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Novas espécies de aranhas brasileiras homenageiam universo literário da fantasia

Aranha da nova espécie Ochyrocera atlachnacha tece sua teia; nome faz menção a personagem do Universo fantástico de H.P. Lovecraft - Igor Cizauskas
Aranha da nova espécie Ochyrocera atlachnacha tece sua teia; nome faz menção a personagem do Universo fantástico de H.P. Lovecraft Imagem: Igor Cizauskas

Fábio de Castro

10/01/2018 17h46

Os nomes científicos de sete novas espécies de aranhas descobertas por cientistas brasileiros homenageiam diferentes personagens "aracnídeos" de famosas obras ficcionais de fantasia como "Harry Potter" e "O Senhor dos Anéis". As novas espécies são descritas em um estudo publicado nesta quarta-feira (10) na revista científica ZooKeys.

As sete novas espécies de aranhas, todas pertencentes ao gênero Ochyrocera, foram descobertas em cavernas do Pará pelos autores do artigo, Antonio Brescovit, Igor Cizauskas e Leandro Mota, todos pesquisadores do Instituto Butantan.

A lista de novas espécies começa com a Ochyrocera varys, que homenageia o personagem Varys - "o Aranha" -, da série de livros "Crônicas de Gelo e Fogo", do americano George R. R. Martin, que inspirou a série de TV "Game of Trhones".

O nome da espécie Ochyrocera atlachnacha faz menção a Atlach-Nacha, a "Deusa Aranha", do universo sombrio criado por H.P. Lovecraft, o autor que revolucionou o gênero de terror ao agregar elementos fantásticos às historias. O personagem, que aparece no conto "O Chamado de Cthulhu', publicado em 1926, é uma aranha monstruosa com rosto humano, que vive nas cavernas sob uma montanha e tece uma teia que liga o mundo real à "Terra dos Sonhos".

Personagens das obras do escritor britânico R. R. Tolkien foram homenageados por duas novas espécies. A Ochyrocera laracna se refere à aranha gigante Laracna, que ataca os personagens Frodo e Sam em seu caminho para Mordor, no segundo volume do livro "O Senhor dos Anéis - As Duas Torres".

Já a aranha Ochyrocera ungoliant está ligada à mãe de Laracna, Ungoliant, que aparece no livro "Silmarillion", de Tolkien, cuja história se passa em época anterior à de "Senhor dos Anéis - As Duas Torres". De acordo com a história, Ungoliante seria a tradução para "Aranha das Trevas", no idioma dos elfos.

A série Harry Potter, da escritora britânica J. K. Rowling, também foi homenageada pelos cientistas. A espécie Ochyrocera aragogue faz referência ao personagem Aragog, que é uma "acromântula", um tipo de aranha gigante dotada de fala humana na fantasia de Rowling. O personagem vive na Floresta Proibida e aparece no segundo volume da série, "Harry Potter e a Câmara Secreta".

Os cientistas também homenagearam livros infantis. A série "Os Amigos da Miss Spider", do americano David Kirk, inspirou o nome da nova espécie Ochyrocera misspider. Os livros deram origem ao desenho animado homônimo.

Já a nova espécie Ochyrocera charlotte homenageia um personagem do clássico da literatura infantil "A menina e o porquinho", publicado em 1952 pelo americano E. B. White. No livro (cujo título em inglês é "Charlotte's Web", ou "A teia de Charlotte", a aranha Charlotte é a amiga do porquinho Wilbur, personagem principal do livro.

Segundo os cientistas, embora as sete novas espécies prefiram viver na escuridão das cavernas, nenhuma delas apresenta adaptações biológicas características encontradas em organismos que vivem exclusivamente em cavernas, como perda de pigmentação e redução ou perda dos olhos.

Os sete animais foram classificados como espécies "edáficas troglófilas", isto é, que são capazes de completar seu ciclo de vida longe da luz solar, mas não vivem necessariamente nas partes mais profundas. Rastejando com frequências nas proximidades da superfície, essas aranhas podem ser encontradas até mesmo fora das cavernas.

Para fazer a descrição das sete espécies, os pesquisadores coletaram cerca de 2 mil espécimes adultos em uma série de expedições realizada ao longo de cinco anos.

Segundo os autores do estudo, é altamente provável que ainda existam várias espécies desse gênero de aranhas por serem descobertas, já que poucos estudos têm sido feitos na região. No entanto, a biodiversidade na área está sofrendo impactos da mineração.