Adolescente sai de tribo no interior da Amazônia para estudar em universidade

Lilian Ferreira/UOL
Graziela Paulino dos Santos, 18 anos, é da etnia Karapãna e estudou em uma escola instalada em uma comunidade perto de sua casa até se formar no ensino médio. Com uma bolsa de estudos, hoje cursa ciências contábeis em uma universidade em Manaus. Ela, ao lado de seus dois irmãos que também passaram pela escola e hoje fazem faculdade, é um exemplo de como a educação pode mudar a vida de quem mora na Floresta Amazônica. Graziela também é atleta de arco-e-flecha em treinamento para as Olimpíadas. Da vida em Manaus, o que ela mais gosta é da internet e do celular, conta Mais
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Barco rápido sai de Manaus no rio Negro em direção à comunidade de Três Unidos, na APA (Área de Proteção Ambiental) do Rio Negro. A viagem dura 1 hora neste barco, mas levaria mais de 4 horas em um barco normal para percorrer os 60 quilômetros que separam a comunidade de Manaus Mais
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Graziela voltou com a equipe do UOL para a aldeia para ver sua família após um mês em Manaus. No tablet, ela escreve seu nome indígena Yaci, que significa lua Mais
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A comunidade de Três Unidos é uma das que receberam o Núcleo de Conservação e Sustentabilidade, projeto de desenvolvimento sustentável. O projeto é feito pela ONG FAS em parceria com empresas patrocinadoras para levar educação e saúde para os povos que vivem na floresta Mais
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A comunidade de Três Unidos foi escolhida para ser a central local do projeto da ONG por ser a mais perto de todas e também porque dispunha de terreno livre para construção das bases que atendem os alunos de 16 comunidades na margem esquerda do rio Negro Mais
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O Núcleo de Conservação e Sustentabilidade é formado por escola, alojamento dos alunos, casa do professor, refeitório, posto de saúde, sede e sala digital Mais
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Valcléia Solidade (centro), coordenadora geral do Programa Bolsa Floresta da FAS, explica que as comunidades foram escolhidas porque desmatavam a floresta para fazer palito de churrasco. A renda mensal era de 45 reais, e a bolsa é de R$ 50. No total são 329 famílias em uma área de 3,5 vezes a cidade de São Paulo, conta Solidade Mais
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A mãe de Graziela, Dircianita Paulino,esperava a filha na comunidade de Três Unidos junto com os outros três filhos mais novos. A dona de casa, que fez até a nona série na Educação para Jovens e Adultos do núcleo, tem outros dois filhos que fazem faculdade em Manaus. Na foto, a mais nova, Gislaine, tem 4 anos Mais
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Os irmãos de Graziela também estudam na escola do núcleo: Alfredo Jr, 15, está no primeiro ano do ensino médio. Já Gisele,12, está no nono ano do ensino fundamental Mais
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A mãe conta com orgulho que os filhos puderam estudar e entrar na universidade, para assim ter uma vida melhor do que a que ela teve, mas teme que eles não queiram voltar para casa depois dos estudos. Graziela diz que não sabe o que vai fazer ao se formar, mas que deve procurar emprego em Manaus. No total, eles são em 7 irmãos. A irmã Gabriela, 20, faz ciências biológicas na Universidade do Estado do Amazonas e o irmão, Guibson, 21, também faz ciências contábeis como Graziela. O irmão do meio, Gustavo, 17, está no segundo ano do ensino médio Mais
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Tanto os alojamentos de professores e alunos quanto as escolas de primeiro e segundo grau são compostos por casas de madeira local, o que é permitido pela lei Mais
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No refeitório, Graziela estuda com o irmão mais novo. Ela conta que sempre ia para Manaus visitar parentes do pai, que não é indígena, e o irmão da mãe. Junto com Graziela se formaram 6 outros estudantes no ensino médio em 2013, incluindo sua irmã Gabriela Mais
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Na sede, há dois quartos com camas e redes e uma sala de reuniões. A casa recebe visitas à comunidade e profissionais de fora que vão conhecer ou desenvolver projetos no local Mais
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A comunidade conta com caixas de água e geradores de energia para a manutenção da escola e das casas, que ficam em um terreno separado do Núcleo de Conservação e Sustentabilidade Mais
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Segundo Dona Noronha, gestora local do núcleo, a maior dificuldade na educação em comunidades da Amazônia é a permanência de um professor na escola, pois muitos não quer ir e voltar todos os dias, então a desistência é grande. "Antes, os professores não ficavam nem três meses", queixa-se Mais
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Cada professor tem uma casa com quarto, sala, cozinha e banheiro Mais
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Para amenizar o problema da desistência dos professores, o núcleo tem casas que abrigam três professores simultaneamente. Eles passam a semana na comunidade e vão aos finais de semana para casa Mais
