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Lei mexicana faz com que tigres e leões sejam vendidos a "preço de banana"

Tigre é visto no circo "Hermanos Cadeno" em Chimalhuacan, México. A foto é de 07 de julho de 2015 - Ronaldo Schemidt/AFP
Tigre é visto no circo "Hermanos Cadeno" em Chimalhuacan, México. A foto é de 07 de julho de 2015 Imagem: Ronaldo Schemidt/AFP

Sandra Lucía Moreno

08/07/2015 18h48

Atualmente, comprar um tigre na Cidade do México está ao alcance de qualquer um que tiver US$ 2 mil (pouco mais de R$ 6.400), isso por conta da criação de uma lei contra o uso de animais silvestres nos circos, o que levou a indústria a vendê-los.

A norma, que entrou em vigor nesta quarta-feira na capital mexicana, fez com que empresários e trabalhadores do mundo do espetáculo enfrentassem uma das piores crises de sua história.

De acordo com Armando Cedeño, presidente da União de Empresários e Artistas de Circo (Uneac), a lei, promovida pelo Partido Verde Ecologista do México (Pvem) e aprovada em junho do ano passado, apresenta uma deficiência em planejamento e estratégia porque não levou em conta as consequências. Agora, o grupo recorre a medidas desesperadas, como a venda das espécies, e pretende "reverter a lei".

"Um tigre branco, que custava US$ 25 mil (mais de R$ 80 mil), está sendo vendido por US$ 2 mil a zoológicos particulares, colecionadores ou prefeitos que estão construindo zoológicos", disse.

Ele acusou a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Semarnat) de fazer pressão para que os animais fossem retirados dos circos antes do prazo estabelecido.

De acordo com o presidente da Uneac, há 15 dias a Semarnat informou que os exemplares poderiam ficar com os atuais donos, embora sem a exibição em espetáculos, com a condição de que o local estivesse adaptado como um zoológico, mas não levaram em conta os gastos e o tempo necessário para a reforma. Segundo ele, a medida afeta, ao todo, 700 circos e deixará mais de 1.000 pessoas desempregadas.

Antes da Cidade do México, seis dos 32 estados do país proibiram o uso de animais em circos (Colima, Guerrero, Guanajuato, Jalisco, Morelos e Querétaro) e vários outros estudam formas de fazer o mesmo.

Outro que questiona a nova medida é o Circo Atayde Hermanos, criado há mais de 120 anos. O diretor-geral, Andrés Atayde, se queixou que não foi criado um santuário específico para deixar os animais. Segundo ele, a venda dessas espécies demanda um processo legal difícil, mas ele disse estar otimista sobre futuro dos circos mexicanos, pois existem alternativas para o espetáculo.

"Nem tudo é feito com os animais. Eles são uma parte importante para o circo, mas há outras", salientou.

Atualmente, os circos do México passam por uma crise financeira e, segundo profissionais do setor a recuperação será complicada. Um dos motivos para a crise é a insegurança pública, que impediu os grupos de realizarem excursões pelo país.

Para fugir dos problemas, desde outubro do ano passado, o Circo Hermanos Vazquez está atuando nos Estados Unidos.

"Fechamos em setembro e estamos em Houston, no Texas. No México não temos mais funcionários, propaganda e até a tenda foi vendida", explicou à Agência Efe um representante do circo que não quis se identificar.

David Berosini, de 23 anos, ex-domador do circo, ainda cria os cinco tigres que por anos estiveram ao seu lado. O jovem planeja ir aos Estados Unidos ou à Europa em busca de melhores oportunidades. Para ele, a lei prejudicou os animais, pois não foi elaborada uma maneira efetiva para preservá-los.

Diversas organizações se posicionaram a favor da nova norma. No entanto, nem todos os ecologistas consideram que sua aplicação seja correta, como a jornalista ambiental Elena Hoyos.

Em sua opinião, a medida devia focar não somente nos circos, mas também nos aquários e nas praças de touro. Além disso, segundo ela, 90% dos zoológicos do México não oferecem as condições adequadas, por negligência da Semarnat.

Até a próxima segunda-feira à noite, os circos terão a oportunidade fazer as últimas apresentações com os animais na capital mexicana.