Especialista cita demora em resgate de brasileira e 'amadorismo' de parque

A brasileira Juliana Marins, 26, que caiu durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, morreu. A informação foi confirmada pela família dela nas redes sociais e pelo Itamaraty. Especialista cita "amadorismo" na operação do parque e diz que resgate demorou tempo demais.

'Risco era previsível'

Geólogo concorda que fatores climáticos foram agravantes do resgate, mas cita "amadorismo" do parque. Marcelo Gramani, da seção de Investigações, Riscos e Gerenciamento Ambientado do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), que trabalha em conjunto com a Defesa Civil de São Paulo, diz que o parque deveria ter um plano —inclusive, mais rápido— para agir em situações como essa.

É um risco previsível. Não dá para dizer que é uma surpresa. E a partir do momento em que você tem um atrativo para turistas, em uma trilha, o responsável precisa ter um planejamento. Marcelo Gramani, geólogo do IPT

Para ele, parque demorou para resgatá-la. "Por mais que o acesso seja difícil, o responsável pelo parque precisa apresentar alternativas de resgate. Já passou tempo demais para deixar alguém isolado", explica Gramani.

Mídia da Indonésia diz que o parque é um dos destinos favoritos de alpinistas de todo o mundo. "No entanto, seu terreno irregular e clima imprevisível frequentemente representam desafios extremos, mesmo para alpinistas experientes", escreveu o site do país Tempo.

É a margem de um vulcão, que tem um terreno instável, então, não deveria ser uma surpresa alguém escorregar. Isso deveria estar no procedimento preventivo de emergências. De longe, percebo um amadorismo. Marcelo Gramani

Geólogo concorda que drones poderiam ter ajudado na operação. "Hoje, os bombeiros têm drones que conseguem levar a boia em situações de afogamento. Então, um drone adaptado poderia ter levado alimentos para ela, mas não sabemos se eles possuem equipamentos", diz.

Histórico de acidentes

Turistas já morreram no local. Em maio, um turista malaio de 57 anos morreu no Rinjani depois de uma queda enquanto o escalava. Em 2022, um português também morreu após despencar de um penhasco no seu cume, segundo a BBC. Já em 2012, um grupo de sete estudantes morreu durante uma escalada.

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Em 2018, um terremoto de magnitude 6,4 atingiu a região do vulcão, o que levou a desabamentos nas trilhas e 17 mortes. Mais de 330 pessoas ficaram feridas, estimou a imprensa internacional e as autoridades na época. A maioria era de turistas.

Viajantes se surpreendem com dificuldades dos passeios pelo Rinjani. Segundo relatos na plataforma TripAdvisor, as caminhadas e escaladas exigem muito fisicamente e são perigosas, especialmente por causa de ventos fortes. Por isso, os mais experientes só recomendam encarar o Rinjani se houver preparo físico, embora muitos reclamem do que consideram falta de segurança e infraestrutura do parque.

Trilhas duram de um a cinco dias, dependendo do roteiro. Alguns levam até a borda da cratera vulcânica, de onde as vistas seriam privilegiadas.

Juliana Marins caiu em trilha do vulcão Rinjani, na Indonésia
Juliana Marins caiu em trilha do vulcão Rinjani, na Indonésia Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Por que resgate era tão complexo

Especialistas citam características da região como principais agravantes. Ion David, especializado em segurança de trilhas e guia de turismo da Associação Veadeiros, de Goiás, afirma que a parte em que Juliana caiu não era fácil de ser acessada devido ao terreno íngreme e pelo clima na região.

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Resgate com helicóptero é possível, mas acúmulo de névoa impediu seu uso. A administração do parque afirmou que o governo local incentivou o uso do resgate aéreo, principalmente nas primeiras 72 horas após o incidente, mas disse que era necessário um helicóptero específico, com um guincho que pudesse transportar pessoas e cargas para áreas de difícil acesso.

Não é um lugar que a gente chega caminhando. Neste caso, a equipe precisa usar cordas e técnicas verticais para acessar o local. A outra situação que complica é o clima: lá tem muita neblina. E não dá para visualizar nada. Geralmente, no fim de tarde baixa a neblina e é necessário parar o resgate. Ion David, especializado em segurança de trilhas

Drone poderia ajudar a levar alimentos e bebidas para a brasileira. No entanto, David explica que o equipamento teria de ser um modelo específico para levar os itens, que nem sempre as equipes de resgate têm à disposição. "Se eles tivessem um drone grande, que carregasse esse tipo de peso, talvez fosse possível usá-lo", diz.

Juliana já tinha passado pelas Filipinas, Vietnã e Tailândia durante o mochilão
Juliana já tinha passado pelas Filipinas, Vietnã e Tailândia durante o mochilão Imagem: Reprodução / Redes Sociais

O que aconteceu

Informação sobre morte veio após o quarto dia de tentativa de resgate da brasileira. "Com imensa tristeza, informamos que ela não resistiu", afirmou a família. Poucas horas antes, o Ministério do Turismo daquele país afirmou que ela estava em "estado terminal", segundo avaliação das equipes de busca.

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Ainda não há informações sobre se as equipes de busca continuarão os esforços para recuperar o corpo. Sete socorristas se aproximaram do ponto onde a brasileira está, mas armaram um acampamento móvel porque estava anoitecendo. A informação foi publicada pela administração do parque nas redes sociais hoje.

Governo brasileiro lamentou a morte e informou que corpo de Juliana foi encontrado pelas equipes de resgate. Segundo o órgão, as buscas foram dificultadas pelas "condições meteorológicas de solo e de visibilidade adversas".

Pai de Juliana está a caminho de Bali. Manoel Marins disse nas redes sociais que estava partindo de Lisboa para o país asiático por volta das 8h (horário de Brasília). Ele chegou ao aeroporto português ontem, mas não conseguiu voar devido a bombardeios da guerra entre Israel e Irã que fecharam aeroportos no Oriente Médio.

Parentes agradeceram pelo apoio das pessoas nas redes sociais. O perfil criado para compartilhar informações sobre o resgate da brasileira ganhou 1,5 milhão de seguidores em quatro dias.

Indonésia não se pronunciou oficialmente até o momento. O Ministério do Turismo do país foi procurado pelo UOL e o espaço será atualizado se houver posicionamento.

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