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Busca por história da família no Holocausto leva a descoberta de valas comuns na Polônia

Michael Pomeranc mostra fotos de seu pai, sobrevivente do Holocausto - Natalie Keyssar/The New York Times
Michael Pomeranc mostra fotos de seu pai, sobrevivente do Holocausto Imagem: Natalie Keyssar/The New York Times

Julie Satow

Em Nova York (EUA)

06/05/2016 06h00

Durante a infância de Michael Pomeranc em meados dos anos 60 no bairro de Rego Park, no distrito de Queens, seus pais e os amigos deles passavam incontáveis noites discutindo suas terríveis experiências na Segunda Guerra Mundial. Todos eram sobreviventes do Holocausto e Pomeranc os via com frequência fumando sem parar e chorando até tarde da noite. A ausência de qualquer coisa tangível em suas histórias era o que mais o atormentava.

"Não conseguir entender para onde todos foram foi muito, muito traumatizante", disse recentemente Pomeranc, 58 anos, um hoteleiro proeminente de Nova York, sentado no lobby de seu hotel, o Sixty SoHo. "O que aconteceu com os cemitérios dos meus bisavós? Onde estão meus avós e minhas tinhas? É possível ir lá? É possível ver algo? Era como se estivessem conversando em um abismo."

A família Pomeranc é conhecida nos círculos imobiliários de Nova York. Jack Pomeranc chegou aos Estados Unidos depois da guerra e fez fortuna construindo imóveis residenciais e hotéis próximos do aeroporto, principalmente em Nova Jersey. Atualmente com 88 anos, ele ainda segue com frequência de seu apartamento na Quinta Avenida até seu escritório em Fort Lee. Seus filhos, Larry, Michael e Jason, o mais jovem e uma presença frequente nas páginas de moda, construíram uma rede nacional de hotéis-butique que atraem celebridades.

Mas o passado sempre esteve com eles, particularmente com Michael, que passou quase três décadas trabalhando para descobrir o destino de seus parentes assassinados, vistos pela última vez em Adampol, uma cidade rural polonesa próxima de Belarus. Nos anos 90, ele começou a analisar registros históricos e a rastrear pistas pela Europa. Mas foi apenas neste ano, quando Caroline Sturdy Colls, uma arqueóloga forense contratada por ele, concluiu três anos de pesquisa, que seus esforços o levaram de volta a Adampol.

Em janeiro, Sturdy Colls, uma professora associada de arqueologia forense e investigação de genocídio da Universidade de Staffordshire, na Inglaterra, publicou a primeira investigação plena de Adampol. Segundo as descobertas dela, até 1.000 judeus vítimas do Holocausto estão enterrados ali em valas comuns, sob terras agrícolas, bosques, lixão e um campo de tiro. Graças a Pomeranc, agora esforços estão em andamento para o erguimento de um monumento e tombamento do local.

"Adampol é significativa", disse Paul Shapiro, diretor do Centro Jack, Joseph e Morton Mandel para Estudos Avançados do Holocausto, no Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, em Washington. "Realmente saber, e não imaginar, onde se encontram esses lugares é importante. E é claro que isso gera a pergunta: assim que sabemos, o que o mundo fará a respeito?"

Nos últimos anos, pesquisadores descobriram uma vasta rede de mais de 42 mil campos e guetos nazistas relativamente desconhecidos, muitos dos quais ficavam atrás da Cortina de Ferro ou tiveram poucas testemunhas sobreviventes que pudessem contar suas histórias. A maioria dos locais permanece não marcada, abandonada e mal documentada. As tentativas de marcar essas áreas estão aumentando e são com frequência controversas.

"A verdade é que hoje, em alguma cidade pequena, alguém decide construir um supermercado e quando começa a cavar, encontra restos mortais", disse Shapiro. "A menos que algo seja feito, existe a perspectiva de restos mortais de vítimas do Holocausto ficarem simplesmente espalhados pelo continente europeu com, no final, alguma construção sobre eles."

