O êxodo de 143 mi de migrantes climáticos e a era das cidades sustentáveis

Um relatório do Banco Mundial concluiu que mais de 143 milhões de pessoas se tornarão "migrantes climáticos", fugindo das perdas de colheitas, falta de água e elevação do nível do mar.
Quando a cultura e a recreação se unem, surgem comunidades.
Quando comunidades se tornam sociedades, um acordo é estabelecido.
Nessas realidades, habitamos nossas aspirações de união.
As cidades sustentáveis são como uma floresta, com diversidade, em crescimento constante. Na floresta, cada galho, cada tronco e cada árvore são únicos, desenvolvendo-se de forma própria; no entanto, tudo está relacionado entre si. Tudo na floresta tem um papel na sinfonia cósmica. Com a cidade é a mesma coisa.
Ela também é um organismo, ao mesmo tempo estável e fluido, estático e em constante transformação. O ser humano faz parte de seu mecanismo interno, da mesma forma que nossas células são parte de nós. As ruas funcionam como veias, conectando-os a uma rede de vida semelhante a uma floresta rica em biodiversidade.
Por que então não encaramos nossas cidades, grandes e pequenas, e nossas aldeias, como entidades biotecnológicas? Por que não as planejamos e construímos de forma natural para reacender o espírito da comunidade, de uma cultura participativa positiva?
Jaipur lança mão da antiga mandala vastu purusha – modelo de desenho com o objetivo de criar um ambiente equilibrado e saudável. Essa antiga ciência moldou a maior parte dos assentamentos tradicionais indianos, onde são realizadas atividades sazonais como festivais e feiras. O princípio da mandala se adapta a climas e lugares totalmente diferentes, e é o que os inspira.
Infelizmente, de lá para cá parece termos esquecido essa abordagem intensa da arquitetura e do desenho, seguindo em vez disso o modelo predominante de planejamento que aposta em orçamentos milionários, estruturas em larga escala e comportamentos isolados. Consequentemente, nossas habitações se tornaram fragmentadas, e não conseguimos ver a infraestrutura e a vida da cidade de forma integrada.
Esses núcleos seriam sustentáveis e replicáveis, cheios de energia e vitalidade, mas não ultrapassariam um certo tamanho, e teriam as mesmas virtudes de uma rede biodiversa.
Não desperdiçariam nem tempo, nem energia, nem recursos naturais. Seus habitantes teriam capacitação global e um estilo de vida gratificante e adequado. Como consequência, isso ajudaria a salvar nosso planeta dos desastres e disparidades atuais que geram ansiedade e dúvida em relação ao futuro.
Geralmente quando visitamos cidades antigas que são social, econômica e culturalmente bem engendradas, somos tomados por uma morosidade e um silêncio estranho e inesperado. Nosso desejo de forçar, conquistar e impor diminui; pensamos mais em como a natureza se conecta conosco e como podemos compartilhar e valorizar o que mais íntimo levamos dentro de nós.
Além dessa quietude, outras medidas estéticas incluiriam graça, amor, compaixão e humildade. Para fazer vibrar um assentamento, há que se criar conexões simples e honestas, que encorajem as pessoas a se unir, compartilhar e sentir que fazem parte de uma ordem maior, da Mãe Terra.
Nos textos indianos antigos, o sthapati (arquiteto ou planejador) tem que ter consciência dos ciclos sustentáveis da natureza, seguir as leis e a energia do tempo, como faz nosso ecossistema. Ele é obrigado a integrar esse fluxo natural às vidas dos habitantes do assentamento. Esse método de planejamento interligado facilita as atividades culturais e a integração social. Essa forma de arquitetura sustentável dá a todos os indivíduos, independentemente de classe ou credo, a capacidade de se conectar com suas verdadeiras naturezas.
Não é por isso que algumas casas japonesas têm um bonsai – para lembrar as pessoas de sua conexão com o eterno mistério da existência?
*Balkrishna Doshi é o vencedor do Prêmio Pritzker 2018, o primeiro indiano a receber a honraria mais prestigiada do mundo da arquitetura.
Este texto faz parte da série Fator de Mudança, que inclui artigos de opinião, fotos e desenhos sobre eventos e tendências de 2018 que repercutirão não só em 2019, mas nos anos seguintes.
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