Topo

Palanque publicitário em campanha sugere que Trump está olhando além do dia da eleição

Stephen Crowley/The New York Times
Imagem: Stephen Crowley/The New York Times

Maggie Haberman e Nick Corasaniti

28/10/2016 06h00

À medidas que seus números caem nas pesquisas de intenção de voto nas semanas finais da corrida presidencial, Donald Trump deu início a pouco veladas promoções de sua marca comercial, arrastando os repórteres para suas propriedades entre eventos de campanha.

Na terça-feira, Trump adicionou uma aparição repentina no Trump National Doral, um de seus campos de golfe e resorts na Flórida, ostensivamente para demonstrar quantos funcionários ele têm lá e o quanto eles o admiram como chefe.

Na quarta-feira, em vez de passar a manhã em um dos Estados indefinidos onde as pesquisas o mostram atrás de Hillary Clinton, Trump participou da inauguração de seu hotel elaboradamente reformado no velho prédio dos Correios, na Pennsylvania Avenue, em Washington.

As paradas são uma demonstração notável de promoção pessoal por parte de um candidato presidencial, levantando questões sobre se o empresário, que vive segundo o mantra de que "toda publicidade é boa publicidade", está em parte voltando sua atenção para além da disputa de 2016, visando reforçar a marca que leva seu nome.

Em uma entrevista por telefone, Trump rejeitou essas perguntas e disse que estava demonstrando suas credenciais para a presidência nesses eventos, ao mostrar o tipo de eficiência que levaria ao governo.

"Hoje, foi sobre empregos. Amanhã, será sobre fazer as coisas dentro do orçamento e entregar antes do prazo", disse Trump, referindo-se ao hotel em Washington.

Mas seus críticos viram um motivo diferente.

"Essa é a pior mensagem a enviar a todos os leais e verdadeiros simpatizantes de Trump por aí, que de fato acreditaram nele e cujas vidas de fato serão afetadas por esta eleição", disse Kevin Madden, um ex-conselheiro de Mitt Romney, o candidato presidencial republicano de 2012.

"Restando menos de duas semanas para o dia da eleição", acrescentou Madden, "Trump está retribuindo usando a campanha para exibir seu hotel. Ele disse que não os decepcionaria, mas já está. Eles têm o direito de ficar decepcionados."

trump1 - Eric Thayer/The New York Times - Eric Thayer/The New York Times
Imagem: Eric Thayer/The New York Times


Durante as primárias republicanas, Trump usava com frequência suas propriedades como pano de fundo para coletivas de imprensa nas noites de votação. Ele salpicava regularmente referências aos seus hotéis em seus discursos, mesclando seus negócios e interesses de campanha.

Mas aquelas coletivas de imprensa ao menos seguiam os ritmos do ciclo eleitoral. Até mesmo a barulhenta coletiva no hotel de Trump em Washington, em setembro, onde de forma hesitante ele tentou desfazer suas alegações falsas sobre o local de nascimento do presidente Barack Obama, visava inicialmente acentuar o apoio que recebeu de líderes militares.

O evento de Trump na terça-feira, no Doral, e a inauguração na quarta-feira do novo Trump International Hotel, em Washington, não tinham nada ver com a rotina diária das duas semanas finais da campanha nacional, queimando tempo valioso que poderia ter sido gasto cortejando eleitores.

Emoldurado por um grande prédio bege, com fontes de mármore ao fundo, Trump iniciou seus comentários promovendo o sucesso não de sua campanha, mas de seu resort de golfe. Ele insistiu que os negócios estão ótimos em seu novo hotel em Washington, afirmando que o "número de reservas foi às alturas".

"Acho que é um dos grandes hotéis, pode ser, um dos grandes hotéis do mundo. E isso é muito empolgante. Ele será inaugurado amanhã", disse Trump.

Trump inaugura hotel em meio a protestos em Washington

Band Notí­cias

Na verdade, o hotel abriu em setembro e teve dificuldades com redução no preço das diárias e falta de reservas para as principais datas de festas, segundo relatos. Trump negou esses relatos. "Ele se tornou o local para onde toda noite Washington converge", ele disse, chamando a abertura em setembro de "uma prévia".

Na inauguração do hotel com corte de fita na quarta-feira, os repórteres políticos que estavam presentes receberam um caderno com quatro páginas com uma visão geral da propriedade, lista das acomodações, confortos, fotos dos quartos, do grande átrio e do "Spa by Ivanka Trump".

Promoção da marca talvez não seja surpreendente para um candidato que lançou sua campanha na Trump Tower, em Manhattan. Há quase 20 anos, quando Trump contemplava concorrer à presidência em 2000, ele se gabava de que poderia ser o primeiro candidato a concorrer à Casa Branca e ganhar dinheiro fazendo isso. (Ele fez o comentário em referência aos discursos remunerados que fazia em cidades enquanto estudava se concorreria ou não.)

Por algum tempo na disputa de 2016, esse comentário foi presciente: Trump usou dinheiro arrecadado junto a doadores de campanha para pagar por seu avião particular, reembolsar as despesas de seus filhos e comprar cópias de seu primeiro livro, "A Arte da Negociação".

Mas a marca Trump sofreu alguns arranhões ao longo de uma campanha na qual ele repetidamente fez comentários incendiários sobre mulheres, muçulmanos, imigrantes e afro-americanos. Há esforços para retirada do nome dele de várias torres residenciais que ele construiu anos atrás no West Side de Manhattan.

Para republicanos como Madden, o comportamento recente de Trump só confirma as antigas suspeitas de que o candidato vê a campanha ao cargo mais alto no país como um palanque publicitário para a marca Trump.

Mas nem todos veem algo negativo em seu comportamento.

Rob Gleason, o presidente do Partido Republicano na Pensilvânia, desdenhou as perguntas sobre a agenda do candidato. "Ele já esteve muito aqui na Pensilvânia", disse Gleason, acrescentando que Trump estava simplesmente mostrando "as coisas positivas que é capaz de fazer".

"É por isso que as pessoas gostam dele", ele disse. "Essa é a mensagem de mudança que estamos tentando passar."