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Economia e turismo do Egito também têm esperanças pela tumba de Nefertiti

Mohamed Abd El Ghany/ Reuters
Imagem: Mohamed Abd El Ghany/ Reuters

Kareem Fahim

Em Luxor (Egito)

01/12/2015 06h00

 
Por semanas, um grupo de exploradores analisou as paredes de uma tumba no Vale dos Reis, usando radar e dispositivos infravermelhos, na esperança de que a ciência possa confirmar a teoria de um egiptólogo: a de que escondida atrás de uma parede da câmara funerária do rei Tutancâmon se encontra a muito procurada tumba da rainha Nefertiti.

A perspectiva dessa descoberta é muito atiçadora e seria uma descoberta momentosa como as realizadas aqui há quase um século, disseram autoridades de antiguidades. Também ocorreria em um momento em que o setor de turismo do Egito, paralisado há anos devido aos distúrbios políticos e temores de ataques por militantes, necessita urgentemente de boas notícias.

Para o conhecido egiptólogo Nicholas Reeves, os testes poderiam confirmar seus argumentos de que duas das paredes na tumba de Tutancâmon, também conhecido como rei Tut, provavelmente escondem salas escondidas, e que a própria tumba é de fato uma antecâmara de um complexo fúnebre maior pertencente a Nefertiti, a poderosa rainha do faraó Akhenaton que, segundo algumas teorias, o sucedeu como governante do Egito.

Reeves reconhece que as autoridades egípcias, incluindo alguns de seus colegas na busca, não compartilham sua convicção de que Nefertiti está aguardando para ser encontrada em alguma câmara não descoberta.

Para o Egito, há muito em jogo. O governo está desesperado pelo tipo de descoberta arqueológica monumental que possa atrair os turistas de volta aos seus monumentos antigos. Os visitantes foram afugentados de toda parte, exceto as praias do Egito, e nas últimas semanas os resorts à beira-mar também ficaram vazios, depois que militantes reivindicaram a responsabilidade pela queda de um avião cheio de turistas russos no final de outubro, que matou todos a bordo.

Com esse senso de urgência, os exploradores saíram da tumba de Tutancâmon neste fim de semana, claramente extenuados pelo trabalho, mas trazendo o que disseram ser notícias promissoras: as sondagens por radar forneceram fortes evidências da existência de câmaras atrás das paredes. Mamdouh Eldamaty, o ministro das Antiguidades do Egito, disse em uma coletiva de imprensa para anúncio dos resultados que há uma chance de "aproximadamente 90%" de que algo –"outra câmara, outra tumba" –esteja aguardando além da câmara funerária de Tutancâmon para ser descoberta.

"Eu acho que é um resultado muito bom", ele disse, acrescentando que uma maior análise dos dados por radar seria realizada nas próximas semanas para determinar mais precisamente o que há além das paredes. Depois disso, os pesquisadores poderiam perfurar as paredes para olhar ainda melhor, apesar de não haver um prazo determinado para esse passo.

Horas após a coletiva de imprensa, os exploradores voltaram à tumba de Tutancâmon, onde Hirokatsu Watanabe, o especialista japonês que está realizando as sondagens por radar, analisava uma área fora da entrada da câmara funerária. Watanabe arrastava seu dispositivo prateado, de aparência surrada, de um lado para outro, pela terra, enquanto jornalistas seguiam cada passo e outro membro da equipa realizava anotações.

Entre os que assistiam estava Mustafa Waziry, o diretor de antiguidades de Luxor. "Sou um arqueólogo, não sei o que isso significa", disse Waziry, falando sobre os resultados dos testes de radar. Mas as implicações eram claras.

"Se descobrirmos algo, virará o mundo de cabeça para baixo", ele disse. "E as pessoas virão."

É o que ele torce. Waziry e seus colegas observaram com angústia a queda do turismo nos últimos quatro anos, após o levante contra o presidente Hosni Mubarak em 2011.

No ano anterior ao levante, ele disse, 12 mil pessoas por dia aguardavam em longas filas para visitar as atrações em Luxor. Em 2012, o número despencou para menos de 300 por dia, espelhando um desaparecimento mais amplo por todo o país dos prezados turistas culturais, que gastavam generosamente durante visitas prolongadas aos templos e museus do Egito.

Os números voltaram recentemente a crescer, até a queda do avião russo, que aumentou as preocupações de segurança nos aeroportos egípcios e fez vários países suspenderem ou restringirem as viagens aéreas ao Egito.

"Estamos afundando no oceano", disse Waziry, enquanto Watanabe guardava seu equipamento. "Nós precisamos de algo assim."

Reeves, que já trabalhou no Museu Metropolitano de Arte de Nova York, deu início à busca com um artigo publicado em julho deste ano, intitulado "The Burial of Nefertiti?" ("A tumba de Nefertiti?" em tradução livre). Seu ponto de partida era uma análise de fotografias coloridas em alta resolução da tumba, publicadas em 2014 pela Factum Arte, uma empresa espanhola especializada em reproduções de arte.

"Uma avaliação cautelosa dos escaneamentos da Factum Arte ao longo de vários meses produziu resultados que são além de intrigantes: indicações de duas portas antes desconhecidas", ele escreveu. Uma provavelmente era um depósito, ele disse, e a outra, na parede norte da tumba, provavelmente era uma continuidade da tumba, contendo "um internamento real anterior –o da própria Nefertiti, célebre consorte, corregente e posterior sucessora do faraó Akhenaton".

Reeves citou outras evidências de apoio, argumentando que aquele que é considerado como sendo o túmulo de Tutancâmon, descoberto por Howard Carter em 1922, foi na verdade "iniciado e utilizado para o sepultamento de Nefertiti".

Quando Tutancâmon morreu inesperadamente aos 19 anos –cerca de uma década após a morte de Nefertiti– a tumba dela foi reaberta e parte dela foi reconfigurada para acomodar o jovem rei, segundo Reeves.

Pelo menos um egiptólogo proeminente acredita que o projeto não resultará em nada. O dr. Zahi Hawass, um ex-ministro das Antiguidades egípcio, que por anos foi a face pública cheia de vanglória das descobertas arqueológicas do país e um gerador de turismo, listou os motivos para não haver nada escondido atrás das paredes –e certamente não Nefertiti, segundo ele.

"Sou um arqueólogo há 40 anos", disse Hawass. "Posso sentir o cheiro de uma descoberta, e não há nenhuma descoberta ali."

Mas apesar de suas críticas, Hawass reconheceu que "todos nós estamos desesperados por boas notícias". Independente de uma descoberta estar próxima ou não, a busca em si começou a dar esperança aos proprietários das agências de viagem e mercados vazios de Luxor.

Bahaa Youssef, que trabalha como gerente de viagens na Sunrise Tours na cidade, disse que a empresa está ficando sem formas inventivas de ganhar dinheiro. "O Egito precisa de grandes eventos, para fazer com que as pessoas olhem de novo para nós", disse Youssef.

Com suas equipes, Reeves e seus colegas ao menos estão criando interesse, talvez seguindo o exemplo de Hawass, como sua teatralidade e grandes pronunciamentos.

"Se encontrarmos o que acho que está lá", disse Reeves, "será maior do que Tutancâmon".