, professor da USP

Imagem de satélite mostra região de Fordow, no Irã, depois de bombardeio dos EUA à instalação nuclear subterrânea
Imagem de satélite mostra região de Fordow, no Irã, depois de bombardeio dos EUA à instalação nuclear subterrânea Imagem: 22.jun.2025-Maxar Technologies/Handout via Reuters

China e Rússia com Irã

A Europa sequer tem consenso sobre como reagir aos ataques dos Estados Unidos. Os países do bloco se dividem entre aprovar e criticar os bombardeios. A falta de uma posição uniforme inviabiliza influenciar o conflito, explica Carolina Pavese, PhD em Relações Internacionais e professora do Instituto Mauá.

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A especialista também não acredita em Terceira Guerra Mundial. Ela lembra que as superpotências se envolveram em conflitos regionais e a presença delas não evoluiu para um confronto entre os Estados Unidos e seus adversários.

Pavese cita Síria, onde russos e americanos estiveram em lados opostos durante 16 anos. Outro exemplo é a guerra da Ucrânia, local em que os atores globais estão bastante envolvidos.

A Otan, composta por americanos e europeus, fornece armas para Ucrânia. A China dá apoio diplomático à Rússia e existe suspeita que também entregue armas. Mesmo assim, a Terceira Guerra Mundial nunca esteve no horizonte, ressalta a PhD em Relações Internacionais.

Parlamento do Irã aprovou fechar a rota marítima por onde passa 20% do petróleo mundial
Parlamento do Irã aprovou fechar a rota marítima por onde passa 20% do petróleo mundial Imagem: Hamad I Mohammed

Moderação com os Estados Unidos

Faz parte da política russa e chinesa evitar atritos com os Estados Unidos. Esta situação afasta risco da Terceira Guerra Mundial, afirma Fernando Brancoli, professor de Segurança Internacional e de Geopolítica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

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Ele ressalta que a China vai até o limite do possível. Antes dos bombardeios, o país já dava apoio logístico aos iranianos. Um exemplo, é o fornecimento de sais usados em mísseis. "No entanto, não há indicação de envio de tropas ou armas pesadas".

Moscou entrega apoio de inteligência e cibernético. Também há respaldo diplomático por parte de Moscou, como Vladimir Putin receber o chanceler do Irã. Mas ações mais robustas não estão no horizonte de russos e chineses.

Ambos evitam envolvimento direto para não arriscar suas relações com os Estados Unidos

Fernando Brancoli, professor da UFRJ

Conflito começou com ataques de Israel ao território e autoridades iranianas
Conflito começou com ataques de Israel ao território e autoridades iranianas Imagem: Reprodução

Interesses contraditórios da China

Outro fator que reduz o risco de uma guerra mundial é a situação chinesa. Dona de um grande parque industrial e vigorosa nas exportações, a China não tem interesse em afundar o mundo numa crise econômica, avalia o professor da USP Kai Enno Lehmann.

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Mas Pequim pode ganhar com um conflito envolvendo os Estados Unidos. Lehmann ressalta que a China não esconde que deseja assumir o protagonismo mundial e o Irã arrastar os americanos para uma guerra regional pode ser uma forma de enfraquecer Washington.

O raciocínio passa por uma guerra longa e custosa a exemplo do que a Rússia passa na Ucrânia. O conflito drenaria recursos e capital político dos Estados Unidos. Para isso acontecer, os iranianos precisariam de meios para lutar, como armas.

São interesses contraditórios e não é possível prever o que será feito,

Kai Enno Lehmann, professor da USP

Líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, está sob pressão para reagir aos ataques
Líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, está sob pressão para reagir aos ataques Imagem: Khamenei.ir/AFP

Próximos passos do Irã

O tamanho que a guerra tomará depende de como o Irã vai reagir. O parlamento do país aprovou o fechamento do Estreito de Ormuz. Trata-se do corredor marítimo mais importante do mundo e por onde passa 20% do petróleo mundial.

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Agora a decisão será avaliada pelo Conselho de Segurança do Líder Supremo do Irã. A efetivação da medida teria impacto global e afetaria demais o comércio internacional.

A avaliação dos especialistas é de que uma reação iraniana aos bombardeios é necessária. O governo ficará fragilizado perante os adversários se não responder aos ataques. Também existe a pressão interna para demonstrar força.

Mas fechar o Estreito de Ormuz pode comprometer a posição do Irã com aliados. A rota marítima é usada por países vizinhos e a medida dificulta a obtenção de apoio, explica a Phd em Relações Internacionais Carolina Pavese.

China, Rússia e Índia também seriam afetados. Todos são aliados e podem ser muito prejudicados com aumento estratosférico do preço do petróleo, ressalta a professora.

Pavese lembra que há alternativas. Paramilitares alinhados com o Irã devem ser acionados. Ela cita grupos que operam em países como Iêmen e Líbano. Também existe a possibilidade de Teerã abandonar tratados que regulam a produção de armas nucleares.

Donald Trump enfrentará consequências políticas e econômicas pelo ataque ao Irã
Donald Trump enfrentará consequências políticas e econômicas pelo ataque ao Irã Imagem: Saul Loeb - 20.jun25/AFP
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Implicações nos EUA

Donald Trump vai enfrentar consequências políticas e econômicas. O conflito ocorre numa região produtora de petróleo, que pode ter os preços subindo bastante, declara o professor da UFRJ Fernando Brancoli.

A situação pressiona a inflação nos Estados Unidos e existe risco de reduzir o crescimento. A possibilidade de medidas protecionistas se torna maior e pode haver pressão por corte de impostos.

O risco político é ter bombardeado o Irã sem consultar o Legislativo. Mesmo políticos do Partido Republicano foram contra o ataque. O professor Lehmann considera improvável um impeachment. Mas o descontentamento até de aliados fará o restante da administração Trump mais complicado.

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