Por que Tietê não corre para o mar, como outros cursos d'água fazem

O Tietê, um dos principais corpos de água que passam pela capital paulista, vai na contramão de outros rios. Em vez de desaguar no mar, ele corre para o interior.

Por que rio vai no "sentido inverso"?

Caminho do Tietê é atípico. O rio nasce a 1.120 metros de altura, na cidade de Salesópolis (SP). A região fica situada na Serra do Mar, mas apesar de o rio estar a apenas 22 km do litoral, ele é obrigado a fluir no sentido inverso, rumo ao continente, por causa das escarpas montanhosas que funcionam como uma barreira, redirecionando o fluxo da água, segundo informações da Bacia Tietê-Paraná da Secretaria de Educação do Estado do Paraná.

Esse tipo de "caminho inverso" é conhecido oficialmente como drenagem endorreica. No caso do Tietê, ele atravessa o estado de São Paulo de sudeste a noroeste por 1.100 km até desaguar no lago da barragem de Jupiá, no rio Paraná, entre os municípios de Itapura e Castilho, próximos à divisa com Mato Grosso do Sul.

Primeira queda d'água do rio Tietê, 10 metros abaixo da sua nascente, em Salesópolis (SP)
Primeira queda d'água do rio Tietê, 10 metros abaixo da sua nascente, em Salesópolis (SP) Imagem: Juca Varella/Folhapress

Terreno influencia na capacidade do Tietê ser "autolimpante". Após seu trecho mais alto, o Tietê segue um caminho natural com quedas relativamente grandes e que contribuem para sua autodepuração, aponta a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo. A autodepuração é justamente a capacidade de um corpo d'água de se livrar de impurezas.

Na prática, ao se distanciar de São Paulo, o rio recebe progressivamente menos descargas de esgoto e possui um fluxo de água mais intenso. Com a correnteza mais forte e menos lixo, a água acaba recuperando seu ecossistema natural de fungos e bactérias que decompõem a matéria orgânica e produzem oxigênio, apontou um estudo da Universidade de São Paulo.

Oxigênio é o ponto de partida para a restauração da vida de espécies ao longo do rio. Além disso, a força das águas o torna navegável e até fonte de energia hidrelétrica em alguns pontos. Ou seja, o Tietê pode ter uma aparência bem diferente daquela da capital ou até a de sua nascente em diferentes trechos.

Rio atípico foi essencial para a colonização de São Paulo e do Brasil

Justamente porque o Tietê anda "para trás", ele facilitou que bandeirantes navegassem pelo interior do estado e em regiões vizinhas. No século 18, o Tietê se tornou uma importante rota fluvial e colaborou para a formação de cidades de São Paulo a Mato Grosso. Hoje, ele passa por 62 municípios paulistas.

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Usina Hidrelétrica no lago Jupiá, onde desagua o rio Tietê, em Castilho (SP)
Usina Hidrelétrica no lago Jupiá, onde desagua o rio Tietê, em Castilho (SP) Imagem: Divulgação/Prefeitura de Castilho

Tietê está ligado a seis sub-bacias hidrográficas nas seguintes regiões: Alto Tietê, Piracicaba, Sorocaba, Médio Tietê, Tietê/Jacaré, Tietê, Tietê/Batalha e Baixo Tietê. Ele ainda auxilia na geração de energia ao chegar às barragens de Barra Bonita, Ibitinga, Três Irmãos, Edgard de Souza, Pirapora do Bom Jesus, Anhembi, Iaras e Promissão. Até os anos 1950, o Tietê atraía ainda praticantes de esportes aquáticos graças ao seu curso.

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