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Homem encontra cartas centenárias para o Papai Noel na chaminé de sua casa nos EUA

Yana Paskova/The New York Times
Imagem: Yana Paskova/The New York Times

Corey Kilgannon

Em Nova York (EUA)

25/12/2015 06h00

Na semana passada, Peter Mattaliano, 66, professor de atuação e roteirista, decorou seu apartamento em Manhattan para o Natal e colocou os presentes para as crianças: Maria e Alfred. Mas eles não são filhos de Mattaliano, e não estão mais vivos. Há um século, eles viviam no que hoje é a casa de Mattaliano.

Ele vem homenageando Maria e Alfred todo mês de dezembro, nos últimos 15 anos, desde que soube da existência das crianças quando reformou a lareira. Ela ficou fechada com tijolos por mais de 60 anos.

“Meu irmão é construtor e eu pedi para ele abrir a lareira”, disse ele. “Nós brincamos que íamos encontrar o dinheiro de Al Capone. Então, meu irmão gritou para mim e disse: 'você não vai acreditar nisso'.”

No meio do entulho e da poeira, o irmão de Mattaliano encontrou um pedaço de papel delicado com a letra já meio apagada de uma criança, com um pedido para o Papai Noel feito um século atrás.

“Eu quero um tambor e um caminhão de bombeiros com uma escada com extensão”, dizia a carta. Ela estava datada de 1905 e assinada por “Alfred McGann”, e incluía o endereço do prédio.

Havia um outro item no entulho: um pequeno envelope endereçado o Papai Noel na “Terra das Renas”. Lá dentro havia uma segunda carta, esta datada de 1907 e escrita pela irmã mais velha de Alfred, Mary, que tinha desenhado um selo postal de rena.

“As cartas foram escritas nesta sala, e por cem anos elas simplesmente ficaram lá, esperando”, disse Mattaliano.

Ele descobriu através de uma pesquisa genealógica pela internet que os dois irmãos eram filhos de Patrick e Esther McGann, imigrantes irlandeses que se casaram em 1896. Mary nasceu em 1897 e Alfred em 1900.

A família morava na 447 West 50th Street, onde Mattaliano vive agora em um apartamento no quarto andar, cheio de livros sobre atuação e lembranças de seus tempos como arremessador nas ligas de softball do Central Park.

Patrick McGann morreu em 1904, então quando as crianças escreveram as cartas e as deixaram na chaminé, elas não tinham mais o pai e eram criadas pela mãe Esther McGann, que era costureira.

A carta de Mary é tão comovente quanto a de Alfred é cativante.

“Querido Papai Noel: Estou muito feliz que você virá hoje a noite”, diz a carta, com o papel em parte carbonizado. “Meu irmão mais novo gostaria que você trouxesse um vagão que eu sei que você não tem dinheiro para comprar. Então peço para que você traga para ele o que achar melhor. Por favor me traga alguma coisa bonita, o que achar melhor.”

Ela assinou como Mary McGann e acrescentou: “P.S.: Por favor, não se esqueça dos pobres.”

Mattaliano, que leu a carta inúmeras vezes, ainda balança a cabeça ao ler a pobreza implícita, o estoicismo e a abnegação da última linha, partindo de uma menina que pede um vagão para seu irmão em primeiro lugar e nada específico para si mesma.

As cartas se tornaram seu “bem mais precioso”, disse Mattaliano, que as emoldurou e todo ano as pendura acima da lareira onde foram descobertas. Na sexta-feira, ele acrescentou a decoração, além de um caminhão de brinquedo, um vagão em miniatura e uma boneca. “Eu queria que eles tivessem um presente de Natal, ainda que cem anos atrasado”, disse ele.

Mattaliano, que viveu em Manhattan há 36 anos, vê as cartas das crianças como um testemunho das dificuldades dos imigrantes em Nova York e do bairro de Hell's Kitchen, quando este era pobre e de maioria irlandesa.

“Estou compartilhando o espaço em que viviam”, disse ele, acrescentando que adotou os espíritos dessas crianças, congelados na expectativa do Natal. Seus espíritos permanecem no apartamento, ele acredita, sempre jovens, como num globo de neve.

Ele começou a procurar em sites de genealogia e encontrou dados do censo que tinham informações básicas sobre a família. Com a ajuda de um repórter e um pesquisador do "New York Times", ele descobriu mais, inclusive a morte do pai.

Em 1920, Mary, Alfred e a mãe se mudaram para a West 76th Street. Quando adultos, Mary trabalhou como taquígrafa e Alfred como impressor. Em 1930, Mary se casou com George McGahan, de mesmo sobrenome, e se mudou para o Bronx e mais tarde para Queens. Seu irmão também se casou.

Mas, até agora, Mattaliano não encontrou nenhum parente vivo deles. Os irmãos não parecem ter tido filhos e ambos aparentemente morreram no Queens; Mary em 1979, aos 82 anos, três anos depois do marido. Ela está enterrada em Flushing. Não se sabe ao certo onde Alfred foi enterrado, talvez porque seu nome de nascimento era John Alfonse McGann. Ele parece ter morrido sem filhos em 1965 no Queens. Sua mulher, Mae, morreu em 1991.

Mattaliano se encontrou com Bruce Abrams, um voluntário da Divisão de Registros Antigos da Surrogate's Court, tribunal responsável pelas certidões de óbito, em Lower Manhattan, e viu a prova documental da morte do pai das crianças em 1904.

“Então a mãe deles passou a sustentar a casa --e é por isso que eles não podiam comprar um vagão de brinquedo”, disse ele. “Ela ficou viúva aos 35 anos com dois filhos.”