Frio, fome, demora: o que contribuiu para morte de brasileira na Indonésia?
Ler resumo da notícia
Após a confirmação da morte da brasileira Juliana Marins, 26, em um vulcão na Indonésia, surgem as primeiras hipóteses sobre o que pode ter levado ao desfecho.
O que aconteceu
Brasileira estava desaparecida desde sexta-feira após cair de um penhasco. Ela sofreu uma queda inicial de aproximadamente 300 metros e, desde então, a sua localização estimada vinha se tornando progressivamente mais profunda, sugerindo que ela estava deslizando. Ela permaneceu no local imobilizada à espera de socorro, sem água, comida ou roupas apropriadas para o frio, segundo divulgado por veículos de imprensa locais e familiares da jovem.
Dificuldades no percurso da trilha atrasaram início do resgate, afirmou governo local. A Barsanas (Agência Nacional de Resgate da Indonésia) divulgou que a dificuldade de acesso ao local fez com que as pessoas que testemunharam a queda de Juliana levassem oito horas até conseguir avisar as autoridades sobre o acidente.
Situação se agravou com a neblina e a umidade. Além de dificultar o socorro, isso fez com que Juliana escorregasse ainda mais. De acordo com as equipes locais de resgate e familiares da brasileira, as condições climáticas adversas impediram que helicópteros e outros recursos como alpinistas profissionais fossem usados para socorrê-la.
Frio pode ter piorado estado de saúde já debilitado da jovem. Em entrevista à TV Globo, um integrante do grupo que realizava a trilha com a brasileira relatou que fazia "muito frio" no trecho onde ela caiu. Já em relato ao UOL News, Bruna Carneiro, que realizou o mesmo caminho de Juliana em junho do ano passado, confirmou que a temperatura na região cai muito à noite.
Eu fiz na mesma época do ano, em junho do ano passado. Durante o dia é um clima agradável, até se sente calor, mas durante a noite a temperatura cai muito. Por isso, a preocupação para o resgate rápido [da Juliana]. Há muito frio e vento, e tudo fica complicado, principalmente se ela não estiver com gasalho.
Bruna Carneiro, que fez trilha na Indonésia em junho de 2024
Falta de água e alimento podem ter acelerado morte. Ontem, pelo Instagram, familiares da jovem publicaram a seguinte mensagem: "Enquanto Juliana precisa de socorro, não sabemos o estado de saúde dela! Ela continua sem água, comida e agasalho há três dias!".
Irmã, Mariana, havia dito que seria ''absurdo se ela morresse por falta de socorro''. "Ela vai passar mais uma noite sem comida porque a equipe simplesmente não consegue chegar até ela. Então, está muito complicado. A gente segue aqui na expectativa e pedindo mais agilidade. Tudo que a Juliana precisa é de agilidade, velocidade", disse ontem ao UOL News.
Guia negou 'abandono'
As primeiras repercussões locais sobre o acidente diziam que brasileira havia sido abandonada pelo grupo que a acompanhava no percurso. Veículos de imprensa da Indonésia divulgaram no último fim de semana que ela teria sido deixada para trás na sexta-feira (20) após manifestar cansaço ao guia da trilha.
O guia, porém, negou a informação. O profissional Ali Musthofa, que prestou depoimento à polícia no domingo, após descer da montanha, afirmou ao jornal O Globo ter sugerido que Juliana descansasse enquanto ele e o restante do grupo seguissem um pouco adiante. O combinado, segundo Musthofa, era reencontrá-la um pouco mais à frente na trilha.
Tropeço causou queda da brasileira. Segundo divulgado por autoridades locais, Juliana teria tropeçado e escorregado. Em seguida, ela teria rolado da montanha, parando 300 metros abaixo do caminho do percurso original, no vulcão Rinjani, na ilha de Lombok. Com isso, ficou debilitada e não conseguia se levantar.
Caminho era "difícil e escorregadio", relatou integrante do grupo de Juliana. À TV Globo, outro trilheiro afirmou que a brasileira estava na retaguarda do grupo, acompanhada do guia. Em seguida, relatou sobre o momento do acidente: "Era bem cedo, antes do amanhecer, com visibilidade ruim, usando só uma lanterna simples para iluminar o caminho, que era difícil e escorregadio".
Morte foi confirmada hoje
Informação sobre morte de Juliana veio após o quarto dia de tentativa de resgate da brasileira. "Com imensa tristeza, informamos que ela não resistiu", divulgou a família pelas redes sociais. Poucas horas antes, o Ministério do Turismo daquele país afirmou que ela estava em "estado terminal", segundo avaliação das equipes de busca.
Ainda não há informações sobre se as equipes de busca continuarão os esforços para recuperar o corpo. Sete socorristas se aproximaram do ponto onde a brasileira está, mas armaram um acampamento móvel porque estava anoitecendo. A informação foi publicada pela administração do parque nas redes sociais hoje.
Governo brasileiro lamentou morte e informou que corpo foi encontrado pelas equipes de resgate. Segundo o órgão, as buscas foram dificultadas pelas "condições meteorológicas de solo e de visibilidade adversas".
Pai de Juliana está a caminho de Bali. Manoel Marins disse nas redes sociais que estava partindo de Lisboa para o país asiático por volta das 8h (horário de Brasília). Ele chegou ao aeroporto português ontem, mas não conseguiu voar devido a bombardeios da guerra entre Israel e Irã que fecharam aeroportos no Oriente Médio.
Parentes agradeceram pelo apoio das pessoas nas redes sociais. O perfil criado para compartilhar informações sobre o resgate da brasileira ganhou 1,5 milhão de seguidores em quatro dias.
Seguimos muito gratos por todas as orações, mensagens de carinho e apoio que temos recebido.
Família de Juliana, em publicação nas redes sociais
A Indonésia não se pronunciou oficialmente até o momento e a causa da morte de Juliana ainda não foi confirmada. O Ministério do Turismo do país foi procurado pelo UOL e o espaço será atualizado se houver posicionamento. Leia mais sobre o caso aqui.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.