O que são 'árvores sustentáveis' que causaram revolta em Belém?

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No Pará, estado que abriga parte significativa da Floresta Amazônica, o governo estadual foi alvo de críticas após divulgar, em seu site oficial, a instalação de "árvores artificiais" em obras voltadas à COP30, prevista para novembro deste ano, em Belém.
O termo gerou repercussão negativa e foi rapidamente substituído por "jardins suspensos". Um dos grupos que reagiram foi o movimento COP do Povo, que reúne povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e agricultores familiares. Nas redes sociais, no fim de março, o grupo afirmou ter recebido a novidade com "incredulidade":
Em plena Amazônia, o governo do estado do Pará resolveu plantar 'árvores artificiais', para fornecer 'sombra e ventilação' aos participantes da COP30. Centenas de alternativas poderiam ser encontradas para tal tarefa, bastava consultar as comunidades tradicionais e os povos originários da região, mas isso não foi feito.
COP do Povo no Instagram
O que aconteceu
Estruturas metálicas com plantas foram apresentadas como árvores. As estruturas foram instaladas em avenidas de Belém que passam por obras de revitalização para a COP30. Inicialmente chamadas de "eco-árvores" e "árvores artificiais", as construções têm formato que remete a árvores e foram feitas com vergalhões reaproveitados de construções.
Governo alterou a nomenclatura após repercussão negativa. A publicação original da Agência Pará — ligada ao governo estadual — foi modificada após críticas. O termo "árvores artificiais" foi removido e substituído por "jardins suspensos".
Projeto busca contornar a falta de solo nas áreas de intervenção. Segundo a arquiteta Naira Carvalho, da SEOP (Secretaria de Obras Públicas do Pará), "a proposta foi inspirada em soluções urbanas de Cingapura para locais onde o plantio tradicional é inviável", desse Carvalho ao site da Agencia Pará.

Do que são feitas as árvores sustentáveis?
Estruturas metálicas recicladas e vergalhões dão sustentação às plantas. De acordo com o governo do Pará, as "árvores sustentáveis" são montadas com vergalhões reaproveitados, que seriam descartados. Eles formam a base de suportes para trepadeiras e plantas nativas.
O objetivo é criar sombra onde não há solo disponível. Em nota enviada ao UOL, a SEOP afirma que o projeto foi pensado para locais com "não disponibilidade de solo para plantio", como é o caso das avenidas Visconde de Souza Franco (Doca) e Tamandaré.
Jardins suspensos foram incluídos no projeto de paisagismo. A SEOP também informa que, além das estruturas, haverá o plantio de árvores convencionais: "O Parque Linear da Doca terá mais de 180 árvores e 80 jardins suspensos, enquanto a Avenida Tamandaré contará com mais de 70 árvores e 100 jardins suspensos."
Especialistas criticam medida
Projeto prioriza aparência em vez de soluções duradouras, dizem especialistas. Para a arquiteta e urbanista Adriana Sandre, docente da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design da Universidade de São Paulo), o uso das estruturas é uma escolha que "revela mais sobre a lógica do marketing verde do que sobre um compromisso com a adaptação aos efeitos adversos das mudanças climáticas".
Trata-se do verde cenográfico'feito para impressionar visitantes, não para melhorar a vida da população local
Adriana Sandre, docente da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design da Universidade de São Paulo)
Reflorestamento urbano real seria mais eficaz, diz climatologista. Ouvido pelo UOL, Carlos Nobre, climatologista e membro da Academia Brasileira de Ciências, destaca que a realização da COP30 na Amazônia deveria ser acompanhada de um plano robusto de restauração florestal urbana.
Era totalmente factível, com planejamento, fazer uma mega restauração urbana com centenas de espécies da biodiversidade amazônica. Árvores reais podem reduzir a temperatura, a poluição e melhorar a saúde pública. Ainda há tempo de plantar árvores de grande porte.
Carlos Nobre, climatologista e membro da Academia Brasileira de Ciências
Tempo e planejamento foram negligenciados. Adriana também observa que árvores reais exigem tempo de crescimento e vínculos com o ambiente urbano. "É a persistência de políticas públicas que preferem a aparência à substância, o imediato ao duradouro, o simulacro à natureza", afirma.
Nota completa da Secretaria de Estado de Obras Públicas (SEOP)
"A Secretaria de Estado de Obras Públicas (SEOP) esclarece que o projeto de paisagismo dos parques lineares da Doca e da Avenida Tamandaré inclui o plantio de árvores e a instalação de jardins suspensos com plantas nativas do Brasil em espaços entre as árvores. Isso possibilita a multiplicação de espaços verdes. Os jardins suspensos são estruturas feitas a partir de material reciclado com plantas vivas instaladas. O Parque Linear da Doca terá mais de 180 árvores e 80 jardins suspensos, enquanto a Avenida Tamandaré contará com mais de 70 árvores e 100 jardins suspensos".
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