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Governo tenta ofensiva diplomática para reverter imagem de destruição da Amazônia

Foco de incêndio na Floresta Amazônia em São Félix do Xingu, no Pará, registrado pelo Greenpeace - Daniel Beltrá/Greenpeace
Foco de incêndio na Floresta Amazônia em São Félix do Xingu, no Pará, registrado pelo Greenpeace Imagem: Daniel Beltrá/Greenpeace

Por Lisandra Paraguassu

Em Brasília

22/08/2019 22h14

Acossado por reações negativas no mundo inteiro pelo desmatamento crescente e as queimadas na Amazônia, o governo brasileiro começou uma ofensiva diplomática para tentar mostrar ao mundo que defende a Amazônia e distribuiu uma circular de 12 páginas para todos os postos diplomáticas como subsídios para a defesa do governo.

Os 59 pontos da circular a que a Reuters teve acesso tentam responder cada um dos pontos sobre questões em que o Brasil tem sido criticado no exterior, mas usam políticas e dados de governos anteriores --inclusive algumas hoje criticadas pelo presidente Jair Bolsonaro.

Ao tratar do desmatamento, que dados iniciais mostram que vem crescendo em taxas aceleradas este ano, o documento enviado pelo Itamaraty a seus postos diz que a taxa foi reduzida em 72% entre 2004 --quando atingiu o maior pico desde a metade da década de 1990, com 27,7 mil quilômetros quadrados desmatados-- e 2018, onde 7,9 mil km2 de floresta foram derrubados.

No entanto, deixa de lado o fato de que desde 2012 a taxa voltou a subir, com a crise fiscal e a queda nas atividades de fiscalização por falta de recursos.

"É importante ter em mente que nas últimas décadas o Brasil desenvolveu capacidade de conciliar produção agropecuária com preservação. Mais de 60% do território brasileiro é coberto por vegetação nativa, com atividades agropecuárias limitadas a cerca de 30% do território" diz o texto enviado aos postos.

A limitação ao uso da terra e o fato de 60% do território nacional ser composto de reservas ambientais de diversos tipos e terras indígenas é uma das grandes críticas do presidente à política ambiental adotada por seus antecessores.

Bolsonaro afirma que o país está "amarrado" e lembra sempre que votou contra a criação da reserva Yanomâmi, que seria "maior que o Estado do Rio de Janeiro".

O texto ainda destaca justamente as terras indígenas, mais de 60 reservas que seriam "as maiores áreas de preservação de vegetação nativa do Brasil", mas que são alvos de algumas das maiores críticas de Bolsonaro. Desde a campanha eleitoral o presidente promete que não irá aprovar nem mais uma reserva, e defende a abertura das terras para exploração de minérios.

"O país tem atuado intensamente no controle e na restrição a atividades irregulares com envolvimento de grileiros, madereiros e garimpeiros, de modo a reduzir índices de desmatamento e invasão a terras indígenas", diz a circular.

Um projeto que regulariza o garimpo nas terras indígenas está em estudo pelo Ministério de Minas e Energia a pedido de Bolsonaro.

O texto ainda defende a ação do Brasil dentro do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, o mesmo que, segundo Bolsonaro, "se fosse bom os Estados Unidos não tinham saído."

A circular diz ainda que críticos tentam associar o Brasil à destruição do Meio Ambiente para obrigar o país a aceitar compromissos maiores em acordos internacionais.

"Há, da mesma forma, grande interesse de competidores internacionais do agronegócio brasileiro em divulgar imagem negativa da produção agrícola nacional", diz o texto que pretende subsidiar a defesa que os diplomatas farão do país.

Diplomatas ouvidos pela Reuters contam que nos últimos dias tem aumentado a pressão sobre o tema ambiental e, inclusive, mensagens duras tem sido enviadas às embaixadas. Em meio à crise mais recente, com as imagens das queimadas na Amazônia ganhando o mundo, o governo começa a tentar reagir.

Hoje, começou a discutir uma campanha internacional para ser divulgada na Europa e nos EUA em defesa do agronegócio.

O próprio Itamaraty colocou em sua conta no Twiiter, na noite de ontem, uma série de publicações em defesa das políticas públicas ambientais brasileiras.

"Quem vai salvar a Amazônia? O Brasil", diz o texto que desfila alguns dados positivos sobre produção de energia limpa, uso da terra e outros números que constam da mesma circular.

Várias embaixadas brasileiras no exterior, orientadas pelo ministério, replicaram o mesmo material.

Em sua conta no Twitter, o assessor especial da Presidência Filipe Martins, fez uma sequência de 10 textos em que, usando tom irônico em inglês, defendeu o governo.

"Então você realmente pensa que a Amazônia está em perigo e deveria rezar para salvá-la? Primeiro um conselho: a primeira coisa que você deveria fazer era parar de espalhar mentiras", escreveu no primeiro.

A sequência de mensagens foi compartilhada pelo presidente em suas redes sociais.