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Após anos de dominância, EUA se veem isolados no G20

7.jul.2017 - O presidente dos EUA, Donald Trump, durante a cúpula do G20 em Hamburgo, na Alemanha - Patrik Stollarz/AFP
7.jul.2017 - O presidente dos EUA, Donald Trump, durante a cúpula do G20 em Hamburgo, na Alemanha Imagem: Patrik Stollarz/AFP

Steven Erlanger e Julie Hirschfeld Davis

Em Hamburgo (Alemanha)

08/07/2017 04h01Atualizada em 08/07/2017 10h50

Por anos, os EUA foram a força dominante e determinaram a agenda do encontro anual de líder das maiores economias do mundo. 

Mas nesta sexta-feira (7), quando o presidente Donald Trump se encontrou com os demais 19 líderes do G20, ele viu os EUA isolados em todas as áreas _ do comércio à mudança climática _ e confrontados com a perspectiva de o grupo soltar um comunicado no sábado que deixa claro como o país está sozinho.

A chanceler alemã, Angela Merkel, anfitriã da reunião, abriu-a reconhecendo as diferenças entre os EUA e os demais países. Enquanto o "compromisso só pode ser encontrado se acomodamos as visões de um e de outro", ela afirmou, "também podemos dizer que divergimos".

Merkel também assinalou que enquanto a maioria dos países tivesse apoiado o Acordo de Paris sobre mudança climática, Trump o havia abandonado. "Será muito interessante ver como iremos formular o communicado amanhã e deixar claro que há opiniões diferentes nessa área porque os Estados Unidos infelizmente" quer se retirar do pacto, ela disse. 

Trump parecia saborear esse isolamento. Para ele, o momento crítico na sexta-feira foi seu longo encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, que pareceu marcar o relançamento nas relações que Trump estava querendo havia algum tempo. Ele também deu a Putin o respeito e a importância que ele havia muito pedia como um parceiro global de Washington.

Onde líderes americanos anteriores viam seu poder como uma força benevolente e tinham a intenção de promover a prosperidade através de políticas de mercado aberto e cooperação multilateral, Trump se projetou como um nacionalista, um unilateralista e um protecionista, ansioso para salvar os empregos americanos.

O que os eventos recentes sublinharam, no entanto _ e especialmente o G20_, é que nenhuma nação hoje é grande ou poderosa o suficiente para impor regras sobre qualquer outra. Ao avançar suas visões, Trump alienou aliados e fez com os EUA se parecessem mais como uma ilha privada sua. 

Nenhum outro tema deixou o isolamento de Trump mais evidente que o comércio.

Trump acha que os EUA foram colocados injustamente em desvantagem por extensos acordos de livre comércio como o Nafta. Ele crê que a indústria do aço em particular foi devastada pela globalização.

Dentro de dias, ele poderia impor restrições e novas tarifas sobre a importação do aço. Fazer isso seria uma provocação que pode afetar o comércio com mais de uma dezena de grandes países e ao mesmo tempo perturbar o espírito de mesmo os seus mais ardentes defensores. 

As tarifas poderiam muito bem provocar uma nova guerra comercial global.

Autoridades europeias aqui reagiram severamente, ameaçando com uma retaliação. "Vamos responder com contramedidas caso seja necessário, esperando que realmente não seja", afirmou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. "Estamos preparados para tomar armas, se preciso for."

Mas enquanto Trump contemplava o protecionismo, a Europa e o Japão chegaram a um acordo de livre comércio inédito nesta semana. O México e a China, dois dos principais parceiros de comércio com os EUA, estão discutindo seu próprio acordo. Vida que segue. 

Merkel revira os olhos durante conversa com Putin

UOL Notícias

Trump e sua equipe econômica vêm adiando a decisão sobre o aço nas últimas semanas devido a desacordos internos. 

Durante semanas, advogados, líderes do setor e membros do Congresso estão ansiosamente esperando por uma carta de recomendação vinda do Departamento de Comércio. Eles veem a decisão de Trump como um momento que irá esclarecer se ele está pronto para cumprir promessas de campanha de proteger as indústrias americanas com tarifas.

Entre aqueles inquietos estão os economistas, muitos dos quais têm estado desconfortáveis com as posições heterodoxas de Trump sobre o comércio porque já viram os danos causados por tais políticas antes. 

Os EUA importaram 30,1 milhões de toneladas de aço no ano passado, tornando-se o maior importador mundial, segundo a International Trade Administration. Canadá, Brasil e Coreia do Sul são os maiores exportadores para os EUA, seguidos de México e Turquia. China, o alvo de maior parte da retórica antiglobalização, não é um grande fator, pelo menos quando o assunto é aço. 

Michael Strain, economista do American Enterprise Institute (conservador), teme que a retaliação da China e da Europa contra qualquer tarifa sobre o ação seja particularmente dolorosa para os exportadores americanos e possa levar a cortes de empregos justamente quando Trump está tentando aumentar a participação da força de trabalho.

Enquanto a indústria do aço possa se beneficiar, outras indústrias como a de construção civil e de habitação provavelmente sofreriam. Muitos trabalhadores nesses setores e os consumidores que compram seus bens são provavelmente o tipo de eleitor de renda moderada que apoiou Trump.

"Irá prejudicar pessoas que têm o objetivo de ajudar com os preços mais altos", explicou Strain. "No fim das contas, a economia irá perder."

Na sexta-feira, Cecilia Malmstrom, comissária europeia de comércio, alertou o governo Trump de que as novas tarifas poderiam ser questionadas na Organização Mundial de Comércio (OMC). Uma ação similar levou à retirada de tarifas impostas pelo presidente George W. Bush em 2002. 

Também na questão do clima os EUA _que há apenas um ano eram uma voz de liderança em favor de uma ação global para reduzir as emissões de carbono_ estão em seu próprio caminho.

Negociadores discutiam até tarde da noite de sexta sobre a linguagem a ser usada para declarar que 19 dos países do G20 consideram que o Acordo de Paris é "irreversível", um esforço para retratar os EUA como "pária" por estar abandonando o pacto enquanto tenta ao menos tempo minimizar as tensões pela decisão. 

Mas autoridades americanas estavam pressionando por uma linguagem que dissesse que os EUA trabalhariam com outras nações no sentido de lhes ajudar a obter acesso e usar combustíveis fósseis "de maneira mais eficiente e mais limpa". Essa sugestão teve forte resistência do presidente da França, Emmanuel Macron. 

Trump fez pouco para esconder as discordâncias, emboras sua equipe tenha feito o possível para que ele não tivesse de escutar todas as críticas feitas aos EUA no tema mudança climática.

Seu encontro com Putin estava previsto para começar apenas 15 minutos depois do início da sessão de trabalho sobre "Crescimento Sustentável, Clima e Energia", então ele saiu após um breve comunicado sobre a questão.