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Animais comem uns aos outros e são comidos por pessoas em zoo da Venezuela

Puma com aparência magérrima no zoológico venezuelano - Monica Guevara/AFP
Puma com aparência magérrima no zoológico venezuelano Imagem: Monica Guevara/AFP

Em Caracas

28/02/2018 11h58

Dois pumas com a pele grudada nos ossos deram rosto ao drama de um zoológico do oeste da Venezuela, onde vários animais estão morrendo por falta de comida e outros sofrem de desnutrição severa.

Patos, porcos e cabras tiveram que ser sacrificados para alimentar outras espécies no zoológico metropolitano de Zulia, fechado para visitantes desde meados de fevereiro, após a divulgação de imagens de feras famintas.

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Um leão africano, um tigre de bengala, um jaguar, várias jaguatiricas e aves de rapina, todos carnívoros, engrossam a lista de desnutridos, disseram recentemente à AFP trabalhadores do parque, situado no município de San Francisco.

Mas os pumas - resgatados do tráfico de animais silvestres - apresentam o quadro mais grave. Suas fotos difundidas pelo jornal local Panorama causaram alarme.

"Ambos estavam confinados como animais de estimação e chegaram malnutridos, se recuperaram, mas com esta crise retrocederam, como se tivessem encolhido", acrescentaram as fontes.

Zoo Venezuela 2 - Monica Guevara/AFP - Monica Guevara/AFP
Tigre passa fome em jaula no Zoológico Metropolitano de Maracaibo, na Venezuela
Imagem: Monica Guevara/AFP

O país encara uma grave escassez de alimentos e remédios, além de uma hiperinflação que em 2018 poderia chegar a 13.000%, segundo o FMI. "Os zoológicos não escapam da crise", admitiu uma autoridade, que disse não ter "autorização para declarar à imprensa".

Um macho e uma fêmea de condor-dos-Andes nascidos em cativeiro e transladados ao parque para um plano reprodutivo que busca salvar a espécie da extinção também passaram semanas sem comer adequadamente.

Esta é a maior e mais pesada ave voadora do mundo e está em "perigo crítico" pela caça e "o uso estendido de agroquímicos", segundo o Livro vermelho da fauna venezuelana. Restam poucos exemplares em estado silvestre.

A fome levou dois carcarás (aves de rapina) a comerem seu companheiro de jaula.

Para tentar compensar a falta de carne, diretores promoveram a caça de iguanas - lagartos - que crescem silvestres no zoo, além da pesca de tilápias em lagoas do parque.

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Dois pumas com a pele grudada nos ossos dão rosto ao drama do zoológico do oeste da Venezuela
Imagem: Monica Guevara/AFP

Além do fornecimento irregular de alimentos, o único zoológico do estado de Zulia é afetado por roubos. Em 2016, ao menos 40 animais foram roubados por sua carne.

Dirwings Arrieta, prefeito de San Francisco, anunciou a "reestruturação" do lugar, mas não se referiu à desnutrição dos animais.

A insegurança afeta outros zoológicos, como o de Caricuao, em Caracas, onde em 2016 mataram um cavalo para roubar sua carne. Em janeiro, meios do estado Falcón (oeste) informaram do roubo de dois caititus (porcos selvagens).

Carlos Silva, veterinário do zoo de Bararida (250 km ao sudoeste de Caracas), que também registrou roubos de animais, disse à AFP que os zoológicos venezuelanos atravessam uma "época negra", e que "o visto em Zulia só se pode compreender em países com conflitos bélicos".