Não se sabe quais esperanças Romney pode dar ao mundo; Obama ainda é a melhor opção

Lluís Bassets

  • Shannon Stapleton/Reuters

    Barack Obama (à direita) e Mitt Romney durante debate eleitoral nos Estados Unidos

    Barack Obama (à direita) e Mitt Romney durante debate eleitoral nos Estados Unidos

A esperança não é uma estratégia. Esta é uma das frases cunhadas pela equipe de Mitt Romney para a última etapa da campanha presidencial. Contém uma resposta para a ousadia da esperança que deu título ao best-seller de Barack Obama, publicado em 2006 para lançar sua candidatura presidencial, e também ao cartaz desenhado por Shepard Fairy para a campanha de 2008, onde aparece a palavra "hope" (esperança) e um rosto de Obama inspirado nos cartazes de propaganda socialista.

A censura vale tanto para a política interna como para a externa. As extraordinárias esperanças levantadas na eleição de 2008 foram decepcionadas. Obama não conseguiu a presidência transformadora que muitos esperavam. Especialmente no cenário internacional. Lembremos o prêmio Nobel da Paz, prematuramente concedido, que deu origem a um discurso realista de Obama, nada pacifista e em defesa da guerra justa.

A estratégia da esperança de Obama se implementou em forma de discursos muito bem pensados e escritos e ainda melhor pronunciados em Berlim ou em Praga, em Ancara ou no Cairo, nos quais prometeu o desarmamento nuclear, a redução de emissões para a atmosfera, a reconciliação dos EUA com o islã e com os países árabes e a solução do conflito entre Israel e Palestina, além de cumprir suas promessas de retirada do Iraque e de renovar a estratégia no Afeganistão.

Eleições 2012 nos EUA
Eleições 2012 nos EUA

O balanço que apresenta agora, a poucos dias da eleição, não é exatamente brilhante. Nada avançou entre israelenses e palestinos, pelo contrário. O Iraque está passando para o lado obscuro depois da saída das tropas americanas. As coisas só se complicam no Afeganistão e Paquistão, sobre as ruínas do pacote denominado Afpak com o qual Obama pretendia encontrar a solução para a instabilidade em toda a zona.

Avança a ameaça de um Irã nuclearizado, com capacidade para entrar em ressonância com uma guerra civil declarada na Síria, na qual Washington não consegue encontrar margens de ação. E para a sobremesa só faltava o golpe que significou a morte do embaixador Christopher Stevens e outros três funcionários americanos na Líbia, pelas mãos de um grupo terrorista ligado à Al Qaeda.

Romney perdeu uma oportunidade de ouro com o ataque de Benghazi. Sua penosa reação, fruto dos reflexos partidários e das baixas paixões políticas, o impediu de ver que tinha na mão um projétil letal: a morte de um embaixador dos EUA em um ataque terrorista e em data tão marcante quanto 11 de setembro neutralizava o êxito que significou para Obama a liquidação de Bin Laden, demonstrava que a Al Qaeda está viva e destrói inclusive a sensação de invulnerabilidade criada por George W. Bush depois dos atentados de 11-S, que havia preservado da ação terrorista durante 11 anos todo o território dos EUA, incluindo embaixadas e consulados.

Não foi precisamente a política externa onde Romney movimentou melhor sua campanha. Tem sua lógica. Os votos são disputados na política interna e sobretudo na economia. É um paradoxo, porque onde o presidente molda sua presidência e tem maiores margens é na ação da superpotência no mundo. Além disso, são poucas as diferenças reveladas até agora, apenas de ênfase: Romney adere a uma imagem exterior mais dura e ameaçadora, enquanto Obama persiste em seu realismo político e uma certa modéstia diante da necessidade de contar com os novos países emergentes. Há antecedentes: as mudanças em política externa entre Bush e Obama não foram tão bruscas quanto se esperava e inclusive há continuidades (Guantánamo continua aberta e há terroristas sem julgamento) e inclusive intensificações (os assassinatos seletivos com teleguiados aumentaram nesta presidência). 

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Mesmo assim, é preciso atender ao entorno de Romney, onde pululam os neocons e os falcões da segurança, cada um com seu livrinho, para perceber que poderiam retornar ideias hoje descartadas, como é o caso dos interrogatórios reforçados implantados por Bush: já existe um memorando republicano a respeito. Esse tipo de política antiterrorista tem efeitos exemplares e repercutem negativamente no respeito aos direitos humanos no mundo. O mesmo se pode dizer das ideias sobre a interrupção da gravidez de Romney: embora tenha prometido não legislar contra, sua chegada ao poder abriria as portas para uma mudança conservadora na Suprema Corte e uma renovação da famosa sentença Roe vs. Wade de 1973. O efeito internacional não demoraria a chegar.

A política deve servir para dar esperanças. Esperanças efetivas, não falsas esperanças, mas esperanças afinal. Não se sabe que esperanças Romney pode dar ao mundo. Obama ainda pode. E a esperança deve fazer parte de sua estratégia.
 

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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