Papa quer abrir arquivos do Vaticano sobre a ditadura argentina

Carlos E. Cué

Em Buenos Aires (Argentina)

  • Tony Gentile/Reuters

O papa Francisco está muito ligado à Argentina, recebe pessoas relevantes desse país toda semana e tem um papel destacado, na sombra, na política de seu país natal. Agora Francisco decidiu ter um grande protagonismo no assunto mais delicado: o dos desaparecidos da ditadura.

O colaborador mais próximo do papa, Guillermo Karcher, o homem que ele costuma utilizar para enviar suas mensagens à Argentina, confirmou em uma entrevista à Rádio América que Francisco está disposto a abrir os arquivos da Igreja Católica sobre a ditadura argentina e já está sendo elaborada uma fórmula para isso.

A igreja foi chave porque era o lugar aonde chegavam as denúncias das mães e parentes de desaparecidos, e é provável que também se tenham conservado as gestões feitas pelos religiosos junto ao regime militar.

Na semana passada, Ángela Boitano, presidente da Agremiação de Familiares de Detidos e Desaparecidos por razões políticas, foi recebida pelo papa e anunciou que Francisco lhe garantiu que os arquivos serão abertos. Mas o Vaticano não quis confirmar nem desmentir.

Agora chega a confirmação oficial através de Karcher, responsável pelo Protocolo e na realidade o homem mais próximo de Francisco. "O desejo do papa é que se faça algo, e para tanto encarregou a Secretaria de Estado e se começou a trabalhar no tema da desclassificação dos arquivos do Vaticano relacionados à ditadura argentina", disse Karcher na rádio.

Essa associação acredita que o papa irá mais longe e colaborará para que a igreja argentina faça uma verdadeira autocrítica de seu papel na ditadura, quando muitos religiosos colaboraram com o regime, cujos dirigentes se declaravam católicos.

O papa, assim que foi eleito, recebeu críticas por sua atitude em 1976 em relação aos religiosos de sua congregação que foram sequestrados e depois libertados. Ele sempre afirmou que fez o possível para ajudá-los. "A vontade política do papa é clara, ele vai abrir os arquivos e promover a autocrítica", afirma Graciela Lois, uma das fundadoras da entidade que reclama a abertura dos arquivos.

"Boa parte da igreja, não exatamente Bergoglio, foi cúmplice da ditadura. A autocrítica é uma necessidade. Cremos que será feita. E confiamos em que a abertura de arquivos será útil para conhecer a verdade. Já foram abertas algumas coisas, e se houver um pedido de um juiz estão dispostos. O importante é que agora será feita de maneira generalizada. Dizem que estão dedicados a isso", afirma Lois. Por outro lado, o papa promove a beatificação de alguns padres assassinados pela ditadura.

Karcher afirmou que a abertura de arquivos é um "trabalho muito sério, que é ordenar todo o arquivo vaticano para que façam uma busca e se possa ajudar muita gente". "Vai levar tempo", admitiu, mas "o bonito é trazer à luz muitas situações que ficaram sem explicação."

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

Fotos registram 'ausências' de famílias de desaparecidos políticos
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