Cientistas pedem proteção a animais esquisitos

Tim Chong/Reuters
O macaco-narigudo ("Nasalis larvatus") vive nas florestas tropicais de Bornéu, na Ásia, assim como os orangotangos. Mas, ao contrário de seu "primo" famoso e bonitão, esse primata é uma das espécies "em perigo" na lista da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), com pouco mais de mil indivíduos soltos na natureza. Para ajudar esses animais menos privilegiados - tanto no quesito beleza, quanto no de conservação -, o biólogo Simon Watt fundou a Sociedade de Preservação de Animais Feios. "A maioria da diversidade animal é feia, dos insetos aos mamíferos. O mundo seria muito maçante se apenas os animais fofos e bonitos fossem protegidos", defende o biólogo
Neil Bromhall/Handout/Reuters
Simon abusa das piadas e da ajuda dos colegas para chamar a atenção às espécies "desprotegidas esteticamente". Ele montou uma espécie de stand-up, com um toque de conservação ambiental, que corre festivais científicos no Reino Unido. Cada cientista é chamado ao palco para falar das qualidades de um animal tão ameaçado quanto bizarro e, no fim do show, o público escolhe o candidato a mascote da Sociedade de Preservação de Animais Feios. O roedor "Heterocephalus glaber", por exemplo, foi eleito pela audiência de um simpósio em Brighton no começo de junho. Mesmo estando ainda no primeiro nível de alerta de animais ameaçados da IUCN (são seis, ao todo), esse dentuço encontrado na Somália, na Etiópia e no Quênia ajuda cientistas na luta contra o câncer em pesquisas científicas
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Já o público de um evento científico em Edimburgo, na Escócia, escolheu o "Promachoteuthis sulcus" como potencial mascote da Sociedade de Preservação de Animais Feios. Apenas um indivíduo dessa lula, que chama a atenção por ter uma ventosa parecida como uma boca humana, foi encontrada no sul do oceano Atlântico e não está mais classificada na lista da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês)
Laurent Fievet/AFP
O focinho de porco que faz essa tartaruga única também a deixa vulnerável. Segundo o biólogo Simon Watt, a espécie "Carettochelys insculpta" está desaparecendo da Austrália para virar um animal de estimação, causando desequilíbrio nos ecossistemas marinhos do país
Nick LindsayZSL/Reuters
Os abutres da Índia (Gyps indicus) estão entre os animais mais ameaçados do planeta. Classificado como "criticamente em perigo" pela IUCN, a população caiu quase 95% por causa dos agrotóxicos - as aves morrem intoxicadas após comer carniça com produtos químicos - e pode sumir da natureza em menos de dez anos. O desaparecimento afetaria drasticamente o ecossistema, pois eliminaria o trabalho dos "catadores de lixo" da vida selvagem, segundo o biólogo
Mariana Bazo/Reuters
O Uacari de cara vermelha ("Cacajao calvus"), que vive na floresta Amazônica, é considerado "vulnerável" pela IUCN. Mais de 30% da população original desapareceu das matas tropicais do Brasil e do Peru nos últimos anos devido à caça ilegal (sua carne vira comida, principalmente) e pelo desmatamento que acaba com seu habitat. Segundo o fundador da Sociedade de Preservação de Animais Feios, o rosto avermelhado do macaco não tem nada a ver com timidez: a forte coloração, inclusive, o ajuda a atrair futuras namoradas
Reprodução/National Geographic
Conhecida popularmente como lesma de veludo rosa, esse invertebrado da África do Sul mantém os mesmos hábitos alimentares há pelo menos 400 milhões de anos, afirma o biólogo. O "Opisthopatus roseus", que caça apenas à noite, enlaça sua vítimas com jatos de cola, perfura o interior delas e joga sucos digestivos que ajudam a amolecer os tecidos e facilitam a ingestão
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Esse grande anfíbio do Suriname ("Pipa myersi") não recebe muito suporte dos ambientalistas e também não é alvo de pesquisas científicas para sua preservação. Segundo o biólogo Simon Watt, o animal achatado "parece ter sido atropelado por um carro, o que não atrai o apoio das ONG ambientais", deixando-o cada vez mais "em perigo"
Australian Customs/AFP
Descoberta em 2004, essa tarântula sul-americana pode crescer até 25 centímetros e usar suas garras para provocar náuseas e sudorese nas suas presas. Simon Watt avisa que é preciso ficar longe do aracnídeo, mas não temer pela vida, pois o veneno mata apenas sapos, morcegos, lagartos e cobras das florestas tropicais
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A lesma do mar "Hexabranchus sanguineus" não está na lista vermelha da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), que aponta as espécies mais ameaçadas do planeta, mas é um dos animais citados pelo grupo britânico. Um dos destaques desse animal marinho, diz Simon Watt, é sua locomoção nas águas do oceano Pacífico, próximo ao litoral do Havaí, que se assemelha a uma dança
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O peixe blobfish ("Psychrolutes marcidus") é encontrado no fundo do oceano próximo à costa da Austrália e da Nova Zelândia, entre 600 metros e 1200 metros de profundidade. A Sociedade de Preservação de Animais Feios lembra que sua expressão tristonha é parte da "maravilhosa adaptação evolutiva ao seu ambiente". Seu corpo é gelatinoso devido à pressão da água, que é muito maior nas profundezas do que na superfície, permitindo que ele flutue delicadamente e se alimente de pequenos invertebrados
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Até mesmo o "Phthirus pubis", conhecido popularmente como chato, está entre os representantes esquisitos da natureza lembrados pela Sociedade britânica. A popularização da depilação brasileira, que deixa apenas uma faixa de pelos nas vaginas, coloca esse parasita em risco de extinção, segundo Basil Donovan, chefe do departamento de saúde sexual da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália