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Vento e sol devolvem o brilho a Buffalo, nos EUA

Brendan Bannon/The New York Times
Imagem: Brendan Bannon/The New York Times

Diane Cardwell

De Buffalo

27/07/2015 00h02

Ao longo de uma curva do rio Buffalo, uma enorme estrutura de concreto e aço está se erguendo, para em breve abrigar uma das maiores fábricas de painéis solares do país.

Um pouco mais ao sul, nas entranhas deterioradas da antiga fábrica Bethlehem Steel, em Lackawanna, onde uma dúzia de turbinas eólicas já retiram a energia do vento que sopra no lago Erie, os funcionários estão se preparando para instalar um grande painel solar.

E em Lockport, ao norte, o Yahoo recentemente expandiu um centro de dados e de atendimento ao consumidor, atraído pela energia limpa e barata gerada pelas cataratas do Niágara.

Depois de décadas sendo motivo de piadas sobre tempestades de neve, derrotas nos esportes e declínio urbano, Buffalo está de repente vivendo algo novo: uma recuperação econômica, impulsionada pelo setor improvável da energia renovável.

A mudança de Buffalo é tão evidente que os pais que antes diziam aos filhos para tentarem a sorte em outros lugares estão agora sugerindo que eles voltem.

"Eles estão tão animados", disse Howard Zemsky, que trabalhou no desenvolvimento econômico da região por anos e agora o supervisiona para o Estado. "Eles diziam: 'eu amo meus filhos. Gostaria que eles pudessem ficar. Mas sou obrigado a dizer para eles irem embora para encontrar o tipo de oportunidade que quero que eles tenham.'”

Agora, diz ele, eles estão dizendo aos filhos: “você precisa voltar e ver o que está acontecendo aqui.”

E os filhos parecem estar ouvindo: a região, que perdeu cerca de um terço de sua população de jovens de 20 a 40 anos durante os últimos 40 anos ou mais, está começando a ver este grupo se recuperar pela primeira vez, disse Zemsky.

A recuperação – que parece estar com um ímpeto surpreendente depois de décadas de tentativas fracassadas de revitalização – vai além do setor de energia limpa.

Uma promessa de US$ 1 bilhão em incentivos fiscais e subvenções do governador Andrew M. Cuomo e um amplo processo de planejamento têm ajudado a estimular o renascimento e reduzir a taxa de desemprego da região para 5,3%, a mais baixo desde 2007, de acordo com o Departamento de Estatísticas do Trabalho.

A iniciativa tem capitalizado os pontos fortes próprios da região em termos de energia renovável – as cataratas do Niágara, por exemplo – e a infra-estrutura construída para aproveitá-la.

"Sempre foi uma espécie de centro energético para diferentes tecnologias", disse Paul F. Curran, diretor administrativo da BQ Energy, companhia de energia renovável que está transformando a antiga fábrica de aço em uma usina de energia sustentável. "Podemos aumentar a geração sem ter de construir novas infra-estruturas – grandes linhas de transmissão e esse tipo de coisa – porque a energia convencional do Rust Belt [cinturão da indústria pesada e manufatura dos EUA] está se aposentando. Então podemos entrar economicamente na mesma rede.”

O desenvolvimento de Buffalo como uma potência industrial tem suas raízes na abertura do Canal Erie em 1825. A indústria hidrelétrica de Niagara Falls – uma das primeiras do país – começou a fornecer energia para a cidade e ajudou a acelerar seu crescimento para se tornar um rico centro manufatureiro de nível mundial.

Apesar do longo declínio, a maior parte daquela infra-estrutura permanece – inclusive as linhas ferroviárias e de transmissão de energia, escolas profissionalizantes e museus de arte. Tudo isso, junto com subsídios generosos do governo, está se mostrando atraente para novos setores como o de energia limpa e manufatura avançada.

Talvez o símbolo mais forte da mudança econômica de Buffalo seja o complexo de energia verde no Lago Erie, onde o novo sistema de painéis solares vai se juntar a um campo eólico concluído em 2012. As lâminas giratórias de 14 turbinas oferecem uma paisagem de energia limpa em contraste com moinho de aço fechado há muito tempo.

A eletricidade gerada pelas turbinas eólicas, suficiente para abastecer cerca de 15 mil casas, está sob concessão de uma empresa de serviços local, a Constellation Energy Resources.

Não menos importante é a chegada iminente da SolarCity, líder na instalação de painéis solares, que recebeu incentivos de cerca de US$ 750 milhões para construir sua fábrica de painéis aqui. Uma vez que estiver instalada e trabalhando, ela espera fornecer cerca de 1.500 postos de trabalho no local e apoiar outros 1.500 entre os fornecedores da região.

Um resultado dos investimentos são bairros novos e movimentados, muitos com prédios revitalizados que abrigam apartamentos, lojas e restaurantes que têm atraído jovens trabalhadores de outras cidades.

“Todo o dia abre um novo bar hipster”, disse Peter V. Burakowski, que cresceu aqui e agora é diretor de marketing da 43North, uma incubadora ao estilo do Vale do Silício que oferece dinheiro, espaço de trabalho e orientação para 11 startups por ano. "Temos pessoas que estão dizendo seriamente: 'não quero mais voltar para o Brooklyn.'"

Glenn Thomas, que está abrindo sua empresa, a ASI, na 43North, e mora na região há 20 anos, concorda. "Você não reconheceria a cidade em comparação com antigamente.” Os seus cinco filhos se mudaram, mas agora já voltaram. "Todos eles acharam um bom emprego aqui."

Em nenhum outro lugar a transformação é mais evidente do que em Larkinville, um conjunto de prédios do século 19 aglomerado em volta da Larkin Soap Co., que se tornou uma região de trabalho, entretenimento e restaurantes inspirada por distritos semelhantes, como Dumbo e Williamsburg no Brooklyn.

Zemsky, cuja empresa de desenvolvimento ancora a área, trabalhou por anos na indústria de alimentos prontos e queria criar uma área mista em um velho bairro industrial, como aqueles que viu em suas viagens a trabalho por todo o país.

Numa terça-feira recente e ensolarada, centenas de pessoas chegaram para o encontro semanal de food trucks, esperando para experimentar os petiscos do caminhões Black Market e Cheesy Chick. O evento se tornou tão popular, disse Zemsky, que um comboio vem de Rochester.

Janet Lus, 50, que, junto com seu marido, Dennis, comeram em vários caminhões apesar das filas longas, disse que ter paciência agora é uma parte necessária da vida lá, mas que fazia tempo que o lugar estava precisando desse renascimento. "Está na hora de as pessoas perceberem o potencial", disse ela.

O casal, que adora andar de moto e bicicleta, mora em South Buffalo e tem amigos que não desconfiam do que a cidade tem a oferecer. “Gosto de mostrar a cidade para eles”, disse Dennis Lus, 57. “Agora temos atrações.”

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