Bill Clinton está em forma, mas parece não ter a mesma magia do passado
Bill Clinton chegou à cidade rica em votos de Mason City, na noite de quarta-feira (6), e narrou as experiências de vida de sua esposa, recitou as ideias dela e criticou um pouco os republicanos. Mas o que Clinton costumava fazer tão bem –e o que Hillary Clinton precisa, restando apenas dias para a primária de Iowa nesta segunda-feira– estava ausente: uma crítica polida e contundente ao oponente, neste caso Bernie Sanders.
Em um evento em Las Vegas na semana passada, Clinton, 69 anos, parecia menor e sua voz parecia mais fraca do que em campanhas anteriores, e as pessoas às vezes tinham dificuldade em ouvi-lo.
Ele estava em forma ao expor as complexidades da política e das políticas, mas ocasionalmente rodeava, deixando a plateia, inclusive algumas pessoas que ficaram horas na fila para vê-lo, parecendo mais atenta por educação do que inspirada.
Em um momento crítico em que o ex-presidente novamente está respondendo ao chamado para tentar energizar a campanha de sua esposa, até mesmo alguns admiradores de Clinton estão se perguntando se ele perdeu parte da velha magia.
"Ele parece estar falando apenas por obrigação, parece magro, não parece cativar o público", disse Jon Ralston, um comentarista político veterano em Nevada, que esteve presente em um evento de campanha de Clinton em Reno, na última sexta-feira. "Eu já o vi falar muitas vezes e ele não parecia ser o mesmo sujeito. Ele ainda consegue fazer uso de estatísticas e contar um caso ou dois, mas não com o mesmo vigor."
Clinton ainda exibe alguns lampejos de brilhantismo. Na noite de quarta-feira, ele reconheceu o apelo da disputa republicana turbulenta em uma frase, para em seguida eviscerar seus candidatos.
"Pode ser divertido, mas não tem o mínimo impacto na forma como você vive", disse Clinton, enfatizando as últimas três palavras e fazendo uma pausa entre cada uma.
Ainda é cedo na disputa para que Clinton se aqueça. (E ele pode precisar de algum tempo para se aquecer.) Um Bill Clinton mais contido também pode não ser ruim, dizem alguns democratas, que ainda se encolhem ao se lembrarem do resultado negativo de suas palavras a respeito de Barack Obama na disputa de 2008.
Mas o Clinton de outrora, o político natural que surge uma vez em cada geração e que lutou para conquistar a indicação por seu partido em 1992, e que ao longo dos anos fez grandes discursos em momentos críticos, ainda não apareceu.
Em 1992, em um discurso em um hotel em New Hampshire Elks pouco antes das primárias do Estado, ele levou homens adultos às lágrimas ao descrever suas dificuldades econômicas. Ele prometeu de forma memorável que se os eleitores o apoiassem, ele lutaria por eles como presidente até "que o último cão morra".
Os amigos de Clinton que o viram recentemente na campanha dizem que a energia efervescente pela qual ele é conhecido –seja discursando para uma plateia ou passando uma hora no corpo a corpo com os eleitores– amadureceu na autoconfiança de um estadista mais velho. Ele pode não eletrizar uma sala da mesma forma como fazia, eles dizem, mas ele ainda é um defensor eficaz de Hillary Clinton.
"Sua idade, sua cirurgia no coração, seu veganismo –acho que tudo isso trouxe uma calma à sua vida", disse George Bruno, um ex-presidente do Partido Democrata em New Hampshire e um antigo aliado de Clinton, referindo-se à cirurgia de ponte de safena quádrupla do ex-presidente em 2004 e sua rígida dieta vegetariana.
Apesar de alguns amigos dizerem que Clinton ficaria mais animado se comesse um cheeseburger ocasional –um velho favorito– outros dizem que ele nunca esteve com tanta saúde, com peso sob controle e seu coração em excelentes condições.
"Ele não é mais tão inflamado quanto antes, mas ele agora exibe um ar de verdadeira autoconfiança", disse Bruno.
Aliados dizem que ele não vê necessidade de criticar plenamente tanto Donald Trump, o principal candidato republicano, ou Sanders, o principal adversário de Hillary na disputa democrata, pois acredita que sua esposa pode lidar com eles. E ele quer evitar dar munição aos oponentes dela, lembrando de como a campanha de Obama explorou o comentário de Bill Clinton em 2008, descrevendo a declaração de Obama de que se opôs à guerra no Iraque como sendo "o maior conto de fadas que já vi".
"Eu acho que ele se tornou mais cauteloso, mais hesitante, menos ousado", disse Doug Schoen, um ex-conselheiro de Bill Clinton e especialista em pesquisas de opinião. "Partir para o negativo não é seu forte nas campanhas dela. Seu forte é desenvolver uma narrativa positiva e empática para o motivo para a sra. Clinton dever ser presidente."
Mas alguns eleitores que ouviram os discursos de Clinton ao longo de décadas, pela televisão ou em eventos de campanha, disse que ele exibe menos magnetismo recentemente do que se recordam.
"Ele está mais discreto do que costumava ser, realmente se atendo aos fatos do que estabelecendo aquela velha conexão emocional", disse Karen Janes, 67 anos, de Exeter, New Hampshire, após ouvir o discurso de Clinton ali neste mês.
Atualmente, os comentários de Bill Clinton podem ser vagarosos, às vezes até com divagações. Passados 30 minutos na noite de quarta-feira, algumas pessoas estavam bocejando e outras checando seus telefones enquanto ele mencionava o aumento do salário mínimo (com bem menos intensidade que o apelo passional de Sanders por US$ 15 por hora) e descrevia os planos de Hillary de novas regulamentações para Wall Street.
Paul Begala, o ex-conselheiro político de Bill Clinton e um amigo do casal, disse que a maior força do ex-presidente agora é como "autenticador de Hillary, em parte por já ter exercido o cargo que sua esposa agora está almejando".
"A maioria das pessoas, e não apenas democratas, sente que Clinton foi um presidente muito bom", disse Begala. "E todos esses medrosos que fazem xixi na cama que dizem, 'Ah, ele vai cometer um erro' –qualé! Ele ainda é o melhor político natural que existe."
Como um exemplo das habilidades de Clinton, Begala apontou para uma recente parada de campanha em Concord, New Hampshire, onde o ex-presidente agradeceu aos eleitores do Estado por serem bons para o casal Clinton e por lhes ensinar sobre as questões enfrentadas pelos Estados Unidos. Então, em um tom cordial, sem pressa, com movimentos gentis de suas mãos, Clinton empregou uma metáfora para descrever as esperanças e ansiedades dos eleitores nos anos de eleição presidencial.
"O povo americano se parece com um grande compositor –as palavras são sempre as mesmas, mas são arranjadas como notas, e ele compõe uma nova melodia e então decide quem deseja que a cante", disse Clinton.
Begala disse: "Eu adoro o fato de onde muitos analistas verem cacofonia, ele vê uma sinfonia. Clinton clássico: otimista, unificador".
*Adam Nagourney, em Las Vegas, contribuiu com reportagem
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