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"Atendemos 70 pessoas em uma hora": Médico relata noite em hospital de Las Vegas

Reprodução/YouTube Sunrise Hospital
Imagem: Reprodução/YouTube Sunrise Hospital

Jeremy Stahl

04/10/2017 11h31

David MacIntyre é um cirurgião de trauma que estava de plantão no domingo (1º) na unidade de traumas no Hospital Sunrise, em Las Vegas. Devido à proximidade do festival Harvest na Route 91, o hospital recebeu mais pacientes críticos do que qualquer outro na cidade.

Em uma entrevista à Slate na terça-feira (3), MacIntyre contou como foi a noite, do seu ponto de vista. Seu relato foi ligeiramente editado e condensado, para maior clareza.

"Eu era o cirurgião de traumas de plantão, por isso estava fisicamente no hospital durante 24 horas. Por volta das 22h, recebemos um aviso de que havia ocorrido um tiroteio em massa na Las Vegas Strip, e todos nos mobilizamos para a seção de traumas. Quando chegamos lá, as pessoas começaram a chegar. Nós ativamos, chamamos os outros cirurgiões e todo mundo se mobilizou rapidamente.

Eu não esperava aquele volume. Não esperava que 214 pessoas aparecessem.

Havia muitos feridos com tiros na cabeça e no peito. Esse foram os primeiros que eu atendi. São pessoas que foram carregadas pelos cidadãos de Las Vegas em suas vans e caminhonetes. Elas as trouxeram para o hospital muito rapidamente. Foram as primeiras que atendemos. Depois as ambulâncias começaram a chegar. Traziam três ou quatro pessoas cada uma e as descarregavam.

Dos 214 pacientes, cerca de 137 foram tratados e dispensados. A maioria destes são os que levamos à sala de operações: dez feridos por tiros na cabeça, oito no peito que foram para a sala de cirurgia, tivemos 13 ferimentos no abdômen que foram operados, 17 ferimentos ortopédicos operados e mais 33 outros. Estes são ferimentos do tipo no pescoço ou nas extremidades.

O primeiro que entrou foi um ferido por tiro na cabeça e no peito. Depois tivemos mais dez pacientes. Depois mais dez. Foi realmente rápido. Pareciam segundos.

Fazer a triagem é muito rápido. Eu pergunto: 'Como você se chama?' Se a pessoa não falar comigo e não respirar, é imediatamente entubada e vamos descobrir o que há de errado com ela. As que estavam estáveis, falando e respondendo às minhas perguntas --e respiravam--, nós as ajeitávamos e as colocávamos confortáveis em uma área e nos concentrávamos nas que não falavam, entubando-as e colocando tubos no peito e enviando à sala de cirurgia ou à UTI.

Eu estava na triagem, por isso encaminhei todo mundo à sala de cirurgia. Acho que atendi pelo menos 70 ou 80 pessoas na primeira hora. Depois os médicos do pronto-socorro tinham os feridos que andavam, que foram feridos nos braços e pernas --eles não tinham ferimentos graves na cabeça, no peito ou no estômago. Esses vieram para mim.

Todos os feridos que atendi eram casos que eu tinha sido treinado para lidar. Mas eram tantos, isso foi o que realmente nos sobrecarregou.

Já tivemos violência de bandos, membros de gangues que fazem tiroteios. Mas recebíamos quatro ou cinco, talvez dez ao todo, e pronto. Agora foram 191 pessoas, algo assim. Eu tive muitas aulas de incidentes em massa. Você não pensa nisso. Você se aperfeiçoa. Mas eu comecei a ficar nervoso, depois de quatro, cinco horas naquilo. Eu pensava: as pessoas continuam chegando.

Esse foi o maior incidente [tiroteio] em massa da história dos EUA, e conseguimos absorver todos aqueles pacientes no nosso centro. Muita gente talentosa se uniu e enfrentou a ocasião. Foi incrível. Quero dizer, da limpeza à neurocirurgia, todos fazendo uma coisa só.

Tivemos um policial que perdemos. Foi provavelmente a coisa mais dura que vi. O departamento de polícia estava lá com ele --eles não o deixaram. Montamos um necrotério ao lado da sala de cirurgia. Eles mandaram um oficial em uniforme de gala segurando a bandeira americana dobrada, e ele ficou com o oficial morto o tempo todo que ele esteve com a gente. Tivemos 15 baixas, e alguns já estavam mortos ao chegar, por isso não passaram pela triagem do meu lado --já tinham partido."

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