Apesar de pedir união, Trump segue atacando mídia e democratas
Após a série de envios de bombas a opositores que marcou o fim do último mês, o presidente dos EUA, Donald Trump, se declarou contrário à intimidação e fez um apelo: "Precisamos nos unir". Ele já havia dado essa diretriz ao país, depois de massacres com tiros e outras tragédias politicamente venenosas que vêm pontuando sua gestão.
No entanto, ele não parece seguir seu próprio conselho.
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Poucos dias depois do pedido, Trump apareceu reavivando o sectarismo como de costume, apenas com um tom de voz mais suave. Aqui em Wisconsin, ele fez seu 38º comício de campanha desde que assumiu a Presidência com um pouco de jiu-jitsu retórico, conseguindo entremear golpes contra a mídia noticiosa e os democratas em uma exortação inicial aos americanos para "conviverem em paz e harmonia".
"Não devemos atacar pessoas em espaços públicos nem destruir propriedades públicas", disse Trump em uma referência mal velada a seu jargão mais recente, "empregos, não confusão", e numa reprimenda à reação dos liberais durante a batalha para a confirmação do juiz Brett Kavanaugh para a Suprema Corte, em meio a múltiplas acusações de agressões sexuais.
O presidente repudiou a insinuação propagada por liberais e alguns membros da mídia noticiosa de que suas visões nacionalistas são similares às de Adolf Hitler: "Ninguém deveria comparar irresponsavelmente adversários políticos com vilões históricos".
E, de certa forma, Trump fez seus próprios problemas com a mídia virarem a notícia do dia. Ele pediu que os jornalistas "estabeleçam um tom civilizado" e "acabem com a infinita hostilidade, constantes ataques negativos e, frequentemente, histórias falsas".
Então, Trump chamou novamente a atenção da multidão para seus esforços bipartidários: "Aliás, vocês veem como estou me comportando bem esta noite?", perguntou ele. "Vocês já viram isso antes? Todos nós estamos nos comportando muito bem!"
(Minutos depois, o presidente mencionou o assunto outra vez: "Acho que seremos bipartidários na questão da infraestrutura".)
Mesmo assim, o desempenho de Trump e do time de republicanos de Wisconsin que subiu ao palco aqui serviu como mais uma confirmação de que, a menos de duas semanas das eleições nas quais está em jogo a liderança do Congresso, nem mesmo notícias de dispositivos explosivos poderiam fazer muito para aplacar meses de mensagens altamente divisórias em comícios de campanha.
Trump de fato mencionou as notícias em suas observações iniciais, chamando os episódios de "um ataque à nossa democracia" e prometendo justiça rapidamente.
"Esse tipo de conduta deve ser rechaçado ferozmente e julgado firmemente. Queremos que todos os lados se unam em paz e harmonia. Nós podemos fazer isso."
Donald Trump
Vários alvos do presidente pareciam céticos de que ele moderaria sua linguagem, e outros sugeriram que as palavras de Trump haviam colocado seus adversários políticos em perigo. Nancy Pelosi, da Califórnia, líder dos democratas no Congresso, e Chuck Schumer, de Nova York, líder dos democratas no Senado, exortaram o presidente a retirar comentários feitos anteriormente tolerando atos de violência. Na semana passada, Trump elogiou um congressista republicano que agrediu fisicamente um repórter.
Eles disseram em uma declaração conjunta que "as palavras do presidente Trump soam vazias até que ele pare de fazer declarações de tolerância a atos de violência".
Em uma conferência na quarta-feira no Texas, John Brennan, ex-diretor da CIA durante o governo Obama, pareceu cautelosamente otimista.
"O que ele falou hoje é condizente com o papel de um presidente", comentou Brennan. "Mas essas palavras devem ser checadas junto com suas futuras ações e comentários. Tenho esperança de que este talvez seja um momento de virada."
O presidente tem demonstrado pouca preocupação por não passar mensagens divisórias, horas depois de missivas mais sóbrias entregues em Washington, mas não citou seus alvos frequentes em comícios, vários dos quais receberam pacotes suspeitos na quarta-feira. Apesar de algumas frases do público pedirem "ponha ela no xadrez", Trump não mencionou Hillary Clinton.
Em vez disso, o presidente se dirigiu à multidão com sua mistura usual de alegações factualmente dúbias sobre políticas dos democratas, apoiando-se em mensagens de temor contra a imigração que a Casa Branca espera utilizar a tempo para as eleições.
"Os democratas se opõem a qualquer esforço nosso para proteger nossa fronteira", disse Trump, mais uma vez atenuando o fato de que os democratas favorecem medidas de segurança nas fronteiras, porém não a construção do muro há muito prometido pelo presidente na fronteira sudoeste. Trump então insinuou que daria seguimento a sugestões constantes de que enviaria militares à fronteira, embora estes sejam proibidos de se engajar em atividades de policiamento.
"Esperem para ver o que acontecerá nas próximas semanas. Vocês vão ver uma fronteira bem segura. Fiquem de olho. E os militares estão prontos. Eles estão em posição e de sobreaviso. Eles estão todos prontos e não há ninguém como eles."
Donald Trump
No decorrer do comício, Trump instou seus apoiadores a prestarem atenção em como ele estava falando calmamente. E, em diversos pontos, tentou enfatizar pontos positivos.
"Kanye West gosta de mim", disse o presidente. "Ele é um cara interessante."
"Kanye é um idiota!", reagiu aos gritos uma pessoa em meio à multidão.
De fato, estava claro que alguns presentes não queriam participar de um comício com decibéis mais baixos.
"Estou tentando ser simpático", disse o presidente em um lembrete que parecia destinado tanto a si mesmo quanto à multidão.
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