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Cada comunidade tem uma escola de ensino fundamental da prefeitura. A escola de Três Unidos foi reformada em 2013. Graziela iniciou os estudos em sua comunidade, mas depois teve que ir até Três Unidos, que fica a mais de uma hora de barco, para continuar os estudos Mais
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Os alojamentos dos estudantes são divididos entre meninos e meninas e têm capacidade para 40 alunos dormindo em redes. No momento, só 3 meninas vivem ali Mais
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No alojamento, as meninas dormem em redes e passam boa parte de seu tempo no celular, quando o sinal pega, e ouvindo música, quando não estão na escola. Nos finais de semana, elas voltam para casa Mais
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Quatorze meninos passam a semana na escola e vão aos finais de semana para suas casas, que ficam muito longe de Três Unidos, o que inviabiliza a viagem de ida e volta todos os dias Mais
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Os meninos que vivem no alojamento da escola passam seu tempo quando não estão em aula ouvindo música no celular e também fazendo trabalhos de pesquisa em campo na horta da escola e no aviário. Eles também participam de projetos de jardinagem e reciclagem Mais
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O mote da escola e do núcleo é promover a igualdade com acesso à educação e saúde para o desenvolvimento sustentável da região Mais
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Ao todo, são 149 alunos atendidos na escola que vai do sexto ao nono ano do ensino médio. E mais 33 do Ensino de Jovens e Adultos. As aulas das crianças são à tarde e dos adultos à noite. Também há cursos de manicure, culinária e produção voltada para sustentabilidade da região. Os alunos são índios de várias etnias como cambeba, ticuna, karapano e também ribeirinhos Mais
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As aulas são com telemediação, com vídeos e professor em sala. Antes, Manaus enviava as aulas e elas eram dadas de acordo com as especificidades locais, como por exemplo, em tempos de seca havia mais aulas e em épocas de cheia as aulas eram canceladas. Entretanto, desde 2013, a escola tem buscado seguir o cronograma oficial Mais
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Dona Noronha, gestora local do núcleo e diretora da escola, foi a responsável pela revolução no local nos últimos tempos. Ela é formada em matemática em Manaus e tem mestrado em coordenação pedagógica. "Vim para cá em maio de 2013 e me apaixonei pela comunidade e pelo projeto", conta. Ela reintroduziu o ano letivo normal na escola, com o começo das aulas em fevereiro de 2014 Mais
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A comunicação entre as várias comunidades da Amazônia é feita por satélite. Rádios fazem a comunicação, que muitas vezes fica sujeita a interferências climáticas Mais
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A comunidade de Três Unidos fica ao lado do Núcleo de Conservação e Sustentabilidade da FAS, no mesmo terreno e abriga 16 famílias com um total de 74 pessoas. Eles plantam couve, cheiro verde, pimenta e tomate no local, mas a maioria da comida vem de Manaus, por meio de doações de entidades religiosas e do governo Mais
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O tuxaua Valdemir da Silva, líder local, migrou há 23 anos do interior da floresta Amazônica para o local onde hoje é Três Unidos com sua família porque uma filha morreu por falta de atendimento médico. Então o índio, que é da etnia ticuna resolveu morar mais perto de Manaus. Hoje vivem lá, sua mulher, Diamantina Cruz, que é cambeba, e também filhos, noras e genros e netos Mais
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Um restaurante foi instalado para gerar renda para a comunidade. Semanalmente, o local recebe barcos de turistas que param para conhecer a comunidade local e também podem almoçar pratos típicos. As moradoras tiveram aulas de culinária na escola do núcleo e também técnicas de gerenciamento de cozinha Mais
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Além do restaurante, os locais são incentivados a virar empresários e vender artesanatos para os turistas e também camisetas. Na foto, as barracas onde os produtos são dispostos para venda Mais
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As casas na comunidade são simples, feitas de madeira, em meio à vegetação local Mais
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Há ainda um parquinho para as crianças da comunidade Mais
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Crianças brincam em frente à casa na comunidade. Graziela conta que a vida ali é mais movimentada que em Manaus, porque as crianças brincam mais, não ficam só na internet ou vendo televisão Mais
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Na casa do tuxaua Valdemir da Silva, símbolos religiosos e indígenas convivem lado a lado Mais
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Segundo o líder local, comida não falta para a comunidade, o que eles mais sentem falta é o acesso à saúde e educação, principais motivos que os levam a sair de lá e migrar para cidades Mais
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A comunidade, vista do rio, com suas poucas casas no meio da floresta Amazônica, é uma iniciativa que tenta ser modelo para manter as pessoas vivendo na floresta sem desmatamento e com qualidade de vida Mais