Topo

Amante de insetos, norte-americano tem baratas e besouros como pets

Aaron Rodriques, que tem baratas e besouros como bichos de estimação - Elias Williams/The New York Times
Aaron Rodriques, que tem baratas e besouros como bichos de estimação Imagem: Elias Williams/The New York Times

Andy Newman

Em Nova York

04/01/2017 06h00

Aaron Rodriques tem suas prioridades. Quando ele desceu do trem na Pennsylvania Station, voltando para casa das férias de inverno, com os bolsos cheios de besouros e baratas gigantes, ele não foi ver sua namorada no Upper East Side ou seus pais no Bronx. Ele foi direto para a Petland [rede de lojas de artigos para animais de estimação] mais próxima.

Ele pegou 10 gafanhotos, 10 traças da cera, 13 larvas de mariposas Manduca sexta e 15 larvas de besouros tenébrios.

No dia seguinte, logo antes do Natal, Rodriques, de 26 anos, sentou-se em seu quarto onde passou a infância, cercado por tanques de vidro, e refletiu sobre como se metamorfoseou de nerd isolado fanático por insetos em uma pequena celebridade e embaixador novato para os bichinhos, realizando apresentações em espaços de arte e escolas.

“Todos os grandes acontecimentos de minha vida”, ele disse, “se deram em torno de insetos".

Rodriques se sentou à escrivaninha de sua infância com uma grande barata Gromphadorhina oblongonota rastejando pela frente de sua camisa e uma barata cabeça-de-morte, momentaneamente esquecida, em algum lugar de suas costas.

A Gromphadorhina oblongonota tem 9 cm, com um exoesqueleto brilhante que parece estar usando uma máscara de sapo grande demais. Os “olhos” esbugalhados são seus chifres. Ele disse que elas as usam “meio como um carneiro usaria seus chifres” para disputar território com outros machos. “Elas são muito mais mamíferas do que se pensa.”

A pedido de um visitante, Rodriques pegou algumas Manduca sexta—criaturas espalhafatosas, deslumbrantes e absurdas, turquesa e verdes com falsos olhos pelo corpo todo e falsos chifres na extremidade traseira. Em lojas de animais, elas são vendidas como comida para lagartixas-leopardos. “Sinto que elas são preciosas demais para serem usadas como alimentação”, ele disse. Ele tem uma lagartixa-leopardo, mas só a alimenta com gafanhotos e traças da cera.

Rodriques escreveu sua dissertação de mestrado pela Universidade de Nova York sobre as Manduca sexta. “Elas têm um sistema incrível de defesa, no qual coletam a nicotina do tabaco que elas comem e o exalam como um gás para espantar predadores”. Mas elas também são suas amigas. “Se estou me sentindo estressado, posso pegar uma delas e elas me acalmam”, ele diz.

Aaron Rodriques com suas larvas e insetos de estimação em Nova York - Elias Williams/The New York Times - Elias Williams/The New York Times
Aaron Rodriques com suas larvas e insetos de estimação em Nova York
Imagem: Elias Williams/The New York Times

Rodriques, um rapaz gentil e tranquilo com um volumoso cabelo afro, relembra os marcos de sua vida através dos insetos que ele amou. Quando tinha 4 anos, ele pegava formigas da calçada na frente de sua casa e as mantinha em potes. “Elas pareciam uma estranha combinação de robôs com alienígenas”, ele diz. 

Quando tinha 6 anos, sua família se mudou para a casa onde vivem atualmente, em uma rua sem saída perto do ponto final da linha 5 do metrô. Seu modesto quintal continha uma série de besouros. “Fiquei interessados nos besouros por muito tempo”, diz Rodriques. Na terceira série, ele levou uma larva de besouro Melolonta para mostrar na aula, esperando impressionar seus colegas de classe. “Eles ficaram completamente indiferentes”, ele lembra.

Quando ele tinha 7 anos, a casa de Rodriques foi infestada por baratas germânicas, do tipo doméstico comum. “Tentei torná-las de estimação”, ele diz.

Seus pais—uma enfermeira e um segurança que vieram da Jamaica para Nova York—incentivavam sua paixão, exceto pelo episódio das baratas germânicas. Seus colegas continuavam indiferentes. “Passei quase todo o tempo de escola sozinho”, ele diz.

A adolescência trouxe um interesse mais aprofundado pelas larvas. “Para mim, um dos pontos altos do colegial foi observar larvas de tenébrios”, ele diz.

Em 2015, ele viu no Facebook que uma banda chamada Moth Eggs (ovos de mariposa) ia tocar em Bohemian Grove, no Brooklyn. “Postei que eu ia porque crio mariposas e gostava do nome deles”, ele disse. A mulher que faz a programação de um espaço chamado Tarot Society viu essa postagem e pediu que ele fizesse uma demonstração, ele conta.

Uma coisa foi levando à outra: mais apresentações e uma vida social. Ele conheceu sua primeira namorada quando ela se afeiçoou a Maximillion, sua centopeia africana gigante, do tamanho do antebraço de um homem. Ele conheceu sua segunda namorada quando ela estava procurando alguém para pegar moscas varejeiras para um vídeo clipe. Ele foi citado na “National Geographic” e o “Atlas Obscura” fez o seu perfil. O “The Daily Mail” o filmou ajudando uma mulher a superar seu medo de aranhas.

Houve contratempos ao longo do caminho. Em uma apresentação com sessão interativa no Brooklyn, um membro da plateia deixou Maximillion cair. Dois dias depois, ela começou a soltar um fluido escuro e morreu. Rodriques disse que chorou, assim como quando ele perdeu seu bicho-pau, sua tarântula de dedo rosa e Mr. Crabs, o guaiamu.

Os insetos, aparentemente, têm muito a nos ensinar sobre empatia e diferenças. E Rodriques acredita que eles podem ajudar a combater a xenofobia. “Quando você muda seu processo de pensamento de ver algo e ter medo, para ver algo e não saber o que é e procurar saber mais, isso transborda para outras áreas da vida”, ele diz.

Na segunda-feira, Rodriques voltará para a Universidade de Purdue para continuar com sua pesquisa de doutorado sobre as secreções dorsais das baratas germânicas, sedutoramente doces. (“O macho as secretam, ela come, e enquanto ela come, ele copula com ela.”) 

Algum dia, ele espera conduzir uma pesquisa sobre o gafanhoto Chorthippus albomarginatus, que vive perto de Chernobyl e parece prosperar sob a radiação. Ele diz que descobrir a razão disso poderia levar a medicamentos que aliviem os efeitos colaterais da quimioterapia.

Ele tem outros objetivos também. “Eu também gostaria de criar insetos gigantes”, ele diz. Criaturas maiores seriam espécimes melhores de estudo para os estudantes. Ele parou para pensar por um segundo. “Talvez algo como uma tarântula de 60 cm.”

Cientistas querem usar baratas para salvar vidas

AFP