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Na busca por respostas, FBI tenta confirmar se atirador de Orlando era gay

12.jun.2016 - Agentes do FBI inspecionam a parede traseira danificada da boate Pulse - Joe Raedle/Getty Images/AFP
12.jun.2016 - Agentes do FBI inspecionam a parede traseira danificada da boate Pulse Imagem: Joe Raedle/Getty Images/AFP

Frances Robles e Julie Turkewitz

Em Orlando, Flórida (EUA)

28/06/2016 06h00

Após relatos na mídia sugerindo que o homem que realizou o massacre na boate Pulse era gay, a empresa que se rotula como "o maior site de encontros gay do mundo" fez um pedido de ajuda, pedindo aos membros que possam ter estado em contato com o atirador, Omar Mateen, que se apresentassem. 

Em uma tentativa de encontrar uma conta associada ao assassino, o site, Adam4Adam analisou as fotos dos perfis de cada um de seus 300 mil membros na Flórida e pesquisou os 20 endereços de e-mail usados por Mateen ao longo dos anos, que a empresa diz terem sido fornecidos pelo FBI (Birô Federal de Investigação, a polícia federal americana). 

O Adam4Adam não encontrou nada. 

"Acho que é uma mentira", disse David Lesage, um porta-voz da empresa com sede em Montreal, sobre os relatos de que Mateen tinha usado o Adam4Adam e outros sites e aplicativos de relacionamento para gays. 

Duas semanas após Mateen ter invadido a boate Pulse em 12 de junho, abrindo fogo contra o público, deixando 49 mortos e outros 53 feridos, os investigadores ainda estão tentando determinar o motivo por trás do massacre. Apesar de as autoridades federais terem dito que Mateen se radicalizou até certo ponto online, pelo menos meia dúzia de homens se apresentaram com alegações insinuando outro motivo potencial, relatando que viram Mateen em boates gays, que o encontraram online ou tiveram encontros românticos com ele. 

As alegações levaram os investigadores a analisaram se Mateen, que ligou para o número de emergência 911 jurando fidelidade ao grupo Estado Islâmico, também era um gay enrustido consumido por sentimentos de autodesprezo e vingança. 

Os investigadores do FBI, que realizaram mais de 500 entrevistas no caso, continuam contatando homens que alegam ter tido relações sexuais com Mateen ou acham que o viram em bares gays. Mas até o momento, não encontraram qualquer corroboração independente (em suas buscas pela Internet, e-mails e outros dados eletrônicos) para estabelecer que ele era gay, disseram as autoridades. 

A questão da orientação sexual faz parte de um esforço mais amplo pelo FBI para estabelecer o perfil criminal de Mateen. Além de ser uma informação fundamental que poderia ajudar a agência a reconstruir o mais mortífero tiroteio em massa da história moderna americana, isso poderia ajudar na criação de uma análise mais ampla do comportamento criminoso e terrorista. 

Tudo o que se sabe sobre Omar Mateen

New York Times

"As pessoas com frequência agem impelidas por mais de uma motivação", disse a procuradora-geral Loretta Lynch aos repórteres durante uma visita aqui na terça-feira (21). "Isto foi claramente um ato de terror e um ato de ódio." 

Uma das primeiras pessoas a levantar a ideia de que Mateen poderia ser gay foi sua ex-esposa, Sitora Yusufiy, que, um dia depois do massacre, disse ao "New York Times" que seu ex-marido com frequência fazia comentários furiosos a respeito da homossexualidade. 

"Se você sabe algo a respeito de psicologia, você sabe que as pessoas que têm um ressentimento realmente forte ou um ódio acima da média por algo, é porque no fundo é o que realmente são", ela disse em uma entrevista em sua casa em Boulder, Colorado. "No Islã, é verdade que há muito pouca tolerância pela homossexualidade. Talvez ele não pudesse ser ele mesmo." 

Mas ela acrescentou que estava especulando e que não havia nada na vida íntima deles que corroborasse esse palpite. 

Vários homens se apresentaram posteriormente para dizer a outros veículos de mídia que Mateen era um frequentador regular do Pulse. (Dois deles, drag queens que se apresentam na boate, se recusaram a comentar para este artigo, dizendo que o foco deveria ser mantido nas vítimas.) 

Outro homem de Orlando, o veterano da Marinha, Kevin West, disse ao "Los Angeles Times" e ao "Washington Post" que se comunicou com Mateen por cerca de um ano no Jack'd, um aplicativo de chat e relacionamento gay. Hector Camacho, o presidente-executivo do Jack'd, disse que a empresa está cooperando com o FBI. 

Um porta-voz da empresa, Jeff Dorta, disse que várias redes de televisão buscaram autenticar a relato exibindo imagens da tela daquela que seria a página do perfil de Mateen no Jack'd, que disseram ter recebido de uma fonte que fez a alegação. Dorta disse que uma análise técnica determinou que o perfil provavelmente não foi criado por Mateen. 

"Apesar de não termos liberdade de comentar detalhes específicos, posso dizer que, por ora, por meio da informação fornecida pelo Jack'd, não pudemos confirmar que Omar Mateen era usuário do Jack'd", disse Dorta. 

Em uma entrevista, West se recusou a compartilhar quaisquer mensagens ou imagens, ou mesmo explicar que aplicativo usava para se comunicar com Mateen. Ele se irritou quando pressionado. "Não preciso provar nada para ninguém", disse West. "Se eu disse, é verdade." 

Na terça-feira, a rede de televisão de língua espanhola "Univision" exibiu uma entrevista com um homem que se identificou apenas como Miguel (seu rosto foi encoberto e sua voz foi distorcida), que alegou ter tido um relacionamento de dois meses com Mateen após conhecê-lo no aplicativo Grindr. 

O homem disse que Mateen tinha perfis em pelo menos três aplicativos de relacionamento gays. Ele disse que eles se encontraram pela primeira vez em outra boate gay em Orlando, a Parliament House, e tiveram mais de uma dúzia de encontros em um hotel da área. 

Miguel disse à emissora que Mateen se sentia rejeitado pelos gays latinos e estava enfurecido com os porto-riquenhos em particular, por já ter tido uma ligação sexual com um homem que confessou posteriormente ser portador do HIV. 

"Acredito que essa loucura horrível que ele fez foi por vingança", ele disse na versão em língua inglesa da entrevista. 

As autoridades federais checaram o relato dele e não o consideraram crível, disse um agente da lei que falou de forma anônima, pois a informação fazia parte de uma investigação em andamento. 

Christopher Hansen, 32 anos, uma testemunha do massacre na boate Pulse, disse que se for confirmado que Mateen era gay, isso poderia dar início a uma conversa sobre a homofobia em lares muçulmanos e de outras religiões, onde a homossexualidade às vezes não é aceita. 

"Talvez isso possa abrir os olhos em todas as religiões", ele disse. 

Pedro Julio Serrano, um ativista gay em Porto Rico, disse ter ficado preocupado pela entrevista na "Univision" reduzir o massacre a uma "desavença pessoal". 

"Não vimos nenhum texto, telefonema, mensagem de voz, e-mail ou mensagens no Facebook", disse Serrano. "Temos que ter muito cuidado aqui. Há 49 famílias que estão sofrendo por terem perdido seus entes queridos e 53 passando por um processo de cura. Não podemos alimentar ou provocar algo que possa aumentar essa dor e esse sofrimento, ou que inflame o sentimento e as emoções que já estamos vivendo."