A preservação de uma área como memorial pode ser um processo complexo que exige a cooperação das autoridades locais e do governo polonês. O rabino chefe da Polônia, Michael Schudrich, que também precisa aprovar, está no momento analisando as descobertas em Adampol.

Adampol não tem importância apenas para a família Pomeranc. Sobreviventes se estabeleceram em vários países, incluindo o Reino Unido, Canadá e Israel, e muitos desde então voltaram a ter contato via Facebook e outros canais online.

"Adampol foi uma catástrofe horrível, mas da qual ninguém ouviu falar", disse Helen Maryles Shankman, que vive em Teaneck, Nova Jersey.

Adampol possuía uma propriedade rural de um príncipe polonês, que foi convertida durante a guerra em um campo de trabalho escravo. Os judeus trabalhavam os campos da propriedade e dormiam nos celeiros e estábulos.

No início, os judeus das áreas ao redor seguiram para Adampol, movidos pela noção equivocada de que era mais segura do que permanecer nas cidades e guetos, onde as execuções e deportação para o campo de extermínio de Sobibor eram cada vez mais comuns. Como muitos outras, a família Pomeranc, incluindo Jack, seus pais e cinco de seus irmãos, buscaram refúgio lá (uma irmã mais velha, Chaja, tinha fugido antes para Belarus).

Adampol revelou não ser o refúgio que a família Pomeranc esperava. As condições no campo eram inegavelmente duras, com horas intermináveis de trabalho braçal e rações magras. A ameaça constante de fuzilamentos em massa era o mais assustador.

"Tínhamos medo a cada minuto de cada dia", disse Jack Pomeranc. "Em intervalos de poucos meses ocorriam fuzilamentos. Nunca sabíamos quando. Eles apareciam de repente e todos tentavam fugir e se esconder. Tínhamos sorte da floresta ficar próxima."

Para fornecer um pouco de conforto ao seu pai e algum encerramento para si mesmo, Pomeranc decidiu descobrir o máximo que podia sobre a família. Ele pesquisou certidões de nascimento, documentos escolares e outros documentos pessoais. Ele contratou pesquisadores para entrevistar os moradores de Adampol e vilarejos onde sua família viveu antes da guerra. Ele ofereceu recompensas (sem que se fizesse perguntas) caso itens que antes pertencentes a judeus fossem devolvidos. Ele conseguiu encontrar algumas poucas fotografias, mas nada mais.

Então Pomeranc contratou Sturdy Colls, que realizou uma pesquisa semelhante em Treblinka, um campo de extermínio nazista na Polônia. Como a lei judaica proíbe que os mortos sejam perturbados, escavações arqueológicas em sítios do Holocausto não são possíveis. Em vez disso, ela analisou milhares de páginas de julgamentos pós-guerra, depoimentos de testemunhas e documentos do governo, revelando histórias da vida no campo e os assassinatos que ocorreram lá.

Ela visitou Adampol, na esperança que encontrar evidência a olho nu e foi bem-sucedida. "Ao lado de um dos prédios alguém abriu um buraco para um cano de escoamento e havia ali no solo fragmentos de ossos queimados que eram fáceis de ver, assim como era possível ver que havia ossos adicionais, de forma que provavelmente foram espalhados", ela disse.

Sturdy Colls também empregou tecnologias avançadas como detecção e medição de distância por luz, ou Lidar, que dispara pulsos de raio laser de sensores montados em uma aeronave ou satélite para medir a altura da superfície, produzindo mapas tridimensionais detalhados. Ela descobriu várias grandes depressões indicando valas comuns e uma área onde as sepulturas estavam perfeitamente alinhadas em fileiras. "Acho que pode haver na região entre 800 e 1.000 valas comuns, talvez mais", ela disse.

Apesar de Sturdy Colls ter concluído seu relatório, Pomeranc gostaria que ela voltasse a Adampol para descobrir provas mais definitivas das valas comuns. Mas primeiro precisam obter aprovação de Schudrich.

"As pessoas perguntam, porque revolver tanto esse passado?" disse Pomeranc. "A verdade é que nunca deixamos o passado. Nunca conseguimos deixar totalmente para trás os campos de extermínio, os partidários e as florestas."