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Expulsos do litoral pelo furacão Sandy, ratos de NY atormentam quem mora no interior

Destino das legiões de ratos de Nova York permanecia um mistério após a passagem do furacão Sandy e muitos acreditavam que eles teriam se afogado nos túneis de metrô submersos - Eric Thayer/Reuters
Destino das legiões de ratos de Nova York permanecia um mistério após a passagem do furacão Sandy e muitos acreditavam que eles teriam se afogado nos túneis de metrô submersos Imagem: Eric Thayer/Reuters

Cara Buckley

Em Nova York

12/02/2013 06h00

Inicialmente, Sarah Heming achou que era um de seus cães circulando pelo segundo andar do sobrado alugado dela em Brooklyn Heights, tarde da noite. Mas os sons se intensificaram em locais onde os cães não poderiam estar. Havia um arranhar frenético nas paredes, seguido por baques pesados e guinchos, além de movimento debaixo do fogão.

Um exterminador foi chamado e confirmou a suspeita de Heming: os ratos estavam enlouquecidos na casa. “Basicamente, isso tomou conta da minha vida”, disse Heming, que agora dorme com tampões de ouvido e está prestes a se mudar para um apartamento reformado em Carroll Gardens. “Eu sou uma pessoa de sono leve que agora não durmo mais. A sensação é de que tudo está fora de controle.”

O destino das legiões de ratos de Nova York permanecia um mistério após a passagem do furacão Sandy. Especialistas em roedores previram que muitos ratos teriam se afogado nos túneis de metrô submersos, mas também que os sobreviventes se banqueteariam no bufê de lixo espalhado pelas ruas. Agora, vários exterminadores dizem que sabem exatamente o que aconteceu aos ratos: expulsos da orla marítima, os roedores seguiram em massa para o interior.

Logo após a tempestade, os dedetizadores foram sobrecarregados de chamadas de Dumbo, Brooklyn Heights e da Baixa Manhattan. E assim que os ratos se reassentaram, eles se acostumaram ao novo ambiente, se banqueteando com o lixo criado pelo furacão e deixado pelas festas de fim de ano.

“Eles passaram a se comportar tão mal que não dei conta de atender todos os chamados”, disse Jonathan Vargas, sócio da All Day Exterminating, que estimou que suas queixas de ratos dobraram depois do furacão Sandy. Timothy Wong, um sócio administrativo da M&M Environmental, uma empresa de controle de pragas do Lower East Side, disse que as queixas de ratos começaram a aumentar depois do furacão e ainda não diminuíram, em parte pelo clima do inverno estar levando os roedores para lugares fechados.

“O metrô, o esgoto, muita coisa é afetada”, disse Wong, que disse que as queixas sobre ratos são as piores que ele vê em 10 anos. “Há lixo demais nas ruas atualmente. Reformas por causa da inundação. Árvores de Natal. Essas coisas apenas pioram a situação. Para eles, é como um restaurante gratuito.”

Wong disse que recebe chamadas de escolas e empresas, de prédios de luxo onde os ratos transformaram as jardineiras em viveiros. Logo depois da tempestade, sua empresa recebeu chamados de vários clientes espantados ao encontrarem marcas de dentes e fezes em seus carros. O conselho de Wong: abrir a porta. Uma mulher, uma dona de um BMW, se recusou, e contratou a empresa dele para abrir a porta para ela e espantar o rato para fora.

“Nós realmente não sabemos como ele entrou”, disse Wong. “Tudo o que eu sei é que havia fezes de rato e um cookie do Starbucks e uma sacola mastigados.”

Wong disse que muitos de seus clientes estão sendo multados por infestação de ratos, apesar das violações não terem aumentado na cidade: o número de violações por roedores emitidas desde o furacão Sandy caiu para 1.996, em comparação a 2.750 no mesmo período no ano anterior. Mesmo assim, os números oferecem um quadro incompleto. Depois do furacão Sandy, em 1º de novembro, o Departamento de Saúde disse que parou de emitir violações por roedores na Zona A, que inclui partes de todos os cinco distritos, entre eles Battery Park City em Manhattan; Red Hook, Coney Island e partes de Dumbo e Brooklyn Heights, no Brooklyn; City Island, no Bronx; e Rockaways, em Queens.

Jim O’Brien, o proprietário do Pest Quest Pest Management em Staten Island, disse que os problemas com ratos são especialmente severos nas áreas alagadiças e na costa de Staten Island e Nova Jersey. Lá, muitas casas estão vazias e sendo reparadas por operários, que deixam para trás caixas de pizza e restos de comida. “É realmente uma festa para os roedores”, ele disse. Ainda assim, ele deu crédito ao Departamento de Saneamento de Nova York pelo trabalho ininterrupto para limpar o estrago da tempestade. “Eles conseguiram atenuar o que potencialmente poderia ter sido um problema muito sério”, ele disse.

Em uma noite chuvosa nesta semana, Manuel Medina, um exterminador da M&M, reuniu um conjunto de dispositivos para matar ratos: placas de cola gigantes, veneno e ratoeiras chamadas T-Rexes, que mais parecem armadilhas para urso. Então ele seguiu para um porão nojento em Chinatown –“parecido com o porão do Freddy Krueger”, ele disse, um tão nojento que alguns de seus colegas exterminadores se recusaram a entrar.

O porão era escuro feito breu, com seu teto coberto de cabos pendurados e sujos e canos curvados cheios de teia de aranha, o piso forrado de baratas mortas, e a parede salpicada de insetos. Um cano distante pingava constantemente. Resumindo, era um paraíso para ratos.

Para pessoas como Heming, os ratos sempre foram parte da vida de Nova York, mas ela diz que o problema aumentou desde a tempestade. Medina não sabe ao certo se a culpa é do furacão, mas disse que o problema de ratos da cidade piorou, com um maior número de construções, e mais lixo mal descartado, com sacos rasgados, pingando sucos e gordura.

Ele percorreu silenciosamente o porão em Chinatown, guiado apenas pela luz de seu celular, até encontrar o que estava procurando: três buracos de rato recentes, e fezes que poderiam ter sido deixadas por um cão pequeno.

Medina colocou a mão em sua bolsa e retirou vários blocos de veneno. “Para os grandões”, ele disse, mas sabendo que teria que retornar. “É uma batalha sem fim”, ele disse. “Nós os matamos, mas eles continuam voltando.”