Topo

Maior área úmida do planeta, Amazônia boliviana é 'tombada'

Do UOL, em São Paulo

06/02/2013 10h33

Llanos de Moxos, na Amazônia boliviana, foi apontada a maior área úmida do mundo e incluída na lista de áreas prioritárias pela comunidade internacional que recomenda medidas de conservação da área. A decisão foi anunciada pelo grupo de mais de 150 países signatários da Convenção sobre Áreas Úmidas de Importância Internacional, assinada em 1971, no Irã.

Com essa espécie de “tombamento da região”, que ocupa quase 7 milhões de hectares (o tamanho da Holanda e da Bélgica juntas), os países pretendem afastar ameaças que poderiam impactar outros territórios, como desvio de fluxos de água em função de construções de estradas ou da pecuária extensiva e plantações de soja, por exemplo.

Localizada perto da fronteira da Bolívia com o Peru e o Brasil, Llanos de Moxos é formada por savanas tropicais, com secas cíclicas e inundações. Estas áreas úmidas são especialmente importantespor sua rica biodiversidade, já que abriga 131 espécies de mamíferos, 568 diferentes aves, 102 de répteis, 62 de anfíbios, 625 de peixes e pelo menos mil espécies de plantas, segundo o WWF.

Várias espécies do local - incluindo a ariranha e o golfinho do rio boliviano - foram identificadas como vulneráveis, em perigo ou em risco crítico de extinção. A região é cortada por três rios principais, o Beni, o Iténez (ou Guaporé) e o Mamoré, que convergem para formar o rio Madeira, o maior afluente sul do rio Amazonas.

Áreas úmidas

Especialistas defendem que áreas como Llanos de Moxos são capazes de evitar inundações, manter vazões mínimas nos rios durante a estação seca e regular o ciclo hidrológico da região. Líder da Iniciativa Amazônia Viva da rede WWF, Claudio Maretti, engrossa o coro do grupo que garante que a conservação das áreas asseguram o bom funcionamento de todo o bioma amazônico, que abrange nove países.

“São áreas úmidas da Amazônia, como minipantanais, e essas águas escoam para o Brasil também. A sanidade desses cursos da água e dos serviços ecológicos que oferecem, como o retardo de cheias, beneficia as áreas brasileiras em termos de produtividade pesqueira e estabilidade de ecossistemas e até da produção hidrelétrica”, explicou Maretti.

Outra bandeira levantada pelos que defendem a implantação de políticas de uso sustentável nessas áreas é a de que, com a articulação de medidas de conservação com atividades econômicas, as unidades são capazes de regular, inclusive, o clima. “Funciona como uma espécie de ar-condicionado, resfriando o clima pela umidade que faz circular, gerando chuvas no centro-sul da América do Sul, como na região do bioma Cerrado, São Paulo e mesmo de outros países como o Paraguai”, disse.

A decisão, entretanto, não cria obrigações administrativas para os países ou, especificamente, para o governo boliviano.

“A convenção tem uma influência limitada no nível nacional. O país que apresenta uma área candidata ao sítio da convenção se compromete com algumas diretrizes, mas não é, necessariamente, uma criação de área protegida e, sim, o reconhecimento internacional que aquela área merece estar na lista”, explicou Maretti. “A Bolívia ofereceu a área para candidatura depois de um estudo que apresentou conclusões sobre o potencial da área e aceitou regras de conservação”, acrescentou.

A expectativa é que o governo boliviano implemente políticas de uso sustentável que garantam a conservação dos recursos hídricos e serviços ecológicos, sem excluir as atividades econômicas que já são desenvolvidas na região. Os compromissos voluntários podem ser adotados por qualquer representante da convenção.  (Com informações da Agência Brasil)