Topo

Obama vai a Nova Orleans prestar contas por promessas em resposta ao Katrina

Gardiner Harris

Em Washington (EUA)

27/08/2015 06h00

Oito anos atrás, quando era um senador concorrendo à presidência, Barack Obama visitou Nova Orleans, uma cidade ainda arrasada dois anos após o furacão Katrina, e fez o tipo de promessas extravagantes que os candidatos costumam fazer para serem eleitos.

"A América fracassou com a população de Nova Orleans e da Costa do Golfo muito antes desse fracasso aparecer em nossos televisores", disse Obama na ocasião. "A América fracassou com ela de novo durante o Katrina. Nós não podemos –não devemos– fracassar uma terceira vez."

Ele prometeu reconstruir a infraestrutura de atendimento de saúde da cidade com novas instalações e incentivos para os médicos, disse que reconstruiria escolas e forneceria às crianças locais um ensino melhor, assim como prometeu reconstruir a economia local.

Nesta quinta-feira (27), Obama voltará a Nova Orleans para marcar o 10º aniversário do furacão Katrina e enfrentar o tipo de prestação de contas que presidentes devem enfrentar ao término de seu mandato: como a realidade se compara às promessas de campanha?

Muitas das promessas de Obama foram cumpridas, segundo analistas políticos e legisladores de ambos os partidos, apesar dele só poder receber crédito parcial. A economia de Nova Orleans está prosperando, um novo hospital de US$ 1,1 bilhão foi aberto enquanto outros estão sendo construídos, o sistema de ensino foi reformado e a cidade agora está protegida contra uma tempestade que ocorre a cada 100 anos com um sistema de barragens no valor de US$ 14,5 bilhões, que é muito melhor que seu antecessor.

Autoridades locais, estaduais e federais tiveram tanta ou maior importância para a recuperação da região, um ponto que a lista de agradecimentos de Obama reconhece, com mais de uma dúzia de referências a "parceiros".

Mas a recuperação também foi auxiliada por gastos federais autorizados durante os governos tanto de George W. Bush quanto de Obama –quase US$ 71 bilhões em assistência para financiar projetos pequenos e grandes por toda a região. O sul da Louisiana recebeu mais dinheiro para projetos essenciais do que todo o Estado normalmente gastaria em 60 anos.

É claro, muitos dos problemas pré-tempestade da cidade persistem. Seus moradores mais pobres receberam poucos benefícios de recuperação econômica, a reforma das escolas pode não ser tão bem-sucedida quanto é alegado, e alguns defensores temem que o novo hospital atenderá a uma clientela rica, em detrimento de serviços aos pobres.

Mesmo assim, se toda a intervenção local, estadual e federal tivesse fracassado, Obama seria culpado por um fracasso caro. E havia motivos para acreditar na probabilidade de um fracasso: a economia da região e seus sistemas de saúde e ensino apresentavam desempenho ruim há anos, disse Allison Plyer, diretora executiva e demógrafa chefe do Data Center, uma organização independente de pesquisa que se concentra no sul da Louisiana.

"Desastres são conhecidos por acelerar tendências pré-existentes", ela disse, acrescentando, "de modo que não era um bom presságio para Nova Orleans, que já vinha mal antes do Katrina".

Mas a resposta ao furacão Katrina conseguiu reverter essa tendência. Durante o pior da recessão nacional, de 2008 a 2010, a área de Nova Orleans perdeu apenas 1% de seus empregos, em comparação ao nível nacional de 5%, segundo um recente relatório do centro de Plyer. E em 2014, a região contava com 5% mais empregos do que em 2008, em comparação a apenas 1% nacionalmente.

Talvez ainda mais importante, Nova Orleans se transformou em um centro para empregos em tecnologia, mídia e geração de energia elétrica, setores que eram escassos na Nova Orleans pré-Katrina. As novas empresas estão prosperando, o investimento de capital de risco aumentou substancialmente e o setor de turismo está se saindo bem, com um aumento de 22% no tráfego de passageiros no Aeroporto Internacional Louis Armstrong em relação a 2008, em comparação a um aumento nacional de apenas 5%.

"Este presidente tem sido espetacular em sua parceria comigo e com o restante da população de Nova Orleans na reconstrução desta grande cidade americana", disse o prefeito Mitch Landrieu em uma entrevista nesta semana. "Desde o dia em que tomou posse, este presidente sempre esteve presente."

O jorro de ajuda federal transformou o setor de saúde, com o decrépito Charity Hospital da cidade substituído pelo novo Centro Médico Universitário de US$ 1,1 bilhão, além do novo hospital da Assuntos de Veteranos e um novo hospital de reabilitação que estão em construção. Dezenas de novas clínicas comunitárias foram abertas em 60 endereços por toda a Grande Nova Orleans, em comparação a apenas um punhado que operava em 2004, fornecendo atendimento primário desesperadamente necessário e em grande parte gratuito sob um programa federal.

Uma nova verba de US$ 1,8 bilhão da Agência Federal de Gestão de Emergências permitiu a Nova Orleans repensar suas escolas da estaca zero. As autoridades criaram um sistema que, apesar de ainda sofrer com as vastas diferenças de renda entre as crianças brancas e negras, supera em muito o sistema pré-Katrina nos resultados de exames e nos rankings estaduais.

O secretário de Educação, Arne Duncan, chamou o furacão Katrina de "a melhor coisa que aconteceu ao ensino em Nova Orleans", um comentário provocador que muitos disseram ser preciso.

A ex-senadora Mary L. Landrieu, democrata da Louisiana, e irmã do prefeito que ajudou na aprovação de grande parte da legislação que custeia esses esforços, disse que após um mal começo durante o governo Bush, a coordenação entre as autoridades locais, estaduais e federais para os esforços de reconstrução melhorou substancialmente. Isso porque Obama instruiu aos membros de seu Gabinete que fizessem tudo o que pudessem pela área, ela disse.

"E até onde sei, todos eles fizeram, e trabalhei estreitamente com quase todos eles", ela disse.

De fato, esses elogios são gerais e bipartidários. Até mesmo os assessores do governador Bobby Jindal da Louisiana, um republicano que agora está concorrendo à presidência, se recusaram a criticar os esforços de reconstrução do presidente.

O esforço intenso permitiu ao governo Obama se distinguir do governo Bush, cuja má resposta inicial ao furacão Katrina foi amplamente criticada. Mas Obama se beneficiou com a mudança na prefeitura na eleição de 2010, ao ter Landrieu como prefeito, disse Ed Chervenak, diretor do Centro de Pesquisa de Opinião da Universidade de Nova Orleans.

"Assim que Mitch Landrieu chegou, foi possível realmente ver as coisas sendo feitas", disse Chervenak.

Tradução: George El Khouri Andolfato