Números da Capela Sistina: conclave já durou de dez horas a três anos

Carlos Laorden

Em Madri (Espanha)

O conclave, uma eleição que surgiu em plena Idade Média, se realiza seguindo um ritual milenar, milimetricamente pautado. Mas existe um aspecto que sempre fica em aberto: sabe-se quando começa --neste caso hoje, terça-feira- -, mas nunca quando acabará.

Conclave para escolha do novo papa
Conclave para escolha do novo papa

Ao longo da história, cada colégio cardinalício seguiu seu próprio ritmo, embora as últimas eleições tenham sido especialmente rápidas.

Escolha do novo papa

  • Veja todos os passos do conclave

  • Número de católicos no mundo

  • Glossário da Igreja Católica

  • Duração dos últimos conclaves

  • Papas da ficção

Bento 16 foi eleito na quarta votação, e João Paulo 2º, na oitava. E, com exceção do que elegeu Pio 10º em 1903 (24 dias), os 11 conclaves desde 1830 duraram cinco jornadas ou menos. Pio 12, por exemplo, foi eleito no primeiro dia, na terceira votação, à véspera da Segunda Guerra Mundial.

A duração dos conclaves é condicionada pelas circunstâncias políticas de cada século. No 17, por exemplo, a duração média foi de 39 dias. No 18, entretanto, em plena formação dos Estados modernos com os monarcas absolutos, as nove eleições papais duraram 94 dias, em média. As tentativas da realeza de influir nos princípios da Igreja Católica tiveram muito a ver com o prolongamento das votações. Em 1740, os cardeais chegaram a levar 181 dias para eleger Bento 14.

O conclave mais longo da história foi exatamente o que deu origem ao conceito. Depois da morte de Clemente 4º, em 1268, os cardeais se encontraram em Viterbo para eleger seu sucessor. As deliberações se estenderam tanto que os moradores decidiram racionar sua alimentação. Demoraram três anos para entrar em acordo e sentar Gregório 10º no trono.

Foi esse papa quem, atormentado pela espera, decidiu no 2º Concílio de Lyon, em 1274, que no sucessivo os cardeais fossem encerrados com chave ("cum clavis") até que decidissem.

Em comparação com esse eterno período de deliberações, Júlio 2º, o cardeal Giuliano della Rovere, foi eleito em 1503 no conclave mais curto da história, de apenas dez horas.

O número de cardeais eleitores, que variou notavelmente, também teve sua influência na duração. Do eterno conclave de 1268 a 1271 só participaram 18 --11 eram de territórios da atual Itália--, e na eleição relâmpago que coroou papa Júlio 2º no "Cinquecento" houve 40 eleitores, com 24 italianos. Com menos participantes, maior a dificuldade de alcançar a maioria de dois terços.

No corpo eleitoral que nomeará o sucessor do aposentado Bento 16, a Igreja da Itália continuará sendo a mais representada, embora esse domínio tenha diminuído pouco a pouco.

Entre os 115 cardeais que farão parte das votações há 28 italianos. A presença de 11 africanos e 33 americanos (14 da América do Norte e 19 da Latina) era algo impensável há um século. Entre os 57 cardeais que entronizaram o Bento anterior, em 1914, havia 55 europeus (33 italianos), um norte-americano e outro latino-americano.

Durante o século 20, a inclusão de eclesiásticos de todo o mundo no colégio cardinalício e o aumento da expectativa de vida fizeram que houvesse cada vez mais eleitores. Por isso, as últimas modificações das normas estabeleceram algumas limitações a respeito. Em 1978, Paulo 6º decidiu restringir a idade --só os menores de 80 anos poderiam votar.

Isso não representará um problema para Baselios Thottunkal, 53, da Índia, o mais jovem do colégio, mas esteve prestes a sê-lo para o cardeal mais velho. O alemão Walter Kasper entrará no conclave por um fio, com 80 anos completados na última terça-feira (5).

