EUA já fracassaram cinco vezes ao propor paz entre Israel e palestinos

Quando secretário de Estado americano, John Kerry, conseguiu com que Israel e a Autoridade Palestina retomassem as negociações de paz sob a supervisão dos Estados Unidos em agosto de 2013, havia estabelecido a data de 29 de abril de 2014 para a conclusão de um acordo. Mas, uma semana antes do fim desse prazo de nove meses (considerado pouco realista), após o anúncio da reconciliação entre a Autoridade Palestina e o Hamas, Israel suspendeu as negociações.

Já Kerry foi alvo de intensas críticas depois de ter dito a palavra "apartheid" durante uma conversa sobre o conflito entre Israel e Palestina.

Antes de John Kerry, três presidentes americanos já haviam se arriscado a estabelecer uma data final de negociações, todas as vezes sem sucesso. Apesar de progressos pontuais e inúmeros fracassos, os dois lados nunca assinaram um acordo global.

1993: Acordos de Oslo 

Os Acordos de Oslo, ratificados no dia 13 de setembro de 1993, continuam sendo o quadro de referência para o processo de paz, mais de vinte anos depois. Reunidos pelo presidente americano Bill Clinton, Itzhak Rabin, primeiro-ministro de Israel, e Yasser Arafat, presidente do comitê executivo da Organização de Libertação da Palestina (OLP), aceitaram trabalhar juntos em possibilidades. O acordo previa a abertura de um período interino de cinco anos, ao longo do qual os fundamentos de uma resolução definitiva do conflito deveriam ser criados.

Mas a lua-de-mel não durou. O assassinato de Rabin em 1995 e a chegada ao poder da direita israelense fragilizaram as conquistas de Oslo. Após uma renegociação em 1999 em Sharm El-Sheikh, no Egito, o período interino de cinco anos terminou sem resultados. Os acordos de Oslo foram definitivamente enterrados com o início da Segunda Intifada em 2000, dois meses após o fracasso da cúpula de Camp David (Estados Unidos) sobre o estatuto definitivo dos territórios palestinos.

2002: Plano para um Estado palestino em 2005

Ao apresentar seu plano para o Oriente Médio, George W. Bush pediu pela substituição de Yasser Arafat à frente da Autoridade Palestina e pediu pela criação de um Estado palestino dentro de um prazo de três anos. Algo inédito para um presidente americano.

O Quarteto (Estados Unidos, Rússia, União Europeia e ONU) adotou para si esse segundo ponto. Em seu plano ratificado no ano seguinte em Akaba (Jordânia), estava prevista a obtenção em etapas da criação de um Estado palestino. O documento foi assinado pelos primeiros-ministros israelense Ariel Sharon – com reservas sobre os assentamentos – e palestino Mahmoud Abbas, na presença do presidente americano George W. Bush.

Mas, muito rapidamente, as discussões estagnaram e a demissão de Abbas, no dia 6 de setembro, sinalizou a suspensão da aplicação desse plano de paz.

2007: Em Annapolis, princípio de solução até o final de 2008

A convite de George W. Bush, israelenses e palestinos voltaram a se encontrar em Annapolis, nos Estados Unidos, em novembro de 2007. Os aliados árabes dos Estados Unidos estiveram presentes pela primeira vez à mesa de negociações. O premiê israelense, Ehud Olmert, e Mahmoud Abbas se comprometeram a chegar a um acordo de paz até o final de 2008, como parte da aplicação do "plano de paz". O Hamas, que agora controlava Gaza, avisou logo de início que não respeitaria o resultado das negociações, qualquer que fosse ele.

Durante dezenas de sessões, os participantes tiveram avanços na troca de territórios na Cisjordânia, mas sem chegar a nenhuma conclusão. A Autoridade Palestina por fim se retirou das negociações, em protesto contra a operação militar israelense (dezembro de 2008-janeiro de 2009), iniciada na Faixa de Gaza.

 

2010: Obama defende a criação de um Estado palestino soberano em 2011

Falando perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente americano afirmou em setembro sua esperança de ver concluído "dentro de um ano um acordo que resultasse na admissão de um novo Estado-membro das Nações Unidas, um Estado independente e soberano da Palestina, vivendo em paz com Israel". Essas declarações ocorreram um ano após o discurso do Cairo, considerado muito voluntarista, no qual ele afirmava que os Estados Unidos "não aceitavam a legitimidade da continuidade da colonização israelense."

Mas essas declarações ocorreram ao mesmo tempo em que o senador americano Mitchell, nomeado enviado especial ao Oriente Próximo, voltava aos Estados Unidos após dois anos de consultas sem resultados.

2013: John Kerry estabelece um prazo de nove meses para a conclusão de um acordo

Alguns meses após o início do segundo mandato de Barack Obama, diversos especialistas americanos em relações entre Estados Unidos e Israel acreditavam que o presidente não queria se envolver no processo de paz.

Pela primeira vez, foi o secretário de Estado John Kerry que, ao anunciar a retomada de negociações em julho de 2013, estabeleceu o dia 29 de abril de 2014 como data-limite para um acordo.

Como era de se esperar, nenhum acordo de paz foi feito até esse prazo. Israel suspendeu as negociações após o novo acordo de reconciliação entre o Hamas e a OLP. Já Barack Obama considerou necessário fazer uma "pausa" nas discussões.

Conheça os pontos da negociação entre Israel e palestinos
  • Reprodução/BBC
    Estado palestino
    Os palestinos querem um Estado plenamente soberano e independente na Cisjordânia e na faixa de Gaza, com a capital em Jerusalém Oriental. Israel quer um Estado palestino desmilitarizado, presença militar no Vale da Cisjordânia da Jordânia e manutenção do controle de seu espaço aéreo e das fronteiras exteriores
  • Mohamad Torokman/Reuters
    Fronteiras e assentamentos judeus
    Os palestinos querem que Israel saia dos territórios que ocupou após a Guerra dos Seis Dias (1967) e desmantele por completo os assentamentos judeus que avançam a fronteira, considerados ilegais pela ONU. Qualquer área dada a Israel seria recompensada. Israel descarta voltar às fronteiras anteriores a 1967, mas aceita deixar partes da Cisjordânia se puder anexar os maiores assentamentos.
  • Cindy Wilk/UOL
    Jerusalém
    Israel anexou a área árabe da Jordânia após 1967 e não aceita a dividir Jerusalém por considerar o local o centro político e religioso da população judia. Já os palestinos querem o leste de Jerusalém como capital do futuro Estado da Palestina. O leste de Jerusalém é considerado um dos lugares sagrados do Islã. A comunidade não reconhece a anexação feita por Israel.
  • Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos
    Refugiados
    Há cerca de 5 milhões de refugiados palestinos, a maioria deles descendentes dos 760 mil palestinos que foram expulsos de suas terras na criação do Estado de Israel, em 1948. Os palestinos exigem que Israel reconheça seu "direito ao retorno", o que Israel rejeita por temer a destruição do Estado de Israel pela demografia. Já Israel quer que os palestinos reconheçam seu Estado.
  • Mahfouz Abu / EFE
    Segurança
    Israel teme que um Estado palestino caia nas mãos do grupo extremista Hamas e seja usado para atacar os judeus. Por isso, insiste em manter medidas de segurança no vale do rio Jordão e pedem que o Estado palestino seja amplamente desmilitarizado. Já os palestinos querem que seu Estado tenha o máximo de atributos de um Estado comum.
  • Abbas Momani/AFP
    Água
    Israel controla a maioria das fontes subterrâneas da Cisjordânia. Os palestinos querem uma distribuição mais igualitária do recurso.

Tensão entre palestinos e israelenses
Tensão entre palestinos e israelenses

Tradutor: UOL

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