Como polícia britânica resolveu 'cold case' de quase 60 anos

Ryland Headley, 92, foi declarado culpado pela Justiça do Reino Unido e condenado a prisão perpétua por estuprar e assassinar uma idosa de 75 anos em 1967 —à época, Headley tinha 34. O caso, cujo desfecho aconteceu somente nesta semana, foi durante anos um dos principais "cold cases" britânicos.

O que aconteceu

Louisa Dunne foi encontrada morta em sua casa, em junho de 1967. Ao longo da investigação, as autoridades identificaram que ela havia sido estuprada e estrangulada. Durante as primeiras etapas do processo, a polícia encontrou a impressão da palma de uma mão esquerda na janela de um quarto da casa da vítima.

Impressão digital foi comparada com as de 19 mil homens. Porém não houve resultados positivos. À época, Headley trabalhava na ferrovia e vivia fora da área onde foi solicitado a homens e jovens que fornecessem suas impressões digitais. Após ficar sem pistas, a polícia armazenou as provas forenses por mais de 50 anos.

Louisa Dunne foi encontrada morta em sua casa, na Britannia Road, em Bristol
Louisa Dunne foi encontrada morta em sua casa, na Britannia Road, em Bristol Imagem: Divulgação/Avon and Somerset Police

Caso foi reaberto em 2023. O caso passou a ser analisado pela Equipe de Revisão de Crimes Graves (MCRT, na sigla em inglês). A equipe é responsável pela revisão de todas as investigações de assassinato não solucionadas no Reino Unido.

Especialistas revisaram 20 caixas com materiais originais do caso. Também avaliaram 1.300 depoimentos da época. Segundo comunicado oficial publicado pela Avon and Somerset Police, a polícia civil local, a MCRT enviou uma série de objetos relacionados ao caso para novas análises forenses.

Entre os itens, estava a saia azul que Louisa usava no momento do crime. Segundo o jornal britânico The Guardian, os especialistas encontraram vestígios de sêmen na peça de roupa. O material genético também foi encontrado em fios de cabelo de Louisa coletados após sua morte.

DNA encontrado na saia e no cabelo foi comparado ao banco de dados nacional. Os resultados correspondiam a Ryland Headley, cujo perfil foi inserido no sistema em 2012, após um incidente sem relação ao caso de Louisa. "[O resultado tem] uma probabilidade um bilhão de vezes maior do DNA ser de Ryland Headley do que de qualquer outra pessoa", diz o comunicado.

Saia que Louisa usava no momento em que foi atacada passou por nova análise
Saia que Louisa usava no momento em que foi atacada passou por nova análise Imagem: Divulgação/Avon and Somerset Police
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Já sob custódia, Headley teve as impressões digitais coletadas novamente. A impressão da palma da mão do acusado correspondeu com as marcas encontradas pela polícia na janela da casa de Louisa logo após o crime. Segundo o The Guardian, Elizabeth Hobbs, especialista em impressões digitais que trabalha com a polícia local, relatou ao júri que comparou a impressão de Headley com a encontrada na casa da vítima. De acordo com Elizabeth, foram identificadas mais de 25 características compartilhadas pelas duas marcas.

Prisão perpétua aos 92 anos

Na última segunda-feira, Headley foi considerado culpado por um júri no Tribunal da Coroa de Bristol. Ele recebeu a sentença de prisão perpétua, com pena mínima a ser cumprida de 20 anos. O juiz responsável pela leitura da sentença disse que Headley demonstrou "completo desrespeito pela vida e dignidade humanas", explorando a vulnerabilidade de Louisa e submetendo-a a um "ato cruel e impiedoso".

Principal oficial da investigação disse que resolução do caso foi "única". "Estou orgulhoso do profissionalismo, cuidado e dedicação demonstrados por todos os envolvidos neste resultado bem-sucedido, que demonstra o que é possível quando novas e antigas técnicas policiais são combinadas", declarou Dave Marchant ao portal da polícia local.

Louisa na década de 1920 (à esquerda), na década de 1930 (à direita) e em idade mais avançada (no centro)
Louisa na década de 1920 (à esquerda), na década de 1930 (à direita) e em idade mais avançada (no centro) Imagem: Divulgação/Avon and Somerset Police

Em 1977, Headley já havia cumprido uma pena de prisão por estuprar duas mulheres idosas. Segundo a Avon and Somerset Police, uma das vítimas tinha quase 70 anos e a outra, mais de 80. À época, Headley confessou estes dois crimes. A polícia agora está investigando outros possíveis casos não resolvidos que poderiam estar relacionados a ele.

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Ao ser preso em novembro do ano passado, o acusado negou envolvimento no caso de Louisa. "Não sei do que estão falando", disse. Ao longo de seu julgamento, Headley seguiu negando todas as acusações.

Após a condenação de Headley, Mary Dainton, neta de Louisa, disse que a morte de sua avó teve "um impacto profundo em toda minha família". "Eu tinha apenas 20 anos quando minha avó morreu, e agora tenho quase a mesma idade que ela tinha quando foi assassinada", disse, na porta do tribunal onde o julgamento ocorreu.

*Com informações da AFP

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