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Rio gigante surge em área desmatada para plantação de soja na Argentina

Rio Novo - UNSL - UNSL
No trecho mais amplo, erosão alcança 60 metros de largura e 25 metros de profundidade
Imagem: UNSL

Do UOL, em São Paulo

05/04/2018 15h20

Um rio surgiu na província de San Luis, na região central da Argentina, e essa não é uma boa notícia para o ambiente. Na realidade, trata-se de uma consequência do desmatamento e da expansão do plantio de soja. O aumento da quantidade de chuvas, relacionado às mudanças climáticas, também é apontado como causa do surgimento do rio. 

Chamado de Rio Novo (Río Nuevo, em espanhol), o curso de água apareceu repentinamente em 2015, com a abertura de uma imensa ravina, em um processo erosivo que surpreendeu fazendeiros, pesquisadores e moradores da região. Desde então, o rio já alcançou 25 km de extensão, segundo reportagem do jornal britânico "The Guardian".

Na altura em que a ravina é mais aberta e profunda, ela alcança 60 metros de largura e 25 metros de profundidade, formando um enorme desfiladeiro. A Universidade Nacional de San Luis produziu um documentário mostrando a evolução do rio e estragos causados por ele. 

De acordo com o Guardian, o governo de San Luis tenta salvar a bacia de Cuenca del Morro. Dentre as medidas adotadas está uma lei aprovada em 2016 que obriga os proprietários a preservarem 5% de suas fazendas como florestas ou pastagens e a plantar culturas de inverno que drenam água quando suas terras não estão sendo usadas para soja.

O Rio Novo é o maior de vários novos cursos de água que começaram a aparecer na bacia de Cuenca del Morro. A planície de cerca de 373 mil hectares possui uma leve inclinação e diversos lençóis freáticos. Foram essas águas subterrâneas que fizeram o solo ceder e formaram o afluxo de água que está levando tudo que encontra pela frente. O avanço do rio ameaça passar pela pequena cidade de Villa Mercedes e cortar duas estradas importantes.

Até o início da década de 1990, a região possuía florestas e pastagens, que absorviam bem a água das chuvas que se infiltrava no solo. A maior parte dessa cobertura foi substituída por plantações de milho e soja. Ao contrário da floresta, que são permanentes e cujas raízes absorvem a água subterrânea, a soja cresce apenas alguns meses do ano e possui raízes curtas, explica Esteban Jobbagy, pesquisador de Universidade Nacional de San Luis, ao The Guardian.

Assim, o desmatamento e a agricultura intensiva fez com que a região da bacia de Cuenca del Morro perdesse a capacidade de drenagem de água, o que levou a um aumento do fluxo de água subterrânea, à formação de enxurradas e ao processo erosivo. O aumento das chuvas, possível consequência do aquecimento global, tornaria ainda mais problemática a situação. 

“Quando o solo fica encharcado, torna-se muito instável, e o que parece ser sólido se torna líquido. O rio movimenta muito sedimento, apesar do declive relativamente suave”, indica Jobbagy.

Uma reportagem do jornal britânico The Guardian mostra os problemas relacionados ao rio, sendo um deles as consequências da dependência da Argentina à produção de soja, que abarca cerca de 60% das terras agriculturáveis. De acordo com o Greenpeace, cerca de 2,4 milhões de hectares de floresta nativa foram perdidos nos últimos 10 anos no país.

A Argentina é o terceiro maior produtor de soja do mundo, depois dos EUA e do Brasil, e responde por 18% da produção global. Em 2016, as exportações combinadas de soja, farelo de soja e óleo de soja representaram 31% do total das exportações do país.