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Nova York intensifica novamente a guerra contra os ratos

Ratos nos trilhos da estação de metrô Union Square em Nova York. A cidade já teve 109 prefeitos e, ao que parece, quase o mesmo número de planos para eliminar esse flagelo. O placar coletivo é de aproximadamente 0 a 108 - Michael Appleton/The New York Times
Ratos nos trilhos da estação de metrô Union Square em Nova York. A cidade já teve 109 prefeitos e, ao que parece, quase o mesmo número de planos para eliminar esse flagelo. O placar coletivo é de aproximadamente 0 a 108 Imagem: Michael Appleton/The New York Times

Matt Flegenheimer

Em Nova York (EUA)

25/06/2015 06h01

Por séculos, o grande inimigo da cidade de Nova York tem sido o rato comum.

Ratoeiras foram armadas e venenos foram preparados, com pouco efeito aparente. Conclaves de emergência foram convocados na Prefeitura.

Nova York já teve 109 prefeitos e, ao que parece, quase o mesmo número de planos para eliminar esse flagelo. O placar coletivo é de aproximadamente 0 a 108.

"Basta seguir os números", disse Joseph J. Lhota, que já foi designado "czar dos ratos" como vice-prefeito sob Rudolph W. Giuliani. "Qualquer um encarregado de erradicar os ratos em Nova York sabe exatamente como Sísifo se sentia."

Mas por toda a cidade, uma nova administração está apostando que Nova York –-por muito tempo o Chicago Cubs (time de beisebol que não conquista títulos) do controle de roedores-– conseguirá desta vez.

O orçamento municipal, acertado nesta semana, inclui US$ 2,9 milhões (cerca de R$ 9 milhões) em verba para combate aos ratos. O prefeito Bill de Blasio descreveu os animais, com um toque de bravata, como "uma instituição de Nova York que ficaremos felizes em eliminar".

Ao longo do meio-fio das avenidas e dentro dos canteiros de árvores, sob as grades dos bueiros e em meio às moitas dos parques, a visão da prefeitura de controle de roedores está sendo implantada.

Inspetores esquadrinham bairros, esfregando áreas problemáticas à procura de marcas de arranhões, grama amassada e outros sinais de presença de ratos. Casos foram distribuídos para equipes por localização –-uma abordagem de assistente social para o extermínio de roedores, disseram as autoridades. Compactadores de lixo solares e outras lixeiras "à prova de ratos" estão sendo fornecidas ao Departamento de Saneamento.

E pelos corredores de cerca de meia dúzia de agências municipais, a mensagem foi dada: pense como um rato.

"Eles são como nós", disse Rick Simeone, o diretor do controle de pestes do departamento de saúde municipal, revirando as moitas do centro do Brooklyn à procura de sinais em uma manhã recente. "Eles não dão nada em troca. Eles comem e se reproduzem."

O novo esforço municipal se apoia no ataque aos chamados reservatórios de ratos, trechos onde os ratos subsistem em número suficientemente grande a ponto de a eliminação de alguns na superfície ter pouco efeito a longo prazo.

Qualquer descuido –-uma rachadura na calçada, um sanduíche jogado fora, uma lata de lixo sem tampa em um parque da cidade-– pode colocar em risco a frágil paz.

"Os ratos de Nova York são diabolicamente espertos", disse Robert M. Corrigan, um especialista em ratos que há muito orienta a cidade. "Ele é oportunista e não é espalhafatoso."

Assim, avaliar o sucesso pode ser difícil. A prefeitura diz que não há um levantamento confiável da população de ratos, apesar de muitas alegações anteriores do contrário. Um artigo de 1949 no "The New York Times", detalhando a "guerra aos roedores" pelo prefeito William O'Dwyer, apresentou uma estimativa de 15 milhões. Uma estimativa mais recente declarava que havia um rato para cada habitante, apesar de pesquisa sugerir que essa estimativa exagera o número em cerca de 6 milhões.

Na verdade, os especialistas nem mesmo sabem ao certo se a população aumentou ou diminuiu nos últimos anos. Mas o otimismo é abundante em relação ao esforço mais recente para controle dos ratos.

"Com certeza acho que é a coisa mais inteligente que surgiu em muito tempo", disse Corrigan, que prega os méritos da "gestão integrada de pragas", que enfatiza uma alternativa mais holística para o simples extermínio.

Mesmo assim, a história não é gentil em relação aos planos dos prefeitos contra os ratos. A guerra de O'Dwyer resultou em poucos ganhos duradouros. (Também foi breve; ele renunciou após acusações de corrupção em 1950.)

Uma mudança pareceu que ocorreria em 1979, após uma mulher ter sido atacada por ratos em um beco na baixa Manhattan. Segundo o livro "Rats: Observations on the History and Habitat of the City's Most Unwanted Inhabitants", o prefeito Edward I. Koch ordenou que o chefe do birô de controle de pragas da cidade voltasse imediatamente de uma convenção sobre ratos no interior para lidar com a crise.

Anos depois, Giuliani, impaciente com as queixas persistentes a respeito de ratos, entregou a tarefa ao seu vice, Lhota, que permanece um especialista em sacos de lixo repelentes de ratos e fertilidade de roedores.

Uma "força-tarefa para roedores", criada na administração Giuliani e expandida sob a administração de Michael R. Bloomberg, continua se reunindo semanalmente. Também há uma "academia de roedores", um curso intensivo de três dias para funcionários públicos essenciais ao combate.

"Os prefeitos sempre anunciam algum plano para os ratos", disse George Arzt, que foi secretário de imprensa de Koch. "A maioria das pessoas esquece o plano até a chegada do prefeito seguinte. E então o prefeito seguinte anuncia um plano como se fosse novo."

Durante o período de Lhota como presidente da Autoridade de Transporte Metropolitano, do final de 2011 a 2012, a agência elaborou planos para colocar estrategicamente produtos para esterilização de ratos por todo o sistema do metrô. As autoridades disseram que os primeiros resultados foram promissores.

A prefeitura também relatou progresso em um programa piloto visando os reservatórios de ratos em Manhattan e no Bronx no ano passado. Por todos os seis locais de teste, disse a prefeitura, ratos foram avistados 80% a 90% menos vezes.

A reação da população em um local, ao longo da Broadway, no Upper West Side, foi diversa.

"A melhoria foi enorme", disse Jay Donaldson, 40, sobre a atual população de ratos no bairro.

"Era maior que meu gato", disse Diane Reese, 51, sobre um roedor que encontrou recentemente na Rua 108.

Em defesa da prefeitura, notou Lhota, os alvos têm uma vantagem inerente sobre seus adversários no governo: senioridade.

"Os ratos já estavam aqui antes do primeiro prefeito", ele argumentou.