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Botânicos tentam salvar árvore rara do Japão

A espécie "Betula chichibuensis" chegou a ter apenas 21 árvores na natureza, há duas décadas - Philip Drury/NYT
A espécie "Betula chichibuensis" chegou a ter apenas 21 árvores na natureza, há duas décadas Imagem: Philip Drury/NYT

Rachel Nuwer

10/11/2015 06h00

Uma graciosa espécie de bétula nativa do Japão está entre um dos tipos de árvore mais raros do mundo. Há duas décadas, os botânicos haviam contado apenas 21 espécimes sobreviventes na natureza, todas confinadas em uma pequena área na remota e escarpada floresta das Montanhas de Chichibu — um número pequeno demais para que a espécie, Betula chichibuensis, consiga se sustentar.

Inúmeros arboretos se esforçaram para cultivar a árvore, alguns com sucesso, mas agora a espécie pode ter ganhado uma segunda chance de sobreviver: botânicos ingleses coletaram sementes dessas bétulas selvagens pela primeira vez em quase 30 anos.

As novas mudas podem ajudar a reestabelecer a diversidade genética da pequena população de árvores cultivadas, além de incentivar iniciativas de reintrodução da espécie na natureza. “Definitivamente é uma grande oportunidade para uma espécie extremamente rara”, afirmou Michael Dosmann, curador do Arnold Arboretum, da Universidade de Harvard, que não faz parte do projeto.

A missão de salvar a B. chichibuensis faz parte de uma iniciativa ampla realizada por cientistas japoneses e britânicos que pesquisam e coletam sementes de todas as plantas nativas do Japão, muitas das quais não existem em nenhum outro lugar do planeta.

Ninguém sabe por que a B. chichibuensis se tornou tão rara. Atualmente, os especialistas acreditam que existem mais de duas dúzias de espécimes na natureza; nos últimos anos, Toshihide Hirao, ecologista florestal da Floresta Chichibu da Universidade de Tóquio, descobriu oito pequenas áreas onde a espécie existe. Ainda assim, “não há dúvidas de que ela seja muito rara e esteja ameaçada”, afirmou.

Hirao e seu colega, Satoshi Suzuki, levaram os pesquisadores britânicos a um dos locais mais acessíveis no ano passado. A equipe partiu ao amanhecer em um dia nublado de outubro, portando prensas de plantas, podadores e aparelhos de GPS. A jornada não foi fácil. À medida que adentravam a floresta, a trilha se tornava estreita e intermitente, muitas vezes desaparecendo, afirmou Ben Jones, curador do Harcourt Arboretum, da Universidade de Oxford. Uma chuva pesada começou a cair à medida que os pesquisadores tentavam se manter firmes sobre as rochas calcárias das encostas íngremes da montanha.

Seis horas depois de partirem, os cientistas finalmente chegaram às bétulas. Escondidas entre coníferas, as folhas das árvores já tinha perdido o verde e ganhado o amarelo dourado do outono. “Obviamente, estávamos exaustos, ensopados e morrendo de fome, mas não conseguíamos conter a alegria”, afirmou Jones.

“Era como finalmente conhecer uma celebridade de quem você é muito fã. Não há nada como ver essas plantas em seu habitat nativo”.

Uma análise mais detida das árvores trouxe outra grata surpresa: os galhos estavam repletos de sementes. A equipe cuidadosamente coletou 2.000 sementes de três bétulas e trouxe o material de volta para casa.

No laboratório, exames de raio-x dessas sementes mostraram que ao menos algumas delas seriam viáveis. Depois de fazer a longa jornada até a Inglaterra, cerca de metade das sementes foram enviadas para o Banco de Sementes do Milênio, em Kew, onde foram armazenadas. As restantes ficaram com Dan Luscombe, botânico do Pineto Nacional de Bedgebury, em Kent.

Luscombe plantou as sementes em um composto e, para sua alegria, cerca de 100 delas brotaram. “Eu passei por elas um dia e fiquei de queixo caído ao ver os brotos. As mudas germinaram! Eu não estava esperando que desse tão certo, mas elas brotaram em questão de semanas.”

Desde novembro, as mudas já atingiram 25 centímetros. Quando chegar a hora, elas serão distribuídas entre jardins botânicos ingleses e algumas serão devolvidas para o Japão. As mudas podem ser de enorme ajuda para preservar a espécie, não apenas numericamente.

“A B. chichibuensis nunca foi sistematicamente cultivada em arboretos, o que significa que o fato de a equipe britânica ter sido bem sucedida na germinação das sementes dessa espécie pode representar o primeiro passo em direção à preservação genética da espécie”, afirmou Hirao.

Em 1987, Hugh McAllister, que na época era botânico do Jardim Botânico Nessa, da Universidade de Liverpool, recebeu centenas de sementes de B. chichibuensis de um colega no Japão. Apenas oito germinaram. McAllister enxertou mudas clonadas de todos os espécimes que foram cultivados.

O Jardim Botânico Ness distribuiu sementes para 36 jardins desde 2009, e ao menos 28 locais cultivaram parentes dos oito clones originais de McAllister, de acordo com o PlantSearch, uma base de dados de coleções botânicas do mundo todo. Mas para salvar a espécie é necessário continuar coletando sementes dos espécimes selvagens, afirmou Dosmann, do arboreto da Universidade de Harvard.

As bétulas que produziram sementes viáveis há 30 anos talvez não estejam mais produzindo sementes hoje e os dados de campo, que não incluem a localização das sementes do lote de 1987, são fundamentais para a pesquisa e manutenção da espécie. Entretanto, as novas mudas podem ter um papel fundamental na ampliação da diversidade genética dos espécimes cultivados.

“É importante que os jardins botânicos tenham essas árvores como reservas, mas ficamos preocupados quando todo mundo cultiva exatamente a mesma parcela da piscina genética da espécie, já que é impossível saber se ela é representativa da média ou não”, afirmou Dosmann.

“Imagine se um alienígena chegasse na Terra e sequestrasse apenas três pessoas, mas que elas fossem justamente as celebridades mais odiadas do mundo. Você realmente gostaria que toda a raça humana fosse definida com base nesses três indivíduos?”

Os pesquisadores planejam retornar ao campo no ano que vem — desta vez equipados com apetrechos de montanhismo e acampamento — para passar mais tempo pesquisando as bétulas. Enquanto isso, Hirao e seus colegas estão analisando a diversidade genética e o fluxo genético das árvores selvagens.

Além de ajudar a aumentar as chances de reestabelecimento da espécie, Jones espera que o interesse renovado na B. chichibuensis aumente o debate sobre a dificuldade de manutenção de espécies raras de plantas em geral.

“Pouquíssima gente sabe que 20 por cento de todas as espécies de plantas correm risco de extinção”, afirmou.