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Até 2030, Brasil quer controlar 5 espécies de animais invasores: veja quais

Coral-sol: espécie estrangeira ameaça corais de Abrolhos, na Bahia Imagem: Alexander Vasenin

Aline Torres

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

06/09/2018 04h01

Um animal invasor rapidamente se alastrou e ameaça o litoral brasileiro, de Sergipe a Santa Catarina. Apesar de belo e parecer inofensivo, trata-se de uma praga mortal: o coral-sol é apontado pela ONU (Organização das Nações Unidas) como a espécie responsável pela maior perda da biodiversidade no mundo, de acordo com o relatório Global Biodiversity Outlook.

Para monitorar essa e outras quatro espécies, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) atualizou um documento que aborda o impacto desses animais no ecossistema nacional. Chamado de Estratégia Nacional para Espécies Exóticas Invasoras, foi lançado no último mês em Florianópolis --a última versão havia sido feita em 2009.

O papel lista cinco espécies estranhas à nossa fauna, que ameaçam o equilíbrio nacional. São elas: coral-sol, javali, mexilhão dourado, sagui e caramujo gigante africano. O MMA espera tê-las sob controle até 2030.

Trazido ao Brasil nos anos 80 para a comercialização de escargot, o caramujo-gigante africano tornou-se uma das principais pragas do país Imagem: Getty Images/iStockphoto

Depois de inseridas em nosso meio ambiente, essas espécies exóticas têm alterado o funcionamento dos ecossistemas nativos.

Segundo o secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica, a presença de espécies exóticas já implicou, desde 1600, na extinção de 39% dos animais. No mundo, são estimados prejuízos em torno de R$ 5,8 trilhões por ano.

O MMA ressalta que há milhares de espécies invasoras no país, inclusive cães e gatos, mas nem todas prejudicam a biodiversidade e a economia, e este é um fator importantíssimo na hora de definir quais espécies serão combatidas.

Invasão e colonização

Historicamente, a maior responsável pelo aparecimento desses bichos no Brasil foi a colonização europeia, mas a importação das pragas continua.

O coral-sol chegou à costa do país trazido do oceano Pacífico por uma embarcação petrolífera nos anos 1980. Mas foi só há seis anos que passou a ser encarado como ameaça, explica Ugo Vercillo, 38, diretor do Departamento de Conservação e Manejo das Espécies do MMA.

De acordo com o estudo "O Controle da Invasão do Coral-Sol no Brasil Não É uma Causa Perdida", feito com participação do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a espécie se reproduz num ritmo muito veloz, o que aumenta seu potencial destrutivo.

A espécie libera larvas que flutuam pelo mar até encontrarem um local de fixação, como costões rochosos. Segundo o estudo, uma única colônia pode produzir mais de 200 mil larvas em 15 anos.

Sem predadores naturais no Brasil, o coral-sol destrói as espécies locais com a liberação de compostos químicos e filamentos que provocam necrose. Uma das vítimas é o coral-cérebro, fundamental na construção dos recifes do Nordeste. Essa invasão pode inclusive comprometer Abrolhos, arquipélago localizado no sul da Bahia e ponto de maior diversidade de corais em todo o Atlântico Sul.

Outros pontos afetados do litoral brasileiro são a Baía de Todos-os-Santos, na Bahia, o arquipélago Alcatrazes e Ilha Bela, em São Paulo, Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, em Santa Catarina.

Para conter esse efeito devastador, estudiosos acompanham uma iniciativa pioneira criada em 2006: o Projeto Coral-Sol, que já retirou mais de 230 mil colônias da espécie, o equivalente a 8,5 toneladas.

Molusco incrustado e um comedor voraz

Os mexilhões dourados grudam-se em hélices de barcos e hidrlétricas e trazem prejuízos à economia Imagem: J-lio Cordeiro/Ag.RBS/Folhapress

O mexilhão-dourado veio para o Brasil na década de 1990, arrastado por embarcações asiáticas. Vive em água doce e não tem potencial gastronômico.

Vercillo diz que as empresas que mais sofrem com essa presença no país são as indústrias de energia elétrica e náuticas.

"O molusco fica incrustado nas grades das hidrelétricas e nas embarcações e precisa ser removido e enterrado no solo com cal em cima, o que custa tempo e dinheiro", disse.

O mexilhão-dourado está espalhado pelas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e na Bacia do Rio São Francisco.

Outro alvo de queixas dos agricultores do Centro-Oeste, Sudeste e do Sul é o javali. É um consumidor voraz de soja, milho, arroz e tudo o mais que tiver pela frente, inclusive pequenos animais silvestres.

Sua chegada causou, por exemplo, a extinção de algumas espécies de flora e a tomada de espaço dos porcos-selvagens brasileiros, como o cateto e a queixada.

O javali é originário da Europa, foi levado para o Uruguai e para a Argentina na década de 80 e migrou para o Brasil pela fronteira com o Rio Grande do Sul, quando iniciaram os cruzamentos com o suíno doméstico.

O resultado ficou conhecido como "javaporco", um animal de maior robustez física e maior quantidade de carne.

O javali, espécie de mamífero europeu trazido para a América do Sul na década de 80 Imagem: Getty Images/iStockphoto

Um javali adulto pode chegar a 1,30 metro de comprimento e pesar até 100 kg. De acordo com a Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo, da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, um animal adulto e faminto pode derrubar cerca de cem pés de milho por dia. É comum que os javalis andem em varas de cem ou mais indivíduos e destruam plantações em pequenas propriedades em uma única noite. 

No Brasil, o manejo pelos fazendeiros foi liberado pelo Ibama em 2013 -- uma decisão polêmica, pois há denúncias de que esses animais são vítimas da caça esportiva.

Planos de combate

O MMA está desenvolvendo planos para individuais para lidar com cada uma dessas espécies. Até o momento, foram concluídos as estratégias sobre o coral-sol, o javali e o mexilhão-dourado. Os planos para o saqui e o caramujo-gigante-africano serão elaborados nos próximos dois anos.

Mas já há uma estratégia geral desenhada: analisar o risco dos invasores, identificar os vetores, ou seja, quem traz essas espécies e detectar precocemente a introdução em novos ambientes, para que não se alastrem ainda mais.

A proposta foi elaborada por acadêmicos, técnicos de diversos ministérios e setores produtivos e submetidos à Comissão Nacional da Biodiversidade.

Sagui, espécie abundante no Rio de Janeiro, não é nativa Imagem: Getty Images/ iStckphoto

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