Queimadas na Amazônia provocam "corredor de fumaça" na América do Sul
Talita Marchao
Do UOL, em São Paulo
20/08/2019 04h00
Um corredor de fumaça proveniente das queimadas na Amazônia vem descendo pela América do Sul desde a semana passada, atingindo o Centro Oeste, o Sudeste e o Sul do Brasil, e países vizinhos como Argentina, Uruguai, Peru e Bolívia.
O fenômeno costuma ocorrer entre agosto e setembro, por causa da temporada seca, mas chamou a atenção depois que uma mistura de fumaça com a frente fria que atingiu o estado de São Paulo escureceu a região da capital paulista no meio da tarde de ontem.
No caso de São Paulo, a fumaça provocada pelas grandes queimadas no sul da Bolívia e no Paraguai no fim de semana contribuiu para que o paulistano pudesse achar que anoiteceu mais cedo, por volta das 15h da segunda. A fumaça dos incêndios atravessou o Paraná, Mato Grosso do Sul, atingiu o estado de São Paulo e chegou a alcançar Minas Gerais, somando-se à fumaça provocada pelas queimadas amazônicas e aumentando a intensidade desse "corredor".
Em entrevista ao UOL por email, o argentino Santiago Gasso, pesquisador da Nasa, a agência espacial norte-americana, conta que o fenômeno do "corredor de fumaça" não ocorreu nos últimos anos e depende de muitos fatores para se formar.
"Incêndios sempre acontecem nesta época do ano. Mas o corredor da fumaça não se forma todos os anos por razões que incluem o número de incêndios e sua intensidade, o tipo de combustível, a umidade no solo e questões meteorológicas", afirma o especialista.
A empresa de meteorologia MetSul explica que é possível saber que a fumaça que atingiu é proveniente da Bolívia, por onde passa o corredor, e não só da Amazônia, por causa da cor da fumaça vista nos satélites. "A cor da fumaça que vem da região amazônica é esbranquiçada, e a fumaça que veio da Bolívia e do Paraguai é marrom. E o que estava sobre o estado de São Paulo era marrom", afirma a MetSul.
"Como a fumaça é 'emparedada' nos Andes, acaba se concentrando e fica muito espessa, parecendo uma nuvem de cor diferente, meio azulada. Ao se mover para o sul, parece uma longa nuvem contínua de cores diferentes" diz Gasso, explicando que a imagem gerada pelos satélites assemelha-se a um rio. Por onde passa, a poluição causada pela fumaça é responsável por aquele visual do sol avermelhado se pondo no horizonte, como ocorre na capital paulista no inverno.
O especialista da Nasa lembra ainda que os efeitos da fumaça os tradicionais: má qualidade do ar, riscos à saúde de idosos e crianças e pessoas com doenças respiratórias, baixa qualidade de vida (você não pode sair e praticar esportes, por exemplo), além dos impactos no clima e no ecossistema. "Existe um componente internacional importante, porque provoca a má qualidade do ar no Paraguai, na Argentina e no Uruguai, países que não são necessariamente os principais produtores de fumaça", diz o Gasso.
De acordo com o MetSul, o número de queimadas em agosto está acima da média dos últimos anos. O tempo muito seco e o aumento de incêndios ilegais contribuem para o crescimento dos focos de incêndio na região amazônica.