Arma biológica usada após 11/9 pode ter matado 50 hipopótamos na África

Quase 50 hipopótamos morreram no Parque Nacional de Virunga, leste da República Democrática do Congo, informou um funcionário do parque à AFP, anteontem. A causa das mortes em massa foi antraz - que muitos podem se lembrar por ter vitimado norte-americanos após os ataques terroristas às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001.
Por que os animais morreram?
O antraz é uma doença causada pela bactéria formadora de esporos Bacillus anthracis. Ela sobrevive durante décadas no solo onde foram enterrados animais que também morreram de antraz ou eram portadores do microorganismo.
Os hipopótamos foram encontrados flutuando no rio Ishasha, ao sul do Lago Edward, que separa a RDC de Uganda. Por isso, o escritório local do Instituto Congolês para a Conservação da Natureza (ICCN), na província de Kivu do Norte, recomendou medidas de precaução em toda a área, entre elas evitar comer carne de animais silvestres.
Embora esta doença afete principalmente a fauna selvagem, ela representa um risco potencial de transmissão para humanos e animais domésticos. Declarou a agência que administra os parques nacionais da RDC.
Búfalos também estão entre as vítimas da bactéria, de acordo com a agência Reuters. Animais começaram a aparecer boiando ao longo do rio cinco dias antes do anúncio e, por isso, é recomendável não se aproximar dos animais ao visitar a região no momento ou ferver a água antes de beber.
Funcionários do parque têm tido dificuldades de retirar os animais mortos. Emmanuel de Merode, diretor de Virunga, disse à agência que uma equipe estava no local e tentava retirar os hipopótamos da água para enterrá-los, mas o trabalho era complexo porque não tinham escavadeiras.
Enquanto os animais estiverem expostos, o risco de contágio de outros espécimes e de humanos é maior. "É difícil devido à falta de acesso e logística. Temos os meios para limitar a propagação [da doença] ao enterrá-los com soda cáustica", explicou. Estima-se que pelo menos metade dos hipopótamos mortos esteja na água, segundo o líder da sociedade civil Thomas Kambale.
Em seres humanos, a infecção ocorre por contato da pele com os esporos, inalação ou absorção intestinal. Ela também pode levar à morte, assim como aconteceu no caso dos hipopótamos. Os primeiros sintomas acontecem entre o primeiro dia e até dois meses após contrair a doença, alerta o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA).

Entre os sinais mais comuns do antraz estão pequenas bolhas que se tornam úlceras pretas indolores na pele. No entanto, infectados podem desenvolver febre, dor no peito e fôlego curto, além de diarreia (com ou sem sangue), dores abdominais, náusea e vômito. Quem pode ter contato com animal doente, é parte de serviço militar ou socorrista pode ser vacinado contra a infecção, ou tomar doses prescritas de antibióticos, recomenda ainda o CDC.
O antraz já foi utilizado como arma biológica desde 1914. Seus casos recentes mais famosos de bioterrorismo aconteceram nos EUA em 2001, logo após o 11 de Setembro. Pelo menos cinco pessoas morreram e 17 ficaram feridas após o contato com esporos enviados pelo correio. O responsável, segundo o FBI, teria sido o biólogo Bruce Edwards Ivins, mas a conclusão do caso é controversa ainda hoje.
Apesar de a doença ser rara, ela é conhecida há bastante tempo. As primeiras descrições do antraz datam do século 18.
Hipopótamos e outros mamíferos já foram vítimas de antraz diversas vezes em Virunga e outros parques de fauna selvagem africanos. As mortes representam uma grande perda para o parque, que tem trabalhado para aumentar o número de hipopótamos nas últimas décadas.
A caça furtiva e a guerra reduziram a população de mais de 20 mil para algumas centenas em 2006. Virunga abrigaria agora cerca de 1.200 hipopótamos.
Criado em 1925, o parque é famoso por florestas densas, geleiras, vulcões, além de ter mais espécies de aves, répteis e mamíferos do que qualquer outra área protegida no mundo. Ele também está no centro de conflitos armados entre milícias que destroem o leste da RDC há 30 anos.
*Com informações da AFP
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