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ONG usa nus e sexo explícito para arrecadar verba para a Amazônia

Ingrid Tavares

Do UOL, em São Paulo

20/05/2013 06h00

Cabelos presos em dreadlocks, olhos azuis, mente livre e seios à mostra. São com esses préstimos que a sueca Leona Johansson surge à frente de uma ONG nada convencional, a Fuck for Forest (Transar pela floresta, em português). Há quase dez anos, ela teve a ideia de fazer do relacionamento aberto com o norueguês Tommy Hol Ellingsen uma fonte de renda para a preservação ambiental.

"Sexo nos atrai para comprar todo o tipo de produtos e ideias idiotas, então por que não para uma boa causa?", pergunta o casal no site.

Os dois passaram a gravar suas relações sexuais, publicar as cenas na internet e cobrar das pessoas pelo acesso ao material erótico. Quem não puder pagar, pode contribuir com a causa cedendo suas próprias imagens e vídeos caseiros ou virando um ativista da "organização erótica e ecológica sem fins lucrativos", ao participar das performances em público em raves, shows de rock e qualquer lugar que excite a dupla europeia.

O governo da Noruega até chegou a dar uma verba para os ativistas começaram a montar o site. Mas com o massacre da imprensa local, o país cancelou o apoio depois de seis meses e se desculpou por ter ajudado uma "organização indecente". Desde então, o FFF é mantido apenas pelos pouco mais de mil assinantes que pagam cerca de 10 euros mensais para ver as orgias promovidas pelo casal nas águas de uma cachoeira ou em cima dos galhos de uma árvore. 

O dinheiro arrecadado - aproximadamente, 130 mil euros por ano - banca projetos de conservação e reflorestamento em diversos pontos do mundo, da Costa Rica à Eslováquia, mas principalmente na Amazônia, com programas espalhados no Peru, no Equador e, claro, no Brasil.

Documentário 

Aqui no país, além de ter doado 13 mil euros ao Centro Holístico da Aldeia da Mata Atlântica, no Rio de Janeiro, os ativistas ajudaram um grupo de antropólogos a comprar um terreno em Roraima. A área de 5.300 quilômetros quadrados foi entregue aos índios locais que, diz o grupo, poderiam perder as terras para plantadores de arroz. 

Tommy e Leona ficaram comovidos com o pedido que não só destinaram 25,8 mil euros (na época, mais de R$ 66 mil), a maior quantia já liberada por eles, mas também conheceram a região de perto. Embrenharam-se na floresta tropical acompanhados da câmera de Michal Marczak, que registrou a visita para o documentário F*ck for Forest. O diretor diz  não se propor a questionar o grupo, mas observar um "fenômeno social dos nossos tempos, sintomático da era digital". 

Ele diz que teve a ideia de rodar o filme para entender melhor o conceito original, de ganhar dinheiro com transas e orgias gravadas de um jeito bastante amador. No fim, é a audiência que decide se eles estão são propositalmente ingênuos ou bastante espertos de transarem pelo bem da floresta.

"Acho que esse foi um ótimo negócio, não importa como eles arrecadaram o dinheiro. O mais importante é que eles ganharam o dinheiro de forma honesta, não fizeram mal a ninguém e aplicaram isso para tentar salvar nosso planeta. Isso faz toda a diferença", conta Valeska, como se identifica uma das antropólogas brasileiras no site do FFF.