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Primeiras gravações secretas de Romney divulgadas por internauta não focavam polêmica

Jennifer Preston

21/09/2012 06h00

Um usuário anônimo do Twitter que fez gravações secretas de Mitt Romney discursando em uma reunião privada de doadores ricos na Flórida gerou comoção na campanha do republicano na rede social em relação a partes do vídeo. O contéudo também chocou membros da mídia e democratas proeminentes. Em publicações no Twitter, a conta chamada @AnneOnymous679 tentou chamar a atenção de integrantes da campanha de Romney no dia 31 de agosto e incluiu um link para um vídeo curto das gravações secretas sobre o comitê de campanha. 

O usuário do Twitter também chamou a atenção de Donna Brazile, estrategista democrata, a deputada Debbie Wasserman Schultz, democrata da Flórida, e David Corn, diretor da revista “Mother Jones”, em Washington. Foi Corn que, com a ajuda de James E. Carter 4°, neto do ex-presidente Jimmy Carter, persuadiu o informante a dar à “Mother Jones” acesso às gravações completas.

Ao menos três meses antes de a “Mother Jones” publicar sua reportagem e as gravações de vídeo, a pessoa que capturou discretamente o vídeo durante o evento para angariar fundos no dia 17 de maio em Boca Raton, na Flórida, tinha feito inúmeros esforços online para chamar atenção.

Mas a maior parte das gravações de áudio divulgadas na Internet desde maio não tinha como foco as observações de Romney que 47% dos americanos são dependentes demais do governo, que foi o que chegou às manchetes e criou um furor político na campanha depois da reportagem da “Mother Jones”.    

Romney diz que 47% dos americanos dependem do governo

O primeiro trecho de quatro de gravações de áudio foi postado nos dias 31 de maio e 1º de junho no YouTube por uma pessoa anônima que disse ter 62 anos de idade e chamou a conta de RomneyExposed.

Em um desses vídeos, Romney descreve uma visita a uma fábrica chinesa enquanto estava no Bain Capital. O clipe recebeu 432 visitas naquele primeiro dia.

No final de maio e em junho, um comentador do “Huffington Post” também chamado de RomneyExposed postou vários comentários e links para partes do vídeo, o que gerou mais visitas aos clipes, mas não conquistou ampla atenção ou distribuição.


Em um texto detalhando a vida online da gravação, Ben Smith, editor do BuzzFeed, observou que a pessoa por trás do vídeo também tentou chamar a atenção de um colaborador do BuzzFeed no Twitter incluindo um link para parte do vídeo.

Em agosto, foi criada uma conta de YouTube com o nome de Rachel Maddow, a âncora de televisão do canal Msnbc, com a foto dela e um link para um clipe único do evento para angariar fundos. Era o clipe de dois minutos e oito segundos sobre a viagem de Romney à fábrica, chamado “Mitt Romney admite usar trabalho escravo chinês no Bain”, previamente sido postado no canal RomneyExposed do YouTube.

Em resposta, a equipe de Maddow solicitou ao YouTube que tirasse o vídeo e fechasse a conta falsa, o que o YouTube fez. Antes de ser removida, porém, a conta oficial de Maddow no Twitter postou um link para o vídeo, que gerou mais visitas e levou outros blogueiros a escreverem a respeito.

O Twitchy.com reuniu as conversas no Twitter sobre o vídeo, inclusive questões sobre sua autenticidade.
Na conta falsa do YouTube de Maddow, o informante prometeu nos comentários que eventualmente disponibilizaria a gravação completa.

Enquanto isso, Corn e Carter, da “Mother Jones”, e repórteres do “The Huffington Post” estavam trabalhando por trás das cenas para convencer o informante a dar a eles acesso ao vídeo completo.

Ao mesmo tempo, uma conta de Twitter @AnneAnonymus foi criada no final de agosto para ajudar a atrair a atenção para os posts. E alguém com o mesmo nome de usuário postou clipes curtos no blog liberal The Daily Kos, mas não conseguiu chamar a atenção e, em vez disso, foi questionado quanto a autenticidade do material.

Em um artigo no “New York Times” sobre como a “Mother Jones” conseguiu a história, Markos Moulitsas, fundador do Daily Kos, salientou que “eram clipes curtos, alguns de apenas oito segundos, sem contexto ou informação que o identificassem”. Moulitsas disse que o golpe do “Mother Jones” foi fazer com que a fonte liberasse o vídeo inteiro. 

Carter, que tinha visto o vídeo online quando foi postado na conta falsa de Rachel Maddow, disse que procurou o criador do vídeo enviando mensagens pelo YouTube e Twitter e, eventualmente, conseguiu persuadir a pessoa a conversar com Corn. Carter, por sua vez, colaborou  com pesquisas no artigo que Corn publicara no início do verão sobre os investimentos do Bain na China.


“Ele me dizia que precisávamos garantir seu anonimato”, disse Carter sobre a fonte. “Meu principal objetivo então foi levar isso para as mãos de alguém que tivesse acesso a advogados e tudo mais”.

Depois que o vídeo e o artigo foram publicados, Carter disse ter recebido uma mensagem de seu avô, o presidente Carter, congratulando-o por ajudar a levar o vídeo a público. “Estamos todos impressionados”, disse o jovem Carter sobre a tempestade de mídia que se seguiu à publicação do vídeo.

Depois que o material veio a público, o usuário anônimo do Twitter @AnneOnymous670 postou uma nota na conta de Carter, dizendo: “Acho que o carma do Carter atropelou o dogma de Romney”.

A identidade da pessoa que gravou o vídeo continua desconhecida. Mas Marc Leder, administrador de um fundo hedge que organizou o evento para levantar fundos em sua casa na Flórida, pediu desculpas a Romney e está considerando processar a pessoa que gravou o vídeo, de acordo com um post de Laura Goldman, blogueira da Filadélfia.  Um porta-voz de Leder negou o relato de Goldman, mas não quis fornecer detalhes.