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Em 18 anos, Amazônia perdeu seis estados do RJ em florestas, diz IBGE

Agentes do Ibama checam tora de madeira, durante apreensão realizada pela "Operação Onda Verde", em Apuí (AM) - Bruno Kelly/Reuters
Agentes do Ibama checam tora de madeira, durante apreensão realizada pela 'Operação Onda Verde', em Apuí (AM)
Imagem: Bruno Kelly/Reuters

Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

24/09/2020 10h00

Em 18 anos, a Amazônia perdeu 269,8 mil km² de florestas —o equivalente a seis vezes a área estado do Rio de Janeiro ou mais do que a área do Reino Unido. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o bioma perdeu 8% de sua cobertura florestal entre 2000 e 2018.

O instituto analisou todas as mudanças de uso da terra nos biomas brasileiros neste período. Na Amazônia, metade das alterações (50,2%) foi para transformar áreas em pastagem.

Os dados fazem parte do estudo "Contas de Ecossistemas: Uso da Terra nos Biomas Brasileiros (2000-2018)", divulgado hoje pelo IBGE, que, pela primeira vez em sua história, mapeou os diferentes ecossistemas brasileiros para detalhar o estado em que estão e as mudanças que ocorreram desde o começo do século.

No período analisado, a proporção de terras da Amazônia usadas para pasto cresceu 71%, passando de 248,8 mil km², em 2000, para 426,4 mil km² em 2018.

Foi o bioma que mais registrou mudanças no uso da terra. A área para a agricultura também avançou — cresceu 288,6% no mesmo período.

No entanto, o IBGE avalia que a conversão da vegetação em pasto não se traduziu em ganhos de produção. Apesar de ocupar muitas terras, os pastos não geraram emprego nem renda, explica Maria Luisa da Fonseca Pimenta, gerente de Contas Estatísticas Ambientais do IBGE e uma das autoras do estudo.

A maior preocupação não é só a perda quantitativa da área de cobertura, mas também a fragmentação que isso traz para a floresta. Ou seja, quando eu falo que perdi 2 km², eu não estou só perdendo aquela área, eu estou impactando a área seguinte. Temos, então, o efeito de borda na floresta. Ela vai se fragmentando e fica mais suscetível a qualquer outro tipo de transformação."
Maria Luisa da Fonseca Pimenta, gerente de Contas Estatísticas Ambientais do IBGE

Perda de vegetação nativa chegou a quase 500 mil km²

A ideia do estudo é analisar as áreas naturais remanescentes no país e expor, em detalhes, as conversões de uso das terras nos biomas. A metodologia leva em conta os estoques dos recursos naturais e os reflexos das atividades econômicas nos biomas após a perda da vegetação original.

A pesquisa mostrou que houve uma desaceleração nas perdas de áreas naturais no Brasil, mas todos os biomas terrestres tiveram saldo negativo entre 2000 e 2018 (veja mais abaixo). A perda de cobertura da vegetação nativa chegou a quase 500 mil km² na soma dos diferentes ecossistemas: ao todo, a redução de vegetação foi de 489,8 mil km² no período.

Cerrado e Amazônia puxaram o alto número de supressão da vegetação nativa. Enquanto a vegetação natural da região amazônica foi reduzida em 269,8 mil km², o Cerrado perdeu 152,7 mil km² —mais do que a área do estado do Ceará. Os dois biomas representam 86% de toda a perda de vegetação nativa nestes 18 anos.

O Pampa (que no Brasil está em parte do Rio Grande do Sul) foi o mais atingido em relação à sua própria área: 16,8% de sua cobertura natural foram destruídos no período estudado.

Veja a situação em cada bioma:

Amazônia

16.ago.2020 - Área devastada pelo fogo na Amazônia - Christian Braga / Greenpeace - Christian Braga / Greenpeace
16.ago.2020 - Área devastada pelo fogo na Amazônia
Imagem: Christian Braga / Greenpeace

Além de ser a região que mais perdeu vegetação nativa entre 2000 e 2018, o IBGE chama a atenção para outro dado relativo à Amazônia: a conversão da floresta em área de pastagem.

Os pesquisadores destacam que, antes, o "arco do desmatamento" era mais visível nas "bordas do Bioma Amazônia, em áreas de contato com o Bioma Cerrado". Agora, houve uma "interiorização considerável, ao seguir construções de estradas, margens de rios e adjacências de obras de infraestrutura".

A lógica de construção de estradas, segundo o IBGE, foi impulsionada pela extração de madeira e garimpo.

"Nós observamos que a supressão de áreas naturais acompanha as estradas que são identificadas na nossa base cartográfica (...) A pesquisa não trata de fazer correlações, mas foi bastante evidente, principalmente no que chamamos de Amazônia oriental [área que abrange Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso]", diz a pesquisadora Maria Luísa da Fonseca Pimenta.

