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Sem prova, Bolsonaro acusa ONGs de estarem por trás de queimada na Amazônia

Stella Borges e Carlos Madeiro*

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em Maceió

21/08/2019 09h11Atualizada em 21/08/2019 18h24

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse hoje que ONGs podem estar por trás das queimadas que atingem a Amazônia por terem perdido recursos e estarem querendo atingi-lo. Ele, porém, não apresentou evidências das alegações. Elas criticaram a declaração.

O número de queimadas cresceu 70% neste ano em todo o país e é o maior desde 2013. Os focos de incêndio têm um pico nesta época do ano por razões climáticas, segundo o Metsul --contam para a combinação a umidade do solo e questões meteorológicas.

No caso da Floresta Amazônica, porém, o tempo seco não explica o aumento das queimadas, segundo especialistas. "Todo fogo [na região amazônica] é de alguma forma iniciado pelo ser humano", afirma o gerente do Programa Amazônia do WWF Brasil, Ricardo Mello. De acordo com ele, historicamente o uso de fogo ocorre após o desmatamento da área, que também vem crescendo nos últimos meses.

O gerente do Programa Amazônia do WWF Brasil, Ricardo Mello, afirma que, no caso da região amazônica, por exemplo, não há um processo natural que provoca queimadas, como o calor que atinge o cerrado.... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2019/08/19/numero-de-queimadas-cresce-70-e-e-o-maior-desde-2013-amazonia-lidera.htm?cmpid=copiaecola

Ao ser questionado sobre as queimadas na Amazônia, Bolsonaro respondeu: "O crime existe e nós temos que fazer o possível para que não aumente, mas nós tiramos dinheiro de ONGs, repasses de fora, 40% ia para ONGs, não tem mais. De modo que esse pessoal está sentindo a falta de dinheiro. Pode estar havendo, não estou afirmando, a ação criminosa desses 'ongueiros' para chamar a atenção contra minha pessoa contra o governo do Brasil."

O presidente disse que está conversando com os ministérios da Defesa e do Meio Ambiente para ver as providências que o governo federal pode tomar para ajudar a sanar o problema. "Vamos fazer o possível e o impossível para conter esse incêndio criminoso, cada árvore queimada eu sinto aqui em mim o que está acontecendo", disse.

Mais tarde, em congresso sobre aço, Bolsonaro voltou a falar do tema e a criticar encontros mundiais sobre o clima ao dizer que, "se fosse bom, o americano não teria saído".

"Nós, por enquanto, estamos lá. E, se vamos sair um dia, depende de quem estiver ao nosso lado. Certas brigas eu só posso comprar se tiver gente forte ao meu lado. Não tenho o poder que muitos pensam que tenho. Gostaria que tivesse, não tenho. Até para revogar um decreto sou amarrado", comentou.

Dados do Programa Queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que o número de focos de queimadas cresceu 70% este ano (até o dia 18 de agosto) na comparação com o mesmo período de 2018 -- o número é o maior desde 2013, primeiro ano em que há informações de período similar.

Segundo os números do Inpe, o bioma mais afetado é o da Amazônia, com 51,9% dos casos. O cerrado vem em seguida com 30,7% dos focos registrados no ano. Em números absolutos, Mato Grosso é o estado líder com 13.109 focos de queimada, seguido pelo Pará, com 7.975. Corumbá (MS) é o município campeão em focos: 1.911.

O Inpe, que levanta os dados de queimadas, foi alvo de críticas recentes de Bolsonaro. Ele acusou o órgão de estar a serviço de algumas ONGs ao divulgar dados que apontaram aumento do desmatamento na Amazônia. O caso resultou na saída do diretor do Inpe, Ricardo Galvão.

O programa de queimadas do Inpe conta com recursos do Fundo Amazônia. Recentemente, Alemanha e Noruega cortaram verbas que enviavam ao fundo em protesto contra o aumento do desmatamento no bioma.

(*Colaborou Luciana Amaral, do UOL, em Brasília)