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Em meio a tensão racial, negros com porte de arma nos EUA temem ações da polícia

7.jul.2016 - Manifestantes protestam em Dallas contra morte de negro, antes de cinco policiais serem assassinados no local por um atirador negro que quis se vingar da polícia - Laura Buckman/AFP
7.jul.2016 - Manifestantes protestam em Dallas contra morte de negro, antes de cinco policiais serem assassinados no local por um atirador negro que quis se vingar da polícia Imagem: Laura Buckman/AFP

John Eligon e Frances Robles

09/07/2016 06h00

É legal carregar uma arma de fogo abertamente no Texas, e Yafeuh Balogun muitas vezes mantém uma Mossberg 500 calibre 12 pendurada do ombro. Ele patrulha seu bairro em Dallas e promove as vantagens da propriedade legal de armas para pessoas que, como ele, são negras.

Mas as questões de raça, policiamento e direito ao porte de armas se transformaram em uma combinação volátil depois de dois tiroteios de policiais contra homens negros, que supostamente portavam armas, nos últimos dias e a morte e ferimento de policiais por atiradores durante um protesto na quinta-feira (07) à noite.

Balogun disse que membros de seu Clube de Armas Huey P. Newton, que leva o nome do cofundador do Partido Panteras Negras, estiveram nos protestos em Dallas na quinta-feira com suas armas de fogo, algo que fazem geralmente "para garantir a segurança da manifestação".

A polícia prendeu no protesto um membro armado do clube, que atende por Reign Ifa, disse Balogun, mas ele insistiu que o membro não teve nada a ver com os tiros disparados.

A presença de rifles longos que grupos como o de Balogun portam abertamente causou certa inquietação durante as demonstrações em Dallas. A polícia divulgou a foto de uma pessoa com uma camiseta camuflada e uma arma pendurada no corpo, chamando-a de suspeito. Mas o homem não esteve envolvido no tiroteio.

Os tiros contra policiais, segundo Balogun, não devem ser motivo para que os negros desistam de suas armas legais.

"Eu não aprovo a morte de ninguém, negro, branco, marrom, pobre", disse Balogun, acrescentando que de qualquer modo ele vê a violência contra os policiais como uma reação a "anos e anos de injustiça".

Balogun disse que ficou arrasado naquela manhã quando soube que um policial de Minnesota tinha matado a tiros um homem negro que, segundo uma testemunha, havia dito ao policial durante uma verificação no trânsito que portava legalmente uma arma de fogo.

"Isso me aterroriza", disse Balogun, 32. "Aqui estou eu dizendo aos negros: 'Podem portar armas de fogo legalmente. Vocês terão uma melhor oportunidade de se defender. Talvez a lei o respeite mais'."

Agora perguntas iradas são feitas sobre se a Segunda Emenda da Constituição é aplicada igualmente a todas as raças. E a morte dos policiais só aprofundou as linhas de falha entre os que apoiam a polícia e os que salientam seus abusos.

A morte a tiros de Philando Castile em Falcon Heights, um subúrbio de St. Paul (Minnesota), ocorre em um momento em que mais negros parecem ver a propriedade de armas como uma maneira de proteger-se da violência. As comunidades negras sofrem a violência armada em índices muito mais altos que as brancas, mas 54% das pessoas negras disseram que as armas mais protegem do que põem em risco a segurança pessoal, segundo uma pesquisa de 2014 do Centro Pew. Isso é 29% a mais que dois anos antes.

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Mas os donos de armas que são negros combatem as percepções negativas.

"É na verdade ir contra o que sabemos que é um estereótipo abrangente da negritude e da criminalidade", disse Robin Wright, um pesquisador no Instituto Kirwan na Universidade Estadual de Ohio que estuda preconceito implícito. "Se você vê um negro com uma arma, não supõe que seja legal."

Colocado de forma mais seca: "A cor da pele é sinônimo de crime", disse Jasmine Rand, advogada de um homem que levou tiros da polícia e mais tarde morreu na Flórida.

Até Castile havia ponderado os perigos de ser um proprietário de arma negro horas antes de morrer, disse sua mãe, Valerie, em uma entrevista à CNN. Ele esteve na casa dela e falou sobre sua permissão de porte oculto a sua irmã, que também tem um, disse Valerie Castile.

"Sabe de uma coisa? Eu realmente nem quero carregar minha arma porque tenho medo de que eles atirem primeiro e depois façam perguntas", lembra Valerie que sua filha teria dito.

Com frequência, nos tiroteios com a polícia, o fato de a vítima portar arma tornou-se uma justificativa imediata. Mas especialistas e ativistas dizem que isso ignora um ponto importante: se alguém estava fazendo algo ameaçador com a arma.

Embora não haja dados sobre se pessoas legalmente armadas, brancas ou negras, são alvo de tiros com maior frequência nos EUA. Especialistas em preconceito implícito disseram que os estereótipos negativos dos negros sugeririam que eles correm maior risco de ter seus atos ou intenções mal interpretados quando portam armas.

O problema também tem antigas origens históricas. Já no século 17 as colônias britânicas expressamente proibiam a propriedade de armas entre os negros e índios. Durante a Reconstrução, juízes e xerifes locais administravam as permissões de armas de maneira racialmente discriminatória. E quando o Legislativo da Califórnia proibiu o porte aberto nos anos 1960 foi em reação ao porte visível de armas pelos Panteras Negras no Capitólio do Estado.

Mas os defensores dos negros armados disseram que eles não devem ser intimidados a não portar armas de fogo.

"Eu acho que há algumas realidades sociais que ocorrem quando você é um homem afro-americano e porta uma arma, abertamente ou escondida", disse Philip Smith, presidente e fundador da Associação Nacional Afro-Americana de Armas. "Você não pode se preocupar com isso. Se eu fosse me preocupar com o que todo mundo está pensando sobre eu carregar uma arma no quadril, eu enlouqueceria."

Balogun ajudou a fundar seu clube de armas em Dallas anos atrás, para organizar e educar sobre o assunto da propriedade de armas por negros. Quando eles carregam abertamente suas armas, sempre tentam se deslocar em grupos ou ter uma câmera gravando. Isso é para garantir que testemunhas possam comprovar que não estão fazendo nada errado.

"A ideia de um homem negro com uma arma assusta a América", disse ele. "Eles automaticamente temem que estejamos buscando alguma forma de vingança. Não queremos vingança. Apenas queremos proteger nossa comunidade e nossas casas."