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Pais de Elliot Rodger se empenharam em corrida inútil para impedir mortes

Amigas de Christopher Martinez, vítima da chacina, se abraçam diante do local onde ele foi morto - Monica Almeida/The New York Times
Amigas de Christopher Martinez, vítima da chacina, se abraçam diante do local onde ele foi morto Imagem: Monica Almeida/The New York Times

Adam Nagourney

27/05/2014 06h00

Era uma noite de sexta-feira quando os pais de Elliot Rodger abriram o manifesto de 140 páginas, enviado por e-mail para eles por seu filho, e souberam de seus planos de assassinato em massa e suicídio. Assustados e alarmados, eles telefonaram para a polícia e então correram de Los Angeles para Isla Vista, Califórnia, em carros separados, em uma tentativa desesperada de detê-lo.

Era tarde demais.

Quando chegaram, Rodger tinha matado seis pessoas, disse a polícia, e morreu de um disparo contra si mesmo – uma exibição de violência que aturdiu a tranquila cidade universitária à beira-mar.

Na verdade, Rodger planejava seu "Dia da Desforra", como o chamava em seu manifesto, há três anos, desde o dia de verão em que se mudou para um pequeno apartamento com dois colegas de quarto, a primeira vez que morou longe de casa. Ele chegou na esperança de escapar das rejeições sexuais que sofreu ao longo da adolescência, mas à medida que se irritava com os casais felizes caminhando pelas ruas, seus pensamentos passaram de dar início a uma nova vida a se vingar.

Polícia do condado de Santa Barbara confirmou que a identidade do suspeito de ter matado ao menos seis pessoas a tiros na noite de sexta-feira (23) é Elliot Rodger, filho de um cineasta de Hollywood - Michael Nelson/EPA/Efe - 24.mai.2014 - Michael Nelson/EPA/Efe - 24.mai.2014
Elliot Rodger, 22, publicou um vídeo ameaçador contra mulheres pouco antes de cometer o massacre
Imagem: Michael Nelson/EPA/Efe - 24.mai.2014


"Eu não podia acreditar quão errado tudo saiu", escreveu Rodger, 22, no manifesto que enviou pouco antes de esfaquear até a morte três pessoas em seu apartamento, incluindo os dois colegas de quarto, que ele descreveu como "repulsivos".

A viagem frenética dos pais dele para Isla Vista foi apenas mais uma chance perdida de evitar a tragédia. Neste caso, o telefonema dos pais para a polícia e a chegada deles ocorreu bem depois do término dos assassinatos.

Poucas semanas antes, no final de abril, policiais do Escritório do Xerife do Condado de Santa Barbara passaram no apartamento de Rodger a pedido das autoridades de saúde mental, em resposta à preocupação da mãe dele. Eles partiram depois que um calmo e educado Rodger assegurou que não tinham nada com que se preocupar. Os policiais relataram que Rodger era tímido e lhes disse que estava enfrentando dificuldades em sua vida social.

Isso os deixou com pouca base para agir segundo a lei da Califórnia. Como Rodger nunca foi internado por seus problemas emocionais, ele estava autorizado a comprar legalmente o armamento que usou no tiroteio.

Algum tempo depois da visita da polícia, Rodger – que já contava com um estoque de armas e munição no apartamento – acrescentou uma nota ao seu manifesto: "Se tivessem exigido revistar meu quarto, aquilo teria sido o fim de tudo. Por alguns segundos horríveis, eu achei que estava tudo terminado".

Sua ação homicida foi meticulosamente planejada, passando de uma fantasia furiosa a uma missão detalhada ao longo de três anos. Rodger visitou uma galeria de tiro em Oxnard para praticar, comprou três armas semiautomáticas (caso duas delas emperrassem) em diferentes lojas de armas e marcou e adiou o dia da desforra por razões lógicas. Em um momento, ele queria agir no Halloween de 2013, mas desistiu após determinar que a polícia estaria patrulhando com força adicional naquela noite.

