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Fenômeno nos EUA mata peixes e espanta turistas, mas pode ser bom para o meio ambiente

22/08/2018 04h01

O estado norte-americano da Flórida declarou situação na emergência neste mês devido à maré vermelha, um fenômeno caracterizado pelo aumento de algas nas águas que eliminam toxinas e matam os peixes. Apesar de ser recorrente na região, em 2018 a intensidade é a maior em uma década.

Como resultado, as praias da região estão cheias de animais mortos, e o mau cheiro afasta os turistas, impactando a economia. Mais de cem toneladas de peixes e crustáceos foram retirados das águas nas últimas semanas.

Só na semana passada, 12 golfinhos apareceram mortos na costa do condado de Sarasota. Normalmente, este é o número de cetáceos mortos em um ano inteiro.

"É física e mentalmente esgotante", disse Gretchen Lovewell, encarregada de uma equipe do Mote Marine Laboratory, que recolhe tartarugas e mamíferos marinhos em risco ou mortos.

Ela e outros dois colegas estiveram "trabalhando literalmente dia e noite" no local, acrescentou Lovewell.

Peixes maré vermelha - Gianrigo Marletta/AFP - Gianrigo Marletta/AFP
Centenas de peixes estão morrendo na Flórida devido a uma maré vermelha
Imagem: Gianrigo Marletta/AFP

A maré vermelha é um fenômeno natural. É causada por um organismo unicelular microscópico denominado Karenia brevis, único no Golfo de México.

Este organismo libera um poderoso neurotóxico que pode ser transmitido pelo ar e causa aos humanos dores de cabeça, irritação nos olhos, tosse e asma. Mas pode ser mortal para os animais marinhos.

Ainda assim, o fenômeno pode ser benéfico para o meio ambiente, dizem alguns ecologistas ouvidos pela AFP. Eles opinam que a devastação equivale a uma "limpeza" no ecossistema local.

A Karenia brevis é encontrada o ano todo em níveis baixos. Mas, quando se multiplica, as tartarugas marinhas e os peixes-boi podem inalá-la ou comer algas infectadas pelo neurotóxico. Os sintomas incluem desorientação, falta de coordenação e convulsões.

Há casos de maré vermelha documentados pelos exploradores espanhóis, inclusive no século 16.

"Mas a pergunta agora é o que nós podemos estar fazendo para que a maré vermelha aumente e permaneça por mais tempo", disse Richard Pierce, cientista sênior do Mote Marine Laboratory e especialista em ecotoxinas.

O atual surto de maré vermelha na Flórida começou em outubro de 2017 e piorou consideravelmente nas últimas semanas.

Espalhou-se ao longo da costa oeste da Flórida, em um trecho de 320 quilômetros de Tampa a Naples.