Excesso só de farra! Oktoberfest é evento verde que prega sustentabilidade
Megaevento de Munique não é a farra de desperdício que se possa pensar: energia ecológica, reaproveitamento de água e proibição de descartáveis garantem boa festa também para o meio ambiente.
A Oktoberfest alemã é uma festa dos superlativos: 170 montanhas-russas e outros brinquedos de parque de diversão brilhando em cores ofuscantes; ribombantes aparelhagens de som ao lado de barracas de tiro-ao-alvo decoradas com rosas de plástico; tendas de cervejaria do tamanho de ginásios esportivos.
Entre todas essas atrações, se acotovelam 6 milhões de visitantes, em graus diversos de embriaguez, os quais devoram meio milhão de galetos acompanhados por quase 8 milhões de litros de cerveja - mais ou menos o volume de uma piscina bem cheia.
Como praticar todo esse exagero sem um impacto excessivo sobre o meio ambiente? É difícil, mas praticável, pois a Oktoberfest conseguiu fazer jus ao status de megaevento verde, e em 1997 até recebeu o "Oscar ambiental". Só que quase ninguém sabe disso.
Da cozinha à toalete
Tudo começa com a comida: desde o galeto na brasa - conhecido em Munique como "Wiesn Hendl" - passando pelo joelho de porco e a salsicha assada, até as amêndoas caramelizadas e as frutas cobertas de chocolate: tudo também pode ser adquirido com selo orgânico.
A taverna Schichtl, por exemplo, só tem em seu cardápio carne orgânica da Hermannsdorfer, uma conceituada fazenda da região. "Em relação à carne, o predicado 'orgânico' é especialmente importante, claro, e por isso os clientes vêm direto para nós", afirma a gerente da gastronomia, Conny Berke.
Não importa qual tenda de cervejaria o visitante escolha: ele pode ter certeza de que a bebida foi preparada segundo o "preceito alemão de pureza" - que só admite o emprego de lúpulo, malte, levedo e água -, sem cereais transgênicos e servida em canecos de vidro ou louça.
Por isso nem adianta procurar cerveja em lata na Oktoberfest: após serem devidamente esvaziados, os canecos são simplesmente lavados. Quanto à água da lavagem, em cinco das 14 tendas ela não vai parar no esgoto, sendo usada na descarga das toaletes.
"Não" aos descartáveis
A grande reviravolta ecológica se deu em 1991, quando a prefeitura muniquense proibiu os pratos descartáveis, que foram substituídos pelos de louça. Em consequência o volume de resíduos se reduziu em quase 90%, passando, de 8.100 toneladas na época para 958 toneladas em 2014 - o equivalente a menos de 200 gramas de lixo por frequentador.
"Ainda pode haver melhoras na separação de papel e resíduos orgânicos. Mas de resto, estamos satisfeitos", é a conclusão de Evi Thiermann, da firma local AWM, responsável pela eliminação dos resíduos das tendas. Para ela, a proibição dos pratos de plástico é uma bênção: senão o trabalho de sua firma seria muito mais complicado.
Os turistas também apreciam bastante a renúncia aos utensílios descartáveis, embora por um motivo totalmente diferente. Um canecão de cerveja genuíno roubado e, apesar da bebedeira, contrabandeado debaixo do nariz dos seguranças é um suvenir ilegal, mas - por isso mesmo - extremamente cobiçado.
Publicidade positiva
Quem quer se candidatar a abrir um estande na Oktoberfest da capital bávara precisa convencer a municipalidade em 13 quesitos, entre eles o cuidado ambiental. Desse modo os participantes são, em princípio, forçados a praticar o comércio verde, já que a concorrência por um lugar no "Wiesn" é grande.
"Queremos poupar o meio ambiente. Eu acho isso importante, justamente num evento grande assim, onde, é claro, se gasta muita energia e se produz um monte de lixo e de CO²", comenta Hans Spindler, diretor da seção de eventos da cidade de Munique. Afinal de contas, diz, também dá boa publicidade.
Desde 2000 a direção do festival passou a empregar eletricidade de fontes renováveis em todos os setores da Oktoberfest - por exemplo, na iluminação das ruas e nos toaletes. Mais de 60% dos animadores autônomos e operadores de tendas seguiram o exemplo, igualmente adotando a energia ecológica. Diversões como a roda gigante, a "Freefall Tower" ou a montanha-russa "Wilde Maus" funcionam exclusivamente com eletricidade fornecida pelas hidrelétricas da empresa municipal.
Tudo isso sai um pouco mais caro, porém é importante, já que, apesar de todos os esforços ecológicos, a maior festa popular do mundo continua sendo uma devoradora de energia. A cada edição consomem-se 3 milhões de quilowatts - o suficiente para abastecer 1.200 residências muniquenses durante um ano.
Aliás, é possível chegar e partir da área da festa totalmente sem consumo de energia nem emissão de CO²: durante a Oktoberfest circulam pela cidade mais de 200 ciclotáxis. A maioria desses riquixás sobre três rodas, com capacidade para até dois passageiros, é movida apenas pela força muscular dos taxistas.
Em nome do meio ambiente
Os frequentadores da festa, no entanto, só se interessam até certo ponto por tais esforços ambientalistas, admite o funcionário municipal Hans Spindler. "A maioria dos festeiros não presta atenção nisso: para eles a Oktoberfest é o lugar para se 'soltar a franga'. Prazer e alegria de vida estão claramente em primeiro plano."
Por isso praticamente nenhum comerciante faz grande alarde do próprio engajamento ecológico. Mas felizmente, em princípio o desinteresse da multidão de foliões não é o argumento decisivo.
Pois quando, durante os 16 dias do evento, todos comem seu "Wiesn Hendl" orgânico em pratos de louça não descartável, volteiam na montanha-russa movidos por energia ecológica e voltam para o hotel de riquixá, não são só eles que têm motivos para estar feliz, mas também o meio ambiente.
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