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Raros filhotes albinos de baleia franca são vistos com a mãe em SC

Aline Torres

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

01/08/2018 17h55Atualizada em 02/08/2018 14h22

Há 15 anos, uma baleia então filhote quis se aventurar longe da mãe e se perdeu. Nadou 14 km pelo canal que liga o mar à lagoa Santa Marta, em Laguna (SC), e encalhou.

A bióloga Karina Groch, 45, do Instituto Australis/Projeto Baleia Franca, coordenou os trabalhos de resgate, com a ajuda da Polícia Ambiental, do Corpo de Bombeiros, da Capitania dos Portos e de pescadores locais.

A primeira tentativa de rebocá-la foi feita com barcos artesanais. Somente depois de 30 horas, conseguiram desprender o animal do banco de areia. A baleia ganhou o nome de Sunset (pôr do sol, em inglês). Era uma quinta-feira, dia 31 de julho de 2003.

No ano passado, Sunset, que se distingue das companheiras normalmente bicolores por ter uma mancha cinza nas costas, voltou às águas catarinenses com um raro filhote albino batizado de Laguna. Groch relata com emoção a importância do retorno de Sunset: "Ela foi a nossa primeira baleia resgatada com vida após encalhe. É como uma recompensa pelos anos de trabalho dedicados à conservação".

Símbolo do esforço, a data do salvamento de Sunset foi escolhida pelo Instituto Australis como o Dia Nacional da Baleia Franca, comemorado pela primeira vez neste ano e que foi marcado por outras duas surpresas.

“Neste ano não vimos Sunset e Laguna, mas outras duas baleias pariram seus filhotes albinos em Santa Catarina. Tem uma mãe com o filhote na região de Imbituba e outra em Florianópolis.”

O médico Luiz Augusto Gonzaga, 51, teve a sorte de ver uma das mães e seu filhote albino. Apesar de morar no litoral catarinense há 25 anos, foi a primeira vez que ele saiu para observar baleias. No último sábado (30), no alto de um morro na praia do Rosa, em Imbituba, ele registrou as imagens com um drone.

"Meu coração disparou. Senti uma emoção intensa. Tive o privilégio de observar a forte relação de amor dela com o filhote", conta ele.

Águas quentes

As fêmeas da espécie migram das Ilhas Geórgias do Sul, próximas às Malvinas, no Atlântico Sul, para parir e amamentar seus filhotes na costa brasileira, onde a água é mais quente e menos perigosa.

"As baleias francas são mães amorosas. Após os oito ou nove anos de idade, geram um filhote a cada três anos e fazem todo o possível para garantir que eles fiquem bem. São carinhosas e muito protetoras", diz a bióloga, participante do projeto há 22 anos.

Os filhotes registrados pelo projeto são considerados na nomenclatura técnica como semialbinos, pois, quando crescerem, a parte branca do corpo ficará cinza e eles já apresentam pequenas manchas pretas. Segundo os biólogos, são machos, pois a característica genética não é transmitida para as fêmeas.

"São filhotes raros. O primeiro que registramos foi no ano 2000. Desde então devemos ter visto pouco mais de dez casos", conta Groch.

As baleias francas são cetáceos que podem atingir 14 metros e pesar 60 toneladas. Desde o início do Projeto Baleia Franca, em 1982, 800 foram avistadas no litoral catarinense. Um número expressivo, já que em 1973, após séculos de caçadas para a extração da gordura abundante de seu corpo e de barbatanas, foram consideradas extintas na região.

Entre 1740 e 1796, foram erguidas seis armações baleeiras no estado. A de Imbituba foi a última a fechar, em 1973.