"A data final passou a ser 24 de maio", ele escreveu. "Não haverá mais adiamento, não haverá recuo. Se não fizer isso, então terei apenas um futuro repleto de mais solidão e rejeição à frente, carente de sexo, amor e alegria."


O escritório do xerife identificou as três vítimas restantes na noite de domingo, todos estudantes da Universidade da Califórnia, Santa Barbara. Os dois primeiros foram os colegas de quarto de Rodger, Cheng Yuan Hong, 20 anos, e George Chen, 19, ambos de San Jose, Califórnia. O terceiro era Weiham Wang, 20 anos, de Fremont, Califórnia. As duas mulheres mortas em frente de uma irmandade durante o tiroteio subsequente de Rodger eram Katherine Breann Cooper, 22 anos, de Chino Hills, Califórnia, e Veronika Elizabeth Weiss, 19, de Westlake Village, Califórnia. O sexto ataque fatal foi contra Christopher Ross Michaels-Martinez, 20 anos, de Los Osos, Califórnia.

Simon Astaire, que descreveu a si mesmo como um velho amigo dos pais de Rodger, que são divorciados, disse que eles estão arrasados.

"É como um pesadelo insuportável", ele disse no domingo.

Astaire disse que a mãe de Rodger, Li Chin, abriu um e-mail de seu filho às 21h17 de sexta-feira, cerca de 10 minutos antes do início do tiroteio, após receber uma chamada alarmada do terapeuta de Rodger. Astaire disse que ela leu as quatro primeiras linhas e foi à página de Rodger no YouTube, onde havia um vídeo prometendo vingança, que ele tinha postado no dia anterior.

Ela então ligou para Peter Rodger, seu ex-marido – que estava em um jantar com sua nova esposa e dois amigos em Los Angeles– e então ligou para a polícia. Os dois pais partiram correndo para Isla Vista, que fica a cerca de 20 quilômetros do centro de Santa Barbara, onde chegaram apenas para saber que as mortes já tinham ocorrido, disse Astaire.

Segundo muitos relatos, Rodger tinha uma longa história de comportamento incomum. Chris Pollard, 22 anos, um vizinho no prédio de apartamentos em Isla Vista, disse que Rodger rejeitou as tentativas de encorajá-lo a socializar com outros moradores do prédio.

"Ele apenas ficava sentado, sem resposta", disse Pollard. "Sempre que alguém tentava fazer com que ele se envolvesse, ele apenas parecia não querer se envolver. Ele parecia cada vez mais frustrado ou entediado, e então ele apenas subia e se trancava em casa."

Pollard contou ter visto Rodger chegar em casa, ensanguentado e machucado, após um encontro em um bar. Rodger, em seu manifesto, disse que começou a tentar empurrar uma mulher no bar, provocando uma briga na qual vários homens o espancaram.

Segundo ele, foram necessárias horas para acalmar Rodger, que estava colérico com os homens que o atacaram.

"Ele dizia: 'Eu vou matá-los. Eu vou matá-los. Eu vou matá-los", ele disse.

Na tarde de sexta-feira, antes do início da violência, Rodger se aproximou do Giovanni's Pizza, na rua de seu prédio. Ally Kubie, 20, que estava trabalhando no balcão, disse que Rodger ficou imóvel no pátio enquanto a olhava pela janela, com um sorriso fixo em seu rosto.

"Eu perguntei, 'Você precisa de ajuda?'" disse Kubie. "Mas ele apenas ficou olhando para mim. Foi assustador."

O xerife Bill Brown, do Condado de Santa Monica, falando no domingo no programa "Face the Nation", no canal "CBS", contou como os policiais visitaram Rodgers em abril e o encontraram calmo, lúcido e não atendendo aos critérios, na visão dos policiais, que poderiam resultar em ser levado para observação.

Por causa disso, eles não tinham motivo para revistar o apartamento de Rodger, onde este já tinha estocado armas e munição, incluindo uma Glock 34 e uma Sig Sauer P226.

"E, obviamente, olhando para trás, é uma situação muito trágica, e pode ter certeza que gostaríamos de poder voltar o relógio e talvez mudar algumas coisas", ele disse.