Romance tóxico: polvos envenenam fêmeas no sexo para não serem devorados
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Um estudo realizado na Austrália mostrou que, para não serem devorados por suas parceiras durante e após o sexo, machos de uma espécie de polvo injetam veneno para sedar a fêmea no momento do acasalamento.
O que aconteceu
As fêmeas do polvo-de-anéis-azuis (Hapalochlaena fasciata) têm cerca de duas vezes o tamanho dos machos. A diferença de tamanho representa um risco de os machos serem devorados pela parceira.
A estratégia de envenenamento surge como um mecanismo para aumentar as chances de sobrevivência do macho durante e após o sexo. O estudo, publicado na revista Current Biology, foi realizado pela Universidade de Queensland.
A espécie utiliza a neurotoxina tetrodotoxina (TTX) tanto para caçar quanto para se defender de predadores. Segundo o estudo, os machos usam a toxina também no acasalamento, para imobilizar a fêmea, mordendo sua aorta no início da cópula. A quantidade de veneno inserida na fêmea é suficiente para paralisá-la, mas não para matá-la.
Apesar de produzir a mesma neurotoxina que os machos, as fêmeas não são imunes a seus efeitos. Ao ser injetada em seu organismo, a tetrodotoxina faz com que a respiração da fêmea diminua drasticamente, deixando-a impassível a estímulos externos. O estado de asfixia induzida faz com que as fêmeas fiquem pálidas e suas pupilas se contraiam e parem de responder a flashes de luz.
A equipe descobriu que, para os machos, o acasalamento tem uma respiração pesada —saltando de 20 a 25 vezes por minuto para 35 a 45 vezes. Enquanto isso, a respiração da fêmea desacelera e então para completamente durante a maior parte da uma hora durante a qual o macho transfere um espermatóforo [pacote de esperma] para o trato reprodutivo feminino.

Pesquisadores também identificaram que as glândulas salivares dos machos nas quais a TTX é armazenada são até três vezes maiores que as das fêmeas. Segundo os especialistas, essa diferença indica uma adaptação evolutiva que favoreceu os machos em relação às fêmeas. "Somente uma pequena quantidade de TTX é necessária para a maioria das espécies [de predadores ou presas]. A transferência do espermatóforo leva tempo e seria quase impossível de ser concluída sem sedar as fêmeas", explicou Wen-Sung Chung, líder da pesquisa publicada, ao portal IFLScience.
O acasalamento termina quando as fêmeas se recuperam o suficiente para afastar os machos. Elas exibem uma ferida aberta na aorta por três dias depois do ato. Para garantir tempo suficiente para a cópula, os machos precisam morder as parceiras com "precisão". A equipe observou um macho que errou a aorta, levando a fêmea a se recuperar em 35 minutos, em vez de uma hora.
Além de usar o veneno como estratégia para não ser devorado, o macho pode utilizar a tática para eliminar outro possível obstáculo. Segundo Chung, ao atacar e envenenar a parceira, o polvo "dispensa" a questão se a fêmea escolherá acasalar com ele ou se prefere escolher outro parceiro com quem copular. O comportamento de ataque foi observado pelos pesquisadores em laboratório. "Os machos se aproximam das fêmeas repetidamente, e elas ficam muito irritadas", relatou Chung ao IFLScience.
Há cerca de 10 espécies conhecidas como 'polvos-de-anéis-azuis'. Segundo o Australian Museum, várias dessas espécies são encontradas em águas australianas, sendo que a Hapalochlaena fasciata é a mais comum encontrada no país. "Os encontros com humanos geralmente resultam no polvo correndo rapidamente para se proteger. É somente quando o animal é pego que ele provavelmente "morde" e injeta seu veneno paralisante", explica o portal do museu. Em humanos, a toxina bloqueia os nervos e causa paralisia completa dos músculos respiratórios, enquanto "a vítima permanece totalmente consciente".

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