Topo

A vitória de Trump lança o mundo em uma perigosa instabilidade

O republicano Donald Trump foi eleito o 45º presidente da história dos EUA - Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
O republicano Donald Trump foi eleito o 45º presidente da história dos EUA Imagem: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP

Roland Nelles

09/11/2016 18h21

Com a vitória de Donald Trump, o mundo passa a entrar em uma nova e perigosa fase de instabilidade. Para cumprir suas promessas de campanha, ele precisará de parceiros. Mas não há nenhuma indicação de que o presidente eleito esteja interessado em soluções construtivas.

Realmente aconteceu. Ele conseguiu. Donald Trump provou que todos os especialistas estavam errados. Todas as previsões supostamente certeiras de que ele não poderia se tornar presidente dos Estados Unidos foram reduzidas ao absurdo. Um homem que insulta estrangeiros, mulheres e pessoas com deficiências, que prega o ódio e esnoba os parceiros mais importantes dos Estados Unidos, comandará o país mais poderoso da Terra. É uma catástrofe política.

O populismo grosseiro triunfou sobre a razão. O sucesso de Trump é um choque para todos aqueles que contavam com o bom senso político dos eleitores americanos. O magnata do setor imobiliário prometeu aos americanos uma mudança política fundamental e uma maioria --ainda que estreita-- foi atrás de suas promessas.

Os eleitores americanos optaram pela mudança, embora ninguém saiba que cara ela terá. Considerando as declarações islamofóbicas, nacionalistas e cheias de ódio dadas por Trump durante a campanha eleitoral, somente uma coisa pode ser dita com certeza: não vai ser boa.

Trump marcou pontos com slogans odiosos contra o chamado establishment político e a mídia. Ele conquistou uma classe média branca que foi desestabilizada pela globalização. "Só eu posso consertar isso", era o lema de sua campanha. É uma frase arrogante, uma promessa vazia.

O que é certo é que Trump, sozinho, não será capaz de resolver os problemas enfrentados pelos Estados Unidos e por aqueles de um mundo altamente complexo. Aqueles que acreditam que ele será [capaz] terão somente a si mesmos para culpar.

O mundo entra em uma nova fase

Um presidente que queira tornar a vida dos cidadãos melhor e mais segura deve procurar reconciliação e diálogo com outros países e culturas. Ele precisa de parceiros. Nada disso parece interessar a Trump. Trump é um destruidor, um divisor. Uma análise de sua biografia e de sua campanha eleitoral mostra que ele não está interessado em soluções construtivas, não está em busca de reconciliação. Ele só quer, de forma egoísta e pretensiosa, impor seus interesses nacionalistas e de seus apoiadores.

O mundo e os Estados Unidos agora estão ameaçados por uma perigosa fase de instabilidade. Donald Trump quer tornar os Estados Unidos "grandiosos" novamente. Se cumprir seus pronunciamentos, ele agirá de forma impiedosa. Ele quer expulsar 11 milhões de imigrantes do país, renegociar todos os grandes acordos comerciais e fazer com que importantes aliados como a Alemanha paguem por proteção militar americana. Isso desencadeará conflitos significativos, incitará novas rivalidades e motivará novas crises.

A pergunta mais importante agora é: será que o sistema americano de equilíbrio de poderes entre as instituições conseguirá evitar que um homem que fala como um autocrata governe como um? E será possível controlar Trump com um Congresso republicano?

A democracia americana agora enfrentará um teste importante. Teme-se que Trump fará de tudo para derrotar seus adversários. Ele ameaçou jornalistas que o criticaram durante sua campanha. Seus seguidores gritaram "coloque-a na cadeia", referindo-se à sua oponente Hillary Clinton. Uma retórica como essa deixa marcas, ainda que ele tenha usado um tom mais conciliatório em seu discurso de vitória.

É claro que ainda há a esperança de que o sistema político seja forte o suficiente para refrear um presidente com fantasias absolutistas. Mas não há garantia de nada.