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Sem caminhões: Nova York tem serviço de mudança com bicicletas de carga

Karsten Moran/The New York Times
Imagem: Karsten Moran/The New York Times

Colin Moynihan

Em Nova York (EUA)

16/02/2016 06h00

Os carregadores chegaram ao apartamento de Barbara Ross, no Lower East Side de Manhattan, levando sacolas de roupas e calçados, fotos emolduradas e caixas de CDs. Eles desciam os itens e os carregavam em quatro longas bicicletas de carga estacionadas na Ridge Street.

À medida que aumentava o número de objetos sobre as estruturas magras, as bicicletas lembravam uma fila de mulas de carga preparadas para uma travessia de fronteira. A carga, incluindo uma estante de livros de madeira de 2 metros de altura, estava presa por fortes cintas de lona e entrecruzadas por cordas elásticas. Os transeuntes olhavam curiosos enquanto os carregadores ajudavam a encaixar os objetos de formatos diferentes na plataforma de carga da bicicleta.

Durante mudanças de um apartamento para outro, as pessoas em Nova York costumam contratar empresas de mudança, lotarem seus bens em carros ou vans alugadas, ou transportarem caixas e móveis pelo metrô.

Ross, 52 anos, uma gerente de vídeo de treinamento que acabou de comprar um apartamento perto da Union Square, contratou os membros da Cargo Bike Collective (cooperativa de bicicletas de carga), um grupo livre de pessoas que possuem e andam em bicicletas extra longas, que as utilizam tanto em trabalhos remunerados quanto em projetos voluntários.

Um antiga defensora do uso de bicicletas que se juntou à cooperativa, Ross já conhecia muitos de seus membros. Ela pagou aos quatro que compareceram um preço com desconto de US$ 400 (cerca de R$ 1.600) pela ajuda deles na mudança de seus pertences. O preço habitual seria de US$ 600 (cerca de R$ 2.400), ou US$ 150 por hora por um grupo de quatro pessoas realizando quatro horas de mudança, segundo Joe Sharkey, um membro fundador da cooperativa.

Mudança em Nova York em bicicletas de carga - Karsten Moran/The New York Times - Karsten Moran/The New York Times
Imagem: Karsten Moran/The New York Times

"Eu sempre defendi o uso de bicicletas em vez de carros", disse Ross. "De modo que se pudesse encontrar uma forma de realizar minha mudança usando bicicletas de carga em vez de um caminhão de mudança, é claro que as utilizaria."

Os membros da cooperativa transportam vários objetos regularmente, disse Sharkey, mas realizam mudanças apenas cerca de meia dúzia de vezes por ano.

Enquanto carregava as bicicletas do lado de fora da casa de Ross, Corey Farach, 29, fez uma breve descrição de cada. Eram duas bicicletas dinamarquesas: uma Bullit branca apelidada de Kon-Tiki, que contava com uma plataforma de carga entre seu guidão e a roda dianteira, e uma Omnium preta com uma plataforma sobre sua roda dianteira. Também havia uma Freighty Cat laranja puxando um reboque Surly e uma Birota verde que foi alistada para a ocasião.

Os membros da cooperativa disseram que ao longo dos anos usaram as bicicletas de carga para transportar caixas de bolos de amêndoa, pilhas de jornais, resmas de papel e, certa vez, um gato a caminho do Aeroporto Internacional Kennedy. Ryan Backer, 27, disse que transportou em 2013 um freezer estocado de 1,5 metro,

A cooperativa foi fundada em 2012 por um grupo de pessoas que usavam bicicletas de carga para finalidades diversas, como transporte de equipamento de construção e levar as crianças para a escola. Segundo sua página no Facebook, o grupo busca "uma redução radical da dependência de automóveis em Nova York".

Mudança em Nova York em bicicletas de carga - Karsten Moran/The New York Times - Karsten Moran/The New York Times
Imagem: Karsten Moran/The New York Times

Sharkey, 34 anos, disse que a cooperativa funciona como uma "sociedade beneficiária fraterna", e que os membros estão discutindo como formar novas sedes locais e fornecer seguro saúde para eles mesmos e outros membros da comunidade de ciclismo, incluindo mecânicos, mensageiros e fabricantes de quadros. Ele disse que o grupo também ajuda pessoas a aprenderem a conduzir bicicletas de carga, que são complicadas por causa de seu comprimento e peso quando plenamente carregadas.

"Trata-se de equilíbrio e embalo", ele disse. "Mas ajuda ser destemido."

No dia da mudança de Ross, as bicicletas de carga partiram em um ritmo sem pressa, primeiro seguindo na direção oeste, pela Rivington Street, depois norte pela Avenue A e cruzando a 15th Street, na direção de seu novo lar. Ela os acompanhou, montada em um triciclo Worksman que transportava itens em uma cesta entre as duas rodas traseiras.

A viagem foi tranquila, mesmo quando a certa altura um ônibus se aproximou repentinamente atrás das bicicletas, como uma barcaça elevada se aproximando de uma fila de rebocadores. Em outro momento, uma bicicleta de carga teve que desviar de um pedestre que saiu desatento por entre dois carros estacionados.

Os membros descarregaram suas bicicletas do lado de fora do prédio na 15th Street e transportaram os itens escada acima. Então, após uma pausa para beber latas de água de coco e esquentar os dedos gelados, eles retornaram ao Lower East Side para uma segunda viagem.

"Eu antes usava uma Zamboni", disse Justin Smith, 29 anos, na segunda viagem pela Avenue A, transportando um espelho e um tampo de mesa de vidro, ambos envoltos em toalhas, e uma escada de alumínio, entre outros itens. Ele disse que sua experiência nos rinques de patinação provavelmente ajudou a prepará-lo para a tarefa de pedalar com uma bicicleta carregada pelas ruas movimentadas de Manhattan.

"Em ambos os casos, todo o peso fica à sua frente", ele disse. "E em ambos os casos, é necessário ser preciso na condução."