Isso só será possível graças a uma das muitas modificações que João Paulo 2º introduziu nas regras em 1996. Paulo 6º havia definido o limite de 80 anos completados no dia da abertura do conclave, mas Karol Wojtyla (o papa João Paulo 2º) preferiu que a idade fosse medida no momento em que a sé fica vaga. Curiosamente, tirando João Paulo 1º e Pio 8º --com pontificados tão curtos que não tiveram tempo--, todos os papas desde 1800 quiseram mudar as regras do jogo.

O pontífice polonês, em sua reforma das normas, também decidiu que o lugar das votações deveria ser obrigatoriamente a Capela Sistina. Assim foi, de fato, desde 1878, mas, antes, conclaves já tinham sido realizados em outros lugares do Vaticano, em outras igrejas romanas ou mesmo fora da Itália.

  • 6426
  • true
  • http://noticias.uol.com.br/enquetes/2013/03/02/qual-assunto-polemico-o-proximo-papa-deveria-tornar-prioridade-em-sua-gestao-a-frente-da-igreja-catolica.js

Foram 28 eleições papais fora de Roma, a maioria antes de 1400, em lugares como Constança (Alemanha), Lyon (França) ou Nápoles (Itália). O último papa eleito fora da capital italiana foi Pio 7º. Aquele conclave de 1800 teve de se realizar em Veneza, depois que Napoleão ocupou Roma e os Estados Pontifícios.

Talvez para evitar que idosos de quase 80 anos permanecessem trancados durante dias em uma capela, João Paulo 2º também abrandou algumas restrições do conclave e, como já ocorreu em 2005, desta vez os cardeais só terão que ir à capela para votar. Enquanto isso, se hospedarão na renovada Residência de Santa Marta, no Vaticano.

Outra das mudanças de Wojtyla teve a ver com as maiorias. Ao longo da história dos conclaves, foram necessários dois terços dos votos ou, à falta deles, designar o pontífice por aclamação --se os cardeais indicassem em uníssono o eleito sem ter que votar em segredo. A Constituição apostólica Universi Dominici Gregis, de 1996, proibiu a eleição por aclamação, mas introduziu a maioria absoluta a partir da 30ª votação.

As votações são organizadas em blocos. No primeiro dia só se vota à tarde, e a partir de então é preciso fazê-lo duas vezes de manhã e outras duas à tarde. Se no terceiro dia não houver fumaça branca, se faz um descanso de um dia. Então se realizam até três séries de sete escrutínios, com uma pausa entre cada série.

João Paulo 2º deu validade à maioria absoluta. Bento 16, entretanto, contrariou seu antecessor em 2007 e estabeleceu os dois terços como maioria necessária em qualquer caso. Mas, em previsão de um conclave longo, estabeleceu que, ao concluir sem êxito essas séries de sete votações, se passará a eleger só entre os dois candidatos mais votados previamente.

Depois de um longo pontificado, como foi o do polonês (quase 28 anos), a maior parte dos cardeais que elegem seu sucessor costuma ter sido nomeada por ele. Assim ocorreu em 2005; todos --exceto Ratzinger e outros dois- - tinham sido nomeados por Wojtyla. Nessa ocasião, por sua vez, a coisa está mais igualada: 65 eleitores foram elevados por Ratzinger, contra 50 de João Paulo 2º.

Embora teoricamente os candidatos a papa sejam todos os homens batizados, os cardeais vêm elegendo um de seus pares desde 1378, quando converteram o monge Bartolomeo Prignano em Urbano 6º.

Um ditado Vaticano ("Quem entra no conclave papa costuma sair cardeal") afirma que ser favorito não é nenhuma garantia. Entretanto, desde o século 20 a grande maioria dos eleitos esteve entre os candidatos antes do conclave. Dos nove pontífices que houve desde então, só as aparições de João 23 e João Paulo 2º na sacada da praça de São Pedro causaram verdadeira surpresa.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos