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Outro furacão, mais um terremoto no México: são sinais do fim do mundo?

Edgar Cabalceta/EFE
Imagem: Edgar Cabalceta/EFE

Eleanor Cummins

20/09/2017 11h37

Este último mês tem sido uma repetição desnorteante de desastres naturais. Primeiro, o furacão Harvey inundou Houston. Depois, o México foi atingido por um grande terremoto, um choque de magnitude 8,2 para o Estado de Chiapas, ao sul (o terremoto aconteceu principalmente no Pacífico, o que restringiu os danos).

Ao mesmo tempo, o furacão Irma castigava o Caribe e depois a Flórida e o sudeste dos Estados Unidos. O furacão Katia atingiu o leste do México. E o furacão José acaba de passar pela Costa Leste, enquanto o furacão Maria causa estragos no Caribe. E um segundo terremoto acaba de atingir o México—este de magnitude 7,1, mas que atingiu muito mais diretamente a Cidade do México.

O que está havendo? O mundo está acabando?

De fato, parece que está. Mas não está. Seu cérebro está vendo sinais apocalípticos em todo lugar, porque essas são coisas assustadoras, mas não tão anormais assim.

Pessoas nas ruas da cidade do México após terremoto - Ronaldo Schemidt/AFP - Ronaldo Schemidt/AFP
Imagem: Ronaldo Schemidt/AFP

Primeiro, porque estamos na temporada de furacões agora. A temporada de furacões no Atlântico costuma ir de 1º de junho a 30 de novembro todos os anos (embora seja bastante influenciada por condições climáticas mais amplas como o ciclo do El Niño e do La Niña).

Este verão, com a elevação das temperaturas, as tempestades se formaram, veio uma tesoura de vento, mais de uma dúzia de tempestades nomeadas se formaram e atravessaram bailando o oceano.

Rastros de destruição na ilha de São Martinho após passagem de furacão Irma - Lionel Chamoiseau/AFP - Lionel Chamoiseau/AFP
Rastros de destruição na ilha de São Martinho após passagem de furacão Irma
Imagem: Lionel Chamoiseau/AFP

Sim, até o momento tem sido um ano excepcionalmente intenso em furacões, mas considerando os fatores envolvidos que já são bem conhecidos e razoavelmente confiáveis, já era previsto que seria.

Em agosto, o Centro Nacional de Furacões previu de 14 a 19 tempestades nomeadas, inclusive de dois a cinco furacões importantes.

É claro, os danos foram devastadores. A sequência recorde de acontecimentos pareceu catastrófica e alarmante devido aos estragos imensos causados. Isso até mesmo provocou conversas a respeito do que a mudança climática teria a ver com tudo isso, o que talvez seja um lado positivo, porque deveríamos ver essas tempestades como um indicador do que vem pela frente. Mas, basicamente, é sempre assim nessa época do ano.

E os terremotos?

Por outro lado, os terremotos não têm “temporada”. Talvez isso torne mais difícil lidar com o fato de que dois terremotos de grande magnitude podem atingir o México no mesmo mês simplesmente por acaso—talvez até mesmo mais difícil de lidar do que os problemas dobrados dos furacões Harvey e Irma.

E isso mesmo antes de você considerar a sinistra improbabilidade estatística de que o último grande terremoto da Cidade do México, que matou pelo menos 10 mil pessoas, também aconteceu no dia 19 de setembro—no caso, 19 de setembro de 1985.

Mas, assim como a “Slate” já explicou, após a estranha conjunção de terremotos no Equador e no Japão no verão passado, terremotos consecutivos na verdade são bastante comuns.

Em média, inacreditáveis 1,4 milhão de pequenos terremotos acontecem todos os anos. Nesse mesmo período, costumamos ver cerca de 15 terremotos que atingem a magnitude 7 e um que se aproxima da magnitude 8 todos os anos ou a cada dois anos.

Saiba por que os terremotos acontecem

AFP

E, como o México está situado sobre uma região de atividade sísmica intensa, suas chances de passar por acontecimentos como esses são mais altas. “É incomum, mas não me choca”, diz Jeron Ritsema, geólogo da Universidade de Michigan, a respeito dos dois terremotos. “É uma região de intensa atividade sísmica”.

As dimensões insanas que esse Dia da Marmota dos horrores assumiu existem basicamente na nossa cabeça, onde tendemos a procurar por padrões lógicos e histórias coesas. Mas em vez de sugerir que a natureza se rebelou contra nós, os acontecimentos seguidos deveriam servir como um lembrete da imprevisibilidade—e do poder—fundamental da Terra.

Com sorte, eles também servirão como uma lição de que desastres naturais não são afetados por nossos desejos e também costumam ser devastadores. E que deveríamos fazer tudo que está em nosso poder para reduzir suas probabilidades de acontecer. Sim, isso significa retardar as mudanças climáticas o quanto nos for possível.

Mas o mundo não está acabando ainda. Só parece.