Cerrado

Porção do cerrado com indícios de desmatamento em Palmeirante, Tocantins - Ueslei Marcelino/Reuters - Ueslei Marcelino/Reuters
Porção do cerrado com indícios de desmatamento em Palmeirante, Tocantins
Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

O Cerrado ficou em segundo lugar entre os ecossistemas que mais foram suprimidos. Ali, além do pasto, a vegetação destruída deu lugar à agricultura. Entre 2000 e 2018, foram mais de 100 mil km² destinados à atividade agrícola neste bioma.

"A expansão da agricultura está relacionada ao agronegócio e a investimentos em commodities agrícolas", diz o IBGE. O estudo também aponta para a expansão da silvicultura (que é a exploração e manutenção do bioma para fins comerciais, como por exemplo o plantio de árvores com o objetivo de vender a madeira).

Em 18 anos, as áreas de silvilcultura no Cerrado cresceram 104,3%.

Caatinga

28.mai.2014 - Caatinga - Parque Nacional da Serra da Capivara (PI) - DanielDeGranville/ AcervoFundaçãoBoticario - DanielDeGranville/ AcervoFundaçãoBoticario
28.mai.2014 - Caatinga - Parque Nacional da Serra da Capivara (PI)
Imagem: DanielDeGranville/ AcervoFundaçãoBoticario

Em contraste à Floresta Amazônica e ao Cerrado, a Caatinga e a Mata Atlântica foram os biomas que registraram melhoras nos índices de perda de vegetação nativa. Isto é, as áreas desmatadas reduziram ao longo dos anos.

No caso da Caatinga, entre 2000 e 2010 a redução da vegetação nativa foi de 17,1 mil km² (média de 1.710 km² por ano); já entre 2016 e 2018, período mais recente analisado pelo IBGE, o número foi de 1,6 mil km² (média de 800 km² ao ano).

Neste bioma, o único exclusivamente brasileiro, houve grande avanço da agricultura. Apesar de ser pouco expressiva no bioma, houve aumento de 74,9% da área dedicada a este tipo de produção, em 18 anos.

Pampa

28.mai.2014 - Pampa - Rosário do Sul (RS) - Zig Koch/ AcervoFundaçãoGrupoBoticário - Zig Koch/ AcervoFundaçãoGrupoBoticário
28.mai.2014 - Pampa - Rosário do Sul (RS)
Imagem: Zig Koch/ AcervoFundaçãoGrupoBoticário

No Pampa, segundo o IBGE, houve avanço da silvicultura e a expansão das áreas agrícolas, "seguindo a tendência nacional de investimento em commodities, sobretudo soja e outros grãos". Sua vegetação natural sofreu redução de 15,6 mil km² entre 2000 e 2018.

O instituto afirma ainda que a expansão destas atividades recai em uma "importante área de recarga do Aquífero Guarani, um dos maiores e mais importantes mananciais hídricos subterrâneos do país".

Mata Atlântica

Parque da Cantareira, na zona norte de São Paulo; local é um dos pontos de encontro entre os bairros da cidade e a área da Mata Atlântica - João Lucilio/Divulgação - João Lucilio/Divulgação
Parque da Cantareira, na zona norte de São Paulo; local é um dos pontos de encontro entre os bairros da cidade e a área da Mata Atlântica
Imagem: João Lucilio/Divulgação

Apesar de ter registrado índices de melhora na sua preservação nos últimos anos, a Mata Atlântica amarga a menor área relativa de vegetação original: restam apenas 16,6% do seu tamanho natural. Silvicultura e agricultura também avançaram neste bioma nos últimos 18 anos.

O IBGE aponta que a maior desaceleração na perda de vegetação nativa ocorreu na Mata Atlântica. Entre 2000 e 2010, o bioma perdeu 8,7 mil km² de cobertura (média de 879 km² por ano). Já entre 2016 e 2018, este número caiu para 577 km² (média de 288 km² por ano).

Pantanal

Vista aérea do Pantanal, nas proximidades do rio Negro, no Mato Grosso - Luciano Candisani/CI/Divulgação - Luciano Candisani/CI/Divulgação
Vista aérea do Pantanal, nas proximidades do rio Negro, no Mato Grosso
Imagem: Luciano Candisani/CI/Divulgação

Este bioma, considerado uma das maiores extensões úmidas do mundo, também registrou avanço da pecuária. Entre 2000 e 2012, mais da metade (56,1%) das alterações do uso da terra constatadas pelo IBGE foi para pastagem com manejo.

"De forma geral, esta conversão se dá sobre as áreas naturais campestres, observando-se uma redução de 2.090 km² dessa vegetação proporcionalmente ao incremento de 2.501 km² das áreas de pastagem com manejo."

Apesar disso, segundo o IBGE, o Pantanal foi o bioma brasileiro que teve as menores perdas de vegetação natural no período de 2000 a 2018 —tanto em relação à área (-2,1 mil km²) quanto em percentual (-